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Fernando Henrique conta como um goleiro corintiano fez sucesso em rivais

Fernando Henrique durante treino do Fluminense - Photocamera
Fernando Henrique durante treino do Fluminense Imagem: Photocamera

Augusto Zaupa e Vanderlei Lima

Do UOL, em São Paulo

22/05/2022 04h00

Ao contrário do que alguns possam acreditar, o goleiro Fernando Henrique, que fez sucesso no Fluminense, ainda segue em atividade. Aos 38 anos e com planos para continuar em campo até os 40, o goleiro carrega uma frustração: nunca defendeu, em mais de duas décadas de carreira, o clube que ama.

"Eu sou corintiano, é o meu time de coração, time que eu aprendi a gostar, vejo jogos do Corinthians e acompanho. Mas quando uso as camisas de outros clubes, sou profissional", diz, com orgulho, Fernando Henrique, em entrevista exclusiva ao UOL Esporte.

Natural da cidade de Bauru, interior paulista, Fernando Henrique defende atualmente o Oeste. Ele recordou que, em duas oportunidades, quase fechou com o Corinthians para realizar o sonho de infância dele e da própria família. A ideia era atuar na Série B, em 2008.

"De 2006 para 2007, eu tive uma proposta para ir ao Corinthians. Em 2007, quando o Corinthians caiu [para a Segundona], também. Só que o Felipe, naquele ano foi, muito bem, mesmo caindo. O Andrés Sanchez [ex-presidente do Timão] veio conversar comigo no casamento do Carlos Alberto [ex-meia] e perguntou se eu tinha vontade de jogar no Corinthians. Eu disse que sim, tinha acertado o contrato e tudo. Fui falar com a minha mãe, e ela ficou três dias sem dormir, nervosa. Imagina, o cara do interior de São Paulo, onde praticamente todo mundo é corintiano... Imagina a pressão que ia ser? Mas não aconteceu. O Felipe continuou mesmo no Corinthians e, graças a Deus, 2007 foi um ano muito bom para mim. Fomos campeões da Copa do Brasil [pelo Fluminense]. Então, Deus sabe o que faz", recordou.

Ainda criança, quando brincava de jogar bola no interior de São Paulo, Fernando Henrique se inspirava em Ronaldo Giovanelli. Tanto, que chegou a ser comparado com o atual comentarista da TV Bandeirantes por causa de seus comportamentos dentro e fora de campo.

Fernando Henrique ao lado do ex-goleiro do Corinthians Ronaldo, em jogo na Neo Química Arena - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Fernando Henrique ao lado do ex-goleiro do Corinthians Ronaldo, em jogo na Neo Química Arena
Imagem: Arquivo pessoal

"Até hoje fazem essa comparação, por causa do estilo de defesas. Na minha época, quando o menino fazia uma defesa espalhafatosa, diziam: 'defendeu Ronaldo'. E muitos, agora, falam: 'defendeu Fernando Henrique' (risos)", conta o goleiro. "Já tive a oportunidade de falar com ele pelo rádio [em entrevista]. E já fui na Arena Corinthians com a minha esposa e tirei uma foto com ele."

Temperamento atrapalhou no Flu

Fernando Henrique começou a carreira em um gigante do futebol brasileiro. Ficou quase dez anos no Fluminense e atuou por 265 jogos oficiais. Deslumbrado pela fama e pelos encantos da cidade do Rio de Janeiro, chegou a se envolver em algumas polêmicas. Tanto que, hoje, quase quarentão, o goleiro assume que poderia ter tido um período mais longo nas Laranjeiras.

"O maior erro foi extrapolar algumas coisas, como sair, beber... Esses são erros. Pô, você está jogando no Fluminense. Imagina o cara que saiu de Bauru e vai parar no Fluminense, jogando em um dos maiores clubes do Brasil? Você fica bonito, cheiroso, vira o rei do Rio de Janeiro. E não é bem por aí. Hoje em dia, os atletas estão mais centrados no futebol, no profissionalismo, alimentação, sono. Isso faz parte de uma carreira vitoriosa", analisou.

Fernando Henrique salta para defender bola durante treinamento do Fluminense - Wallace Teixeira/Photocamera - Wallace Teixeira/Photocamera
Fernando Henrique salta para defender bola durante treinamento do Fluminense
Imagem: Wallace Teixeira/Photocamera

"Foram dez anos de Fluminense. Poderia ter sido muito mais. Se eu tivesse a cabeça de hoje, eu teria uns 400 jogos, mais ou menos, pelo clube. Também sou um cara realizado porque os melhores momentos dessa década, nos melhores momentos da história do clube, títulos como a Copa do Brasil de 2007, que o Fluminense não tinha, e até hoje é a única. A Libertadores também foi o momento mais especial. Em 2008, eu estava jogando e perdemos nos pênaltis [para LDU]. Eu fui eleito o melhor goleiro. Fomos campeões brasileiros em 2010, fui bicampeão carioca em 2002 e 2005. Eu poderia ter dado mais? Sim, poderia. Mas também conquistei títulos que o Fluminense não tinha e fiz campanhas muito boas quando o Fluminense era o time da moda no Brasil", acrescentou o goleiro, que passou ainda por Ceará, América-RN, Remo, Santo André e Brasiliense, entre outros, antes de chegar ao Oeste.

Corintiano quer palmeirense titular na Copa

Quando jovem, Fernando Henrique era presença constante na seleção brasileira sub-20. Chegou até a ser lembrado para a principal, em um amistoso em 2004. Apesar de ser corintiano assumido, ele aponta que Weverton, do Palmeiras, seria a opção ideal como goleiro titular da equipe de Tite na Copa do Mundo do Qatar, no fim deste ano.

"O Alisson é um grande goleiro, muito bom goleiro, não tem o que falar dele. Mas, na minha opinião, o Weverton é um excelente goleiro. Hoje, no Brasil, ele é top, não tem o que falar. Ele é um cara muito seguro, um cara de grupo, você vê isso. As pessoas sempre falam muito bem dele, é um cara que, quando o Palmeiras mais precisou dele, sempre esteve ali com grandes defesas. Ajudou o Palmeiras a ser campeão várias vezes, com grandes defesas difíceis. O Palmeiras, por ser uma grande equipe, sofre pouco, mas todas as vezes que sofre ele está ali para dar conta do recado. Então, na minha visão, acho que ele seria o goleiro da Copa no final do ano", analisou.

Mais trechos da entrevista com Fernando Henrique:

Jogar até os 40 anos

"Renovei o meu contrato por mais um ano e quero jogar mais um ano e meio, no máximo dois anos, e fechar [a carreira] com 40 anos. Eu tenho contrato com o Oeste de Itápolis até o final do Paulista do ano que vem, de 2023. Eu estava no Brasiliense, tinha contrato com o Brasiliense, aí rescindi amigavelmente com eles e apareceu a oportunidade de eu vir para o Oeste."

Deslizes na carreira

"Eu nem digo a noitada, mas por eu ser muito novo, eu caí em alguns erros que eu não devia ter caído, mas faz parte da vida. Tive como aprendizado e depois eu entrei no prumo e até hoje, com 38 anos e jogando, não tenho lesão, não tenho nada. Hoje eu já sei como fazer e estou jogando até agora."

Só elogios a Fábio, hoje no Flu

"O Fábio é um baita de exemplo, é um goleiro no meu modo de ver, muito bom. Ele deveria, na minha opinião, ter ido a uma Copa do Mundo há muito tempo pelo o que ele fez dentro do Cruzeiro. O que ele conquistou dentro do Cruzeiro demonstrou o que ele é capaz. Ele é um ícone, assim como o Rogério Ceni no São Paulo e Cássio no Corinthians. São goleiros que, apesar da idade, são exemplos a serem seguidos porque é impressionante o que esses caras jogam."

O polêmico Danrlei

Fernando Henrique repõe bola durante treinamento do Fluminense - Wallace Teixeira/Photocamera - Wallace Teixeira/Photocamera
Fernando Henrique repõe bola durante treinamento do Fluminense
Imagem: Wallace Teixeira/Photocamera

"Em 2004, eu era muito novo e estava na reserva do Darnlei. Ele veio como uma das maiores contratações do Fluminense e todo mundo falava do jeitão dele meio torto, mas ele é um cara sensacional. Ele teve a oportunidade de ir para o Atlético-MG na época e eu assumi o gol do Fluminense. Mas o Danrlei, para mim, era um grande goleiro também. Ele tinha o jeitão dele, é isso que as pessoas precisam entender: é um malucão do bem, como a gente fala, não era um cara mau caráter, era o jeito dele."

Renato Gaúcho na seleção

"Sou muito grato a todos [os treinadores com quem trabalhou]. O Cuca, em 2009, naquela arrancada no Brasileiro, foi sensacional [quando o Fluminense evitou o rebaixamento à Série B]. Mas eu gosto muito do Renato Gaúcho: é paizão, é engraçado. Ele tem aquele jeito de boleirão, só que é um cara muito inteligente dentro do vestiário, nos treinamentos, ele sabe ter a leitura do atleta, quando está feliz, quando está triste o que ele está precisando. Para mim, é um dos melhores do Brasil. Eu assino embaixo: depois da Copa do Qatar, entra Renato Gaúcho [no lugar de Tite]. Eu assinaria fácil. Ele tem aquele jeitão dele e os jogadores compram a ideia. Você viu quando ele assumiu o Grêmio. Ele foi muito criticado por ter levado só medalhões. Eles foram campeões da Libertadores e de outros títulos. Então, eu gosto muito do Renato Gaúcho."