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Das vaias ao hat-trick: como Dourado recuperou espaço e recomeça no Inter

Rodrigo Dourado, do Internacional, comemora seu terceiro gol contra o 9 De Octubre pela Sul-Americana  - Pedro H. Tesch/AGIF
Rodrigo Dourado, do Internacional, comemora seu terceiro gol contra o 9 De Octubre pela Sul-Americana Imagem: Pedro H. Tesch/AGIF

Marinho Saldanha

Do UOL, em Porto Alegre

25/05/2022 04h00

Rodrigo Dourado tinha apenas 17 gols na carreira. Agora tem 20. Ontem (24), o volante de 27 anos viveu um dia de centroavante e marcou três vezes na goleada por 5 a 1 do Inter sobre o 9 de Octubre, do Equador, pela Sul-Americana. O hat-trick sucedeu vaias e simboliza o recomeço do volante no Beira-Rio.

Antes do jogo, o ambiente para Dourado foi o mesmo dos últimos compromissos. Quando seu nome foi anunciado no sistema de som do estádio vermelho na escalação do time, não foram aplausos que ecoaram na casa do Colorado, mas vaias. Até mesmo quando estava na reserva, o nome do jogador se acostumou a anteceder xingamentos e reclamações.

As cobranças refletem o tempo de clube e os momentos ruins vividos pelo Inter. Sem conquistar nenhum título desde 2016, o mais longevo atleta do grupo vermelho carrega o peso dos insucessos, pois esteve em todos eles.

Único remanescente do rebaixamento, Dourado estava na campanha do vice-campeonato da Copa do Brasil de 2019, do segundo lugar do Brasileiro de 2020, e quando as coisas não vão bem, é repetidamente lembrado sob justificativa de que o 'ciclo teria terminado'.

Mas, como é sua característica pessoal mais forte, não reagiu nos microfones, o fez no campo. Em silêncio, ganhou espaço com a comissão técnica de Mano Menezes, virou titular e brilhou fazendo algo que é comum aos atacantes, mas raro para jogadores da sua posição: gols.

"Eu entendo o que passa na cabeça do torcedor quando o resultado não aparece. Como sou um dos que tem mais tempo de clube, as vaias vem para mim e também os outros que estão há mais tempo. Jogando ou não, eu sempre trabalhei forte. Tenho a confiança dos companheiros e a nova comissão técnica me deu confiança e me botou para jogar. Confio no meu futebol e sei o que posso render. Foi uma noite abençoada pelos gols e a classificação [às oitavas de final] que é o mais importante. É seguir em frente e se Deus quiser com a torcida do meu lado", falou em entrevista coletiva.

A reconstrução de Rodrigo Dourado passou pelo apoio de colegas e familiares. Nos bastidores, ele sempre teve o reconhecimento dos companheiros, e manteve, ainda que longe dos holofotes, o status de uma das principais lideranças positivas do vestiário.

"Minha família e meus amigos ajudaram muito. Nosso grupo é muito bom e tenho grandes amigos aqui no clube. Eu fiquei em silêncio, trabalhei, larguei redes sociais e tudo que poderia me afetar. Trabalhei esperando a chance. Quando estava no banco, fui para todos os jogos, acho que não perdi nenhum. Agora estou feliz pelo meu momento, pelo momento do time, a chegada do Mano [Menezes] nos deu bom rendimento e resultados. Estamos jogando melhor e espero seguir assim por muito tempo", contou.

Mano Menezes foi outro pilar importante na retomada de Dourado. Desde sua chegada, o chefe da comissão técnica deixou claro que pretendia recuperar o marcador, que se fosse treinador de qualquer outro clube no Brasil gostaria de contar com ele, e que o acréscimo, de volta aos melhores momentos, poderia catapultar o rendimento do time.

"Os jogadores são cobrados pelas funções que têm que executar. Se entregam o que é exigido, podem acrescentar algo a mais. Mas nunca sem fazer o que é necessário para o time. O futebol não é um jogo de justiça e eu não estou aqui para criticar o torcedor. Suas paixões são soberanas e a opinião é sagrada, mesmo que às vezes seja dura. Respeitamos o que vem da arquibancada. Temos que olhar para frente, nunca para trás. O que está atrás, não podemos interferir, ficou para trás. Mas o que temos pela frente é o que vamos trabalhar com Dourado e todos os outros", declarou o técnico.

A atuação de Dourado não foi boa apenas em quesitos ofensivos. No site SofaSore, especializado em estatísticas do jogo, o meio-campista recebeu nota 9.6 pela atuação contra o 9 de Octubre. Além de ter sido eleito craque da partida pela Conmebol.

O futuro, para Dourado, deve ser de apoio. A meta é que os gols abram um novo horizonte na relação com a torcida e que as vaias tenham de vez virado aplausos, como os que recebeu ao ser substituído no segundo tempo.

"Eu acho que [as vaias] faz parte do torcedor. Antes do Mano chegar, eu tinha jogado pouco e mesmo assim era o mais cobrado. É pelo meu tempo de casa, é normal, e só jogando poderia mudar isso", disse Dourado.

"Eu espero o torcedor do meu lado e de toda a equipe. Quando estão juntos conosco, a gente é muito forte em casa e fica difícil para os outros times. Esperamos trazer eles para o nosso lado", finalizou.

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