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Atacante do Inter superou doença autoimune e teve Crespo como mentor

Braian Romero foi apresentado como novo camisa 9 do Inter - Ricardo Duarte/Inter
Braian Romero foi apresentado como novo camisa 9 do Inter Imagem: Ricardo Duarte/Inter

Marinho Saldanha

Do UOL, em Porto Alegre

10/08/2022 04h00

O destino de Braian Romero poderia ser outro. O futebol só está na carreira do atacante do Internacional por insistência, por não aceitar ser vencido pelo próprio corpo. Diagnosticado com uma doença autoimune, o argentino parou por um ano, mas jamais desistiu. De volta, ele teve trajetória influenciada por Hernán Crespo, e a mudança de posição proposta pelo ex-técnico do São Paulo ocasionou a sua chegada ao Beira-Rio.

"O titular será o Romero", adiantou Mano Menezes, quando questionado sobre o jogo de amanhã (11), no Beira-Rio, contra o Melgar, do Peru, que vale vaga na semifinal da Sul-Americana. "Temos um jogador da posição, que foi contratado para isso", completou o técnico.

Tudo que aconteceu na vida do argentino de 31 anos poderia ser diferente caso ele não superasse um drama vivido em 2012. Foi quando recebeu diagnóstico de artrite reumatoide, uma doença inflamatória autoimune caracterizada pelo ataque do próprio corpo às articulações, ocasionando inchaço, rigidez e muitas dores. Quadros mais avançados da doença impedem a realização de tarefas simples, como caminhar, agachar ou escovar os dentes. Casos graves podem gerar deformidades, principalmente em dedos, joelhos e tornozelos.

Na época, Braian era jogador do Acassuso-ARG há pouco mais de um ano. Sem categorias de base, ele teve início tardio no futebol, aos 20 anos, quando ainda dividia a rotina de atleta com trabalho num comércio de verduras de sua família.

Aquele ano tinha tudo para ser o melhor da carreira, ainda em estágio inicial. Mas o veredito colocou tudo em risco.

"Meu médico disse que eu poderia não voltar a jogar, porque já havia passado muito tempo, que eu poderia até ter problemas para andar no futuro. Mas eu me abracei na fé, recebi um milagre, nasci de novo", disse ao jornal La Nación.

Braian conviva com muita dor. Durante o tratamento, que o alijou da rotina de campo por mais de um ano, ele tomava três comprimidos diários e fazia injeções semanais para conter o avanço da inflamação. Até que ele decidiu, por conta própria, interromper o tratamento. Buscou informações sobre a doença, mudou hábitos e se apoiou na fé.

"As dores não iam embora. Enquanto minha mente, minha alma, se cansavam. Decidi deixar tudo nas mãos de Deus e parei de tomar os comprimidos. Na época, meu corpo começou a melhorar", completou.

Hernán Crespo mudou sua rota

Superando a doença, Braian deixou o Acassuso com destaque. Em 2015 estava no Colón, em 2016 no Argentinos Juniors, em 2018 já atuava no Independiente. Mas nunca como centroavante.

Até então, ele sempre se posicionava aberto pelos lados do campo, marcava menos gols e abusava da velocidade que tem por característica até hoje. Desta forma estreou no futebol brasileiro em rápida passagem pelo Athletico-PR, em 2019. Foram três gols e uma assistência em 24 jogos no Furacão.

Mas sua trajetória mudou a partir da ida para o Defensa y Justicia. Lá foi comando por Hernán Crespo, que percebeu nele características para atuar mais perto do gol rival.

"O Braian foi trazido como extrema e um dia estava acompanhando um treino junto a um dirigente, alguns treinos eu gostava de ver de cima, a primeira meia hora de treino não me agradou, nos faltava ser mais agressivos. Então, desci para o campo e falei para o Braian: ''vamos fazer mais meia hora de treino e quero te ver de 9. Quero te ver tendo dois jogadores te acompanhando para te ajudar'. Provamos isso e vimos que ele nos deu o que estava faltando nos últimos metros, que era essa explosão. Perguntei se gostou, ele disse que sim", contou Crespo à ESPN da Argentina.

"Minha vida no futebol teve uma mudança quando tive a oportunidade de ser dirigido por Hernán Crespo. Nos treinamentos, ele me disse que eu tinha movimentos interessantes, e que fazê-los pela ponta era um desperdício. Então, começou a me colocar como centroavante. Nesse treinamento eu fiz três gols, e ele não me tirou mais. Me deu confiança, me ajudou muitíssimo como toda sua experiência como jogador. Foi especial o que fizemos no Defensa y Justicia, algo histórico para a Argentina, e espero fazer a mesma história aqui", disse Braian, em sua apresentação no Inter.

Foi essa mudança de posicionamento que o fez ser artilheiro da Sul-Americana de 2020, que conquistou vestindo as cores do Defensa y Justicia. Naquela temporada, considerando todas as competições, ele marcou 21 gols e deu duas assistências em 31 jogos.

No começo de 2021, um dos gols marcados foi contra o Palmeiras, na vitória do time argentino que levou a decisão do titulo da Recopa para os pênaltis. Ele não cobrou, pois acabou expulso em uma confusão no fim do jogo. Mas a taça ficou com sua equipe.

Em seguida, Romero foi para o River Plate, clube pelo qual seguiu atuando como centroavante. Foram 25 partidas com 12 gols e três assistências no ano passado. Neste ano, ele perdeu espaço, fez só três gols em 26 jogos e teve os seus direitos vendidos ao Inter após ver a concorrência aumentar com a chegada de Borja.

Romero tem duas partidas até agora pelo Colorado e a principal delas, sem dúvida, será a desta quinta. Mais uma batalha no caminho para quem já lutou tanto na carreira.

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