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Ameaças e cirurgia: Entenda a crise que fez Willian desistir do Corinthians

Arthur Sandes e Ricardo Perrone

Do UOL, em São Paulo

11/08/2022 04h00

Um ano depois do retorno, a segunda passagem de Willian pelo Corinthians termina de forma melancólica com a rescisão de contrato. Clube e atleta ainda não anunciaram o rompimento oficialmente, mas o meia já se pronunciou publicamente sobre a despedida. O principal fator que levou o camisa 10 a sair foi o impacto das ameaças de morte na rotina de sua família.

Willian deixa o Corinthians após 45 partidas, um gol marcado e seis assistências. No ano passado, ele foi um reforço importante para o time assegurar vaga na Libertadores, mas neste sofreu com lesões no momento mais importante da temporada, recebeu ameaças e decidiu voltar para a Europa para priorizar o bem-estar dos familiares. Abaixo, o UOL Esporte traça a cronologia do adeus da cria do Terrão.

R$ 90 milhões 'perdidos' em um ano

Os 12 meses de Corinthians custam a Willian cerca de R$ 90 milhões. Ele ainda tinha dois anos de contrato com o Arsenal e abriu mão de quase 11 milhões de libras em salários (em torno de R$ 67 milhões). Agora, para ir embora 14 meses antes do fim do contrato com o Alvinegro, o camisa 10 deixa de receber por volta de R$ 23 milhões. Ele só deve avaliar propostas depois de retornar à Inglaterra.

O risco da volta ao Brasil

No ano passado, Willian definiu o retorno ao futebol brasileiro após 14 temporadas na Europa. Era um desejo antigo dos pais do jogador, mas só o pai Severino pôde ver o filho atuando de novo pelo clube -a mãe Maria José faleceu em 2016.

A mudança exigiu sacrifícios da família inteira, que morava na Inglaterra há nove anos e tinha toda a vida vinculada à cidade de Londres. As filhas gêmeas estavam na escola; e a mulher, Vanessa Martins, comandava presencialmente uma agência de publicidade. Ainda assim, Willian disse estar "em casa" na volta ao Corinthians.

Minha família sabe o quanto foi difícil tomar esta decisão. Temos que pensar em tudo, em como vai ficar a situação, mas quando vi que era o Corinthians eu pensei que era isso. Alguns clubes tentaram atravessar, mas eu só queria o Corinthians."
Willian, na apresentação pelo Corinthians, em agosto de 2021

Maior reforço não engrena em campo

Willian chegou ao Corinthians como o principal nome de um quarteto de reforços, junto a Renato Augusto, Giuliano e Róger Guedes. Deu duas assistências importantes na reta final do Brasileirão de 2021, mas abriu este ano sofrendo com a inconsistência de todo o time, primeiro com o técnico Sylvinho, depois no início de Vítor Pereira.

O primeiro e único gol

No 13º jogo pelo Corinthians, ainda sem nenhum gol marcado, Willian foi presenteado pelos companheiros durante um jogo resolvido, em casa. Contra o São Bernardo, na fase de grupos do Paulistão, o batedor oficial de pênaltis Fábio Santos cedeu a bola para Róger Guedes tentar seu terceiro gol na partida, mas depois ambos concordaram em ceder a cobrança ao camisa 10. O voto de confiança rendeu a única bola na rede de Willian nesta segunda passagem pelo Alvinegro, marcado em 16 de fevereiro.

Willian comemora seu gol marcado pelo Corinthians em jogo do Paulistão, em fevereiro de 2022 - Rodrigo Coca/Agência Corinthians - Rodrigo Coca/Agência Corinthians
Willian comemora gol marcado pelo Corinthians sobre o São Bernardo, em jogo do Paulistão, em fevereiro
Imagem: Rodrigo Coca/Agência Corinthians

Má fase do Corinthians leva a ameaças

Uma ameaça de morte sofrida no começo de abril foi o primeiro passo para a saída de Willian do Corinthians. O time havia acabado de ser eliminado pelo São Paulo no Paulistão e, no jogo seguinte, estreou na Libertadores com derrota para o Always Ready, na Bolívia. Mesmo depois deste episódio, o camisa 10 fez, talvez, seu principal jogo no retorno ao Alvinegro e deu duas assistências contra o Botafogo, pelo Brasileirão.

Infelizmente, são coisas que a gente não consegue controlar, coisas que acabam nos chateando e afetando a nós jogadores e nossas famílias."
Willian, após a ameaça sofrida em abril

Apesar do Boletim de Ocorrência registrado, a família se assustou e passou a evitar sair de casa a lazer. Uma das crianças não quis mais ver os jogos na Neo Química Arena, por exemplo, e a que continuou indo preferia nem sair do camarote, por receio. Vanessa Martins chegou a desativar seus perfis nas redes sociais, mas a situação seguiu escalando até a família decidir que não queria esta vida.

As ameaças não pararam. Segundo o UOL Esporte apurou, as ameaças incluíam que a torcida sabia onde as duas filhas do jogador estudavam. Elas têm 10 anos.

Uma das publicações, em maio, defendia que "jogador de futebol tem que ser cobrado, sim, na porta de casa, no hospital, na escola das crianças, no hotel, onde for". Em junho, nova ameaça via redes sociais e novo Boletim de Ocorrência.

Elas são crianças, não jogam futebol e muito menos precisam passar por esse constrangimento na frente dos amiguinhos. Todos os profissionais do clube devem ser respeitados. É um absurdo a forma que faz estas colocações."
Vanessa Martins, mulher de Willian, em publicação nas redes sociais em maio

Estresse vira questão de saúde

A esta altura, a quase um ano desde a volta, Willian e a família já percebiam a dificuldade em se readaptar ao Brasil. Se as lesões atrapalharam o atacante em campo, no extracampo tudo foi muito pior, e a família concluiu que já não era saudável enfrentar esta situação. Em julho, antes das decisões do Corinthians nos mata-matas das Copas, o camisa 10 avisou o clube que queria sair.

Um reflexo grave de toda a situação aconteceu nesta semana mesmo. Willian teve que dividir atenções entre a preparação para enfrentar o Flamengo no Maracanã e uma cirurgia da mulher, que precisou retirar uma hérnia nos últimos dias — acredita-se que o estresse das ameaças agravou a doença.

Lesões em jogos decisivos e "aviso prévio"

No começo de julho, há cerca de um mês, Willian avisou a direção do Corinthians que não queria continuar no clube. De lá para cá, ele fez bom jogo contra o Boca Juniors, mas saiu de campo com uma lesão no ombro. Fez de tudo para se recuperar a tempo da volta, incluindo fisioterapia particular, mas teve que desfalcar o time por cinco jogos.

Quanto voltou, mais quatro jogos e novo desfalque, desta vez por problema muscular. Foi nesta época que o problema médico da esposa ficou mais grave. Ainda assim, o camisa 10 foi para a decisão no Maracanã, na última terça-feira (9), quando fez seu último jogo pelo Corinthians.

O resultado contra o Flamengo importava pouco, pois Willian estava decidido, e a família já tinha a cabeça no retorno à Inglaterra. A falta de adaptação, as ameaças e o problema de saúde minaram as forças do camisa 10 no Corinthians a ponto de ele se despedir às vésperas de um clássico.

A viagem de volta a Londres está marcada para sábado (13), mesmo dia do jogo contra o Palmeiras, pelo Brasileirão.

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