CBF e ex-diretores têm disputa por falta de pagamento de rescisão
A indisposição entre a gestão Ednaldo Rodrigues e diretores demitidos da CBF recentemente não vai parar nas protocolares notas oficiais informando o desligamento deles. A disputa está na Justiça, com processos na área trabalhista por meio dos quais há cobrança de verbas de indenização e liberação de fundo de garantia. Ao mesmo tempo, a CBF faz uma apuração interna para averiguar irregularidades na conduta dos demitidos nos respectivos departamentos.
Além disso, os ex-diretores Reynaldo Buzzoni, registro e transferências, e Fernando França, área de tecnologia e informação da CBF, questionam a demissão por terem estabilidade sindical. Fazem parte da diretoria do Sindicato dos Empregados em Clubes, Federações e Confederações Esportivas e Atletas Profissionais do Estado do Rio de Janeiro (Sindeclubes).
Em meio à disputa política que o levou à presidência da CBF em caráter definitivo, em 23 de março, Ednaldo demitiu inicialmente o diretor de patrimônio, Dino Gentille, e Edu Zebini, secretário-geral. A dupla teve atuação na Justiça para que Dino assumisse o poder, conforme uma decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ), contrariando a estratégia do baiano para ficar no cargo. Dino e Zebini, inclusive, ressaltaram que Gentille era o diretor mais velho da CBF e que não havia nomeação anterior de qualquer figura que pudesse se tornar o primeiro da fila, ao contrário do que Ednaldo deu a entender em uma reunião com as federações.
Posteriormente, já com Ednaldo eleito para um mandato de quatro anos, vieram as demissões de Buzzoni e França, além das saídas de Gilberto Ratto, do marketing, e Manoel Flores, de competições. Todos eram ligados à gestão Marco Polo Del Nero. Houve troca também no jurídico, com a saída do VP da área, Carlos Eugenio Lopes, e do diretor, Luiz Felipe Santoro, que ainda presta serviço à CBF.
Em paralelo, houve uma mudança no comando da comissão de arbitragem com a chegada de Wilson Semene. A partir daí, foram demitidos nove pessoas da equipe de arbitragem, entre coordenadores de VAR, membros da comissão de arbitragem e da ouvidoria da confederação.
A CBF não pagou verbas rescisórias aos diretores e a outros prestadores de serviços da comissão de arbitragem.
Alguns dos diretores já contrataram advogados e levaram a demanda para a Justiça do Trabalho. Tomaram a medida após a CBF não dar retorno sobre suas rescisões. A cobrança dos valores vai na linha de que, embora ocupassem cargos previstos no estatuto da CBF, eles não têm a mesma relação profissional com a entidade que o presidente e os vices — estes, embora tenham salário, ocupam cargos eletivos.
Há uma demanda também para que a CBF libere o saldo disponível no Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) e pague valores referentes a períodos anteriores de férias e aviso prévio.
Buzzoni, especificamente, teve uma decisão judicial a seu favor para que ele fosse reintegrado à diretoria, em razão da estabilidade sindical. Na terça-feira, ele foi à sede da CBF acompanhado de um oficial de Justiça para que a entidade cumprisse a medida. No entanto, ambos não foram além da recepção, já que um integrante do jurídico da CBF disse que não cumpriria a decisão naquele momento porque havia um prazo de 10 dias dado pela Justiça.
A CBF, paralelamente ao processo, designou o presidente da Federação Pernambucana de Futebol, Evandro Carvalho, que é advogado, para negociar com o representante de Buzzoni. A tentativa é mantê-lo fora da diretoria, mas achar um denominador comum em relação à indenização pela demissão. A saída de Buzzoni trouxe a reboque a dispensa da mulher dele, Laís, da secretaria da Comissão de Ética do Futebol Brasileiro, órgão que tirou Rogério Caboclo da presidência da CBF, após denúncia de assédio moral e sexual feita por uma funcionária.
Sobre as demissões e o não pagamento de verbas rescisórias, a CBF diz: "A CBF passa por uma reestruturação administrativa, processo normal em qualquer empresa privada. As exonerações de diretores e colaboradores realizadas obedeceram estrita orientação Jurídica Trabalhista. A entidade responderá a cada uma das situações, caso seja acionada por qualquer parte que se julgue no direito."
O UOL apurou que o que ocorre de fato é que há uma força-tarefa para investigar indícios de irregularidades em departamentos como marketing, competições e tecnologia. Já foram descobertos dados em contratos e gastos que indicam problemas.
Por isso, o jurídico decidiu como estratégia direcionar a discussão com os demitidos para a Justiça. No âmbito judicial, a CBF eventualmente pode processar ex-diretores e funcionários contra os quais existam indícios de irregularidades.
Os casos no setor de arbitragem têm uma situação diferente porque ainda não houve ação judicial iniciada, mas os demitidos avaliam o cenário com advogados para saber se vão levar a CBF a mais um processo. Embora não tivessem carteira assinada, o argumento desses prestadores de serviço é que havia, sim, vínculo empregatício pelo fato de eles terem crachá, receberem 13º e cumprirem a jornada de trabalho na entidade.
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