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Time que formou Veron leva R$ 11 mi da venda e busca novos 'Verons'

Gabriel Veron (dir.) durante passagem pela base do Santa Cruz-RN - Arquivo pessoal/Mãe do Veron
Gabriel Veron (dir.) durante passagem pela base do Santa Cruz-RN Imagem: Arquivo pessoal/Mãe do Veron

Marcello De Vico

Colaboração para o UOL, em Santos (SP)

22/07/2022 04h00

Enquanto palmeirenses contestam o valor da venda de Gabriel Veron ao Porto, de Portugal, tem quem comemore, e muito, o dinheiro que vai chegar. Clube modesto de Natal (RN), o Santa Cruz, responsável por descobrir e formar o jovem atacante, terá direito a fatia de 20% da transferência, o que lhe renderá um valor astronômico para a sua realidade: R$ 11,48 milhões.

O valor poderia ser ainda maior, mas o clube potiguar topou receber metade dos 40% que detém dos direitos econômicos do atleta em troca de compensações em vendas futuras. Em contato com o UOL Esporte, Lupércio Segundo, advogado e ex-presidente do Santa Cruz, além de representante de Veron, disse que o negócio 'ficou bom para todo mundo'.

"A conversa foi bem tranquila. Um processo natural de negociação, sem desgaste. A gente, neste momento, não podia segurar, dizer que não fazia e, de repente, atrapalhar todo um projeto dele de carreira, de pensar em ir para a Europa... Mantivemos o equilíbrio da operação, e ficou bom para todo mundo", afirma Lupércio, que viajou ontem (21) à noite para Portugal para acompanhar o desfecho do acordo.

Veron será negociado ao Porto por 10,25 milhões de euros (aproximadamente R$ 57,5 milhões na cotação atual). Ao Palmeiras, caberá 80% do valor: uma quantia de quase R$ 46 milhões.

O valor frustra a maior parte da torcida alviverde, que esperava um caminhão de dinheiro por um atacante de 19 anos e que foi apontado como o melhor sub-17 do mundo.

Clube está sem calendário e prioriza categoria de base

O time que formou Veron não joga oficialmente desde março, quando encerrou sua participação na primeira divisão do Campeonato Potiguar. Sem a Série D para disputar, algo que aconteceu em 2019, a equipe está sem calendário.

Sem salários de jogadores para pagar, o Santa Cruz-RN sabe exatamente o que fará com o dinheiro quando ele chegar.

"Vamos continuar investindo na base, em estrutura, em campos de treinamento... Acho que não podemos mudar o foco. A gente só mantém o time principal para que o clube possa continuar em atividade, mas o objetivo mesmo é a categoria de base", diz Lupércio.

Queremos melhorar os campos e os alojamentos, para poder abranger uma área maior de captação de atletas, para eles terem onde ficar... É o mais importante

Santa Cruz-RN ficou parado por mais de 30 anos

Gabriel Veron durante treino do Santa Cruz-RN - Arquivo pessoal/Mãe do Veron - Arquivo pessoal/Mãe do Veron
Gabriel Veron durante treino do Santa Cruz-RN
Imagem: Arquivo pessoal/Mãe do Veron

Campeão potiguar no longínquo ano de 1943, o Santa Cruz-RN, fundado em 1934, paralisou as atividades por mais de 30 anos. Foi somente em 2011 que o clube voltou à ativa, pouco antes da chegada de Veron às categorias de base.

"É um clube antigo que estava desativado. E quando começamos a trabalhar com futebol e vimos que a legislação caminhava para um sentido que apenas clubes teriam direitos econômicos de atletas, começamos a proteção dos nossos investimentos, do nosso trabalho, e decidimos adquirir o clube em 2011", explica.

"Atualizamos questões estatutárias, jurídicas, deixamos tudo funcionando, e aí começamos a fazer um trabalho só de categoria de base. A princípio, o objetivo não seria jogar profissional. Mas, em 2016, jogamos a segunda divisão do Estadual e fomos campeões", conta.

"Desde 2017 estamos na primeira divisão, e em 2018 ficamos no terceiro lugar do Estadual, conquistando vaga na Copa do Brasil e Série D. Ganhamos a primeira fase da Copa do Brasil contra o Tupi-MG, perdemos do Bahia na segunda [fase], e jogamos o Brasileiro [Série D]. E a gente vem mantendo esse formato, e tem dado certo. Ano passado fomos vice-campeões do turno, esse ano chegamos entre os três primeiros colocados dentro de campo...", acrescenta.

As categorias de base, porém, são, de longe, a grande prioridade do clube potiguar. "[Time principal] Não é o foco até porque, por exemplo, a média do time desse ano no Estadual era 20 anos. A gente acaba utilizando a base mesmo, e a tendência é que, melhorando a base, o nosso time principal melhore também. Uma coisa leva a outra", aposta o ex-presidente.

De Assu a Portugal

Gabriel Veron, do Palmeiras, com a camisa do Santa Cruz-RN, seu primeiro clube - Arquivo pessoal/Mãe do Veron - Arquivo pessoal/Mãe do Veron
Imagem: Arquivo pessoal/Mãe do Veron

Lupércio ainda lembra do momento em que Veron chegou ao time de Natal. "Ele passou em uma peneira em Assu, a cidade dele, com 12 para 13 anos. Ficou um tempo [dois anos] conosco e começou a se destacar... Foi quando fizemos o ajuste para ele ir para o Palmeiras [em 2017]".

E a expectativa é que, além de Veron, outros nomes passem pelo Santa Cruz-RN e ganhem o mesmo destaque da joia palmeirense.

"A gente pega muitos atletas jovens que não têm oportunidade e traz para o clube para desenvolver isso. E conseguir uma operação dessa é a concretização do nosso trabalho. É o reconhecimento, a prova de que todo esforço, trabalho e investimento feito até hoje valeu a pena e estava no caminho certo. Tem um por quê e um para quê", diz Lupércio.

"É a concretização de um sonho, de uma coisa que foi iniciada em 2011, quando a gente revitalizou o clube, que estava parado, e começou a trabalhar com categorias de base, com garotos jovens, justamente com o objetivo de encontrar algum atleta com potencial grande... E o Verón concretizou isso", complementa.

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