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Ex-VP vai à Justiça e tenta tirar presidente da CBF por gestão temerária

Ednaldo Rodrigues, presidente da CBF, entre Gustavo Feijó (E) e Marcus Vicente (D) - Thais Magalhães/CBF
Ednaldo Rodrigues, presidente da CBF, entre Gustavo Feijó (E) e Marcus Vicente (D) Imagem: Thais Magalhães/CBF

Diego Garcia e Igor Siqueira

Do UOL, no Rio de Janeiro

27/05/2022 11h05

O presidente da CBF, Ednaldo Rodrigues, é alvo de uma ação feita por Gustavo Feijó, adversário político e ex-vice da entidade. O pedido à Justiça é que o baiano seja tirado do cargo sob a justificativa de gestão temerária.

Feijó acionou a 2ª Vara Cível do Tribunal de Justiça do Rio com um pedido de liminar para que o afastamento seja imediato e que, ao fim do processo, Ednaldo fique inelegível por 10 anos. O dirigente alagoano, inclusive, diz que, por força de uma decisão judicial, ainda é vice da entidade. Mas, na prática, ele não participa da gestão atual.

O presidente da CBF está atualmente em Paris para acompanhar a final da Liga dos Campeões e participar de reuniões com a Fifa. Na petição inicial, Gustavo Feijó lista algumas situações para tentar enquadrar Ednaldo como um gestor temerário.

Vale lembrar que Feijó tentou articular candidatura à presidência da CBF, mas não conseguiu. Ele ainda batalhou judicialmente para que sua eleição como VP da CBF não fosse anulada, como resultado do Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) assinado por Ednaldo com o Ministério Público do Rio (MP-RJ) — esse movimento culminou na revalidação das regras eleitorais da CBF e a realização do pleito para preencher o mandato até 2026.

Gustavo Feijó, VP da CBF - Lucas Figueiredo/CBF - Lucas Figueiredo/CBF
Gustavo Feijó, VP da CBF
Imagem: Lucas Figueiredo/CBF

Genro na Conmebol

O primeiro fato citado é a manutenção de Gabriel Brandt, genro do atual presidente da CBF, como delegado de partidas organizadas pela Conmebol. A atuação dele é fruto de indicação da CBF. Gabriel já atuava em outras funções junto à entidade sul-americana em anos anteriores e teve seu nome levado novamente pela gestão Ednaldo. Na ação, Feijó cita que essa é "vantagem indevidamente obtida para parente em razão do cargo exercido".

Em nota, a CBF explicou que "Gabriel Brandt nunca foi funcionário da CBF e, assim como outros profissionais de todo o país, exerce a função de supervisor de imprensa em jogos de competições regionais, nacionais e internacionais desde 2013, tendo iniciado suas atividades na Copa das Confederações organizada pela Fifa no Brasil. No ano seguinte, atuou como oficial em jogos na Copa do Mundo FIFA Brasil 2014. Na ocasião, não tinha qualquer vínculo com o atual presidente em exercício da CBF".

A entidade acrescentou que "a indicação para atuar em jogos da Conmebol ocorreu em 15 janeiro de 2021, conforme ofício da Secretaria Geral da CBF número 137/2021, sendo este período anterior à posse do atual presidente da CBF, ocorrida em 25 de agosto de 2021. Essa indicação obedeceu integralmente aos critérios técnicos e de governança e conformidade estabelecidos pela entidade sul-americana, a qual o Sr. Gabriel Brandt reportou todas as informações".

A CBF acrescentou que "no momento da recondução em dezembro de 2021, o próprio Gabriel Brandt, na apresentação da documentação solicitada, informou que era genro do presidente interino da CBF. A CBF, através da Diretoria de Governança e Conformidade, encaminhou em 7 de dezembro de 2021 uma consulta formal sobre o tema à Directoria de Ética y Cumplimiento da CONMEBOL, tendo recebido confirmação expressa de que não há conflito, conforme documento recebido em 9 de dezembro 2021."

Aumento do próprio salário

Gustavo Feijó diz que Ednaldo Rodrigues aumentou o próprio salário quando se tornou presidente da CBF e afirma que isso ocorreu "sem a devida observância das regras estatutárias". "Esses reajustes elevaram significativamente os valores percebidos, havendo um salto para mais do que o dobro dos valores anteriores", acrescentou o dirigente.

Distribuição de carros

Feijó pontua também que Ednaldo fez uma "distribuição massiva às entidades filiadas componentes do colégio eleitoral [como as federações estaduais], também às vésperas da eleição e sem justificativa relevante, de veículos decorrentes de contrato estabelecido com a Fiat". A eleição que colocou Ednaldo no poder pelos próximos quatro anos aconteceu há dois meses.

Contratação do filho de presidente de federação

A ação contra Ednaldo ainda cita a contratação dos serviços médicos da clínica do filho de Zeca Xaud, presidente da Federação de Roraima. O contrato mensal assinado em dezembro de 2021 prevê pagamento de R$ 30 mil à Sax Serviços, que é de Samir Xaud. O conflito aí se daria pelo fato de Xaud ser eleitor de Ednaldo.

Sobre isso, a CBF explicou que "a contratação da clínica médica especializada foi solicitada e encaminhada pela Comissão Médica e de Combate à Dopagem da CBF, a partir da demanda regional, justificada pela escassez de recursos dos clubes para atenderem seus atletas. O intuito do projeto é dar suporte aos departamentos médicos dos times da região, aperfeiçoando e padronizando o atendimento".

A entidade acrescentou que "o contrato foi celebrado com pessoa jurídica que conta com profissionais capacitados, com conhecimento da realidade local e com histórico de colaboração à Comissão Médica, especialmente a partir da implementação dos protocolos sanitários durante a pandemia da Covid-19. Essa contratação obedeceu aos trâmites legais internos da CBF, seguindo as políticas financeira e de governança e conformidade da entidade."

Feijó ainda cita um episódio no qual a filha de Ednaldo teria sido beneficiada pela CBF pelo fornecimento de kits de cosméticos e produtos de beleza em uma ação do Outubro Rosa na entidade. Rafaela Brandt é diretora de vendas da Mary Kay. Usando uma foto postada por ela no Instagram, Feijó alega que é possível ver que o cartão anexado aos kits é o da ação realizada na CBF.

Contrato da Supercopa

O ex-vice da CBF aponta ainda que Ednaldo gerou "dano patrimonial" à CBF ao assinar, de forma retroativa, o contrato de placas publicitárias da Supercopa do Brasil 2022. De acordo com o cartola alagoano, Ednaldo optou por levar adiante um acordo que rendeu R$ 2 milhões à entidade, mesmo tendo à mesa uma proposta anterior de R$ 6 milhões, feita por outra empresa.

Outros itens

Feijó ainda acusa Ednaldo de "tomar decisões de forma arbitrária", nomear diretores para diretorias inexistentes da CBF e de não ter submetido "contratações efetivadas na sua gestão à Comissão de Finanças, Orçamento e Patrocínio" da CBF.

A CBF foi procurada para se manifestar sobre as acusações de Feijó e ainda não respondeu.