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Edno, ex-Lusa, lembra aperto financeiro ao fechar com agente de estrelas

Edno celebra com companheiros da Portuguesa o título da Série B do Brasileiro de 2011, no estádio do Canindé - Fabio Braga/Folhapress
Edno celebra com companheiros da Portuguesa o título da Série B do Brasileiro de 2011, no estádio do Canindé Imagem: Fabio Braga/Folhapress

Augusto Zaupa e Vanderlei Lima

Do UOL, em São Paulo

21/05/2022 04h00

Assim como Romário e Ronaldo Fenômeno, nas décadas de 1980 e 1990, e hoje com Antony, Edno também atuou no futebol holandês. Entre 2002 e 2003, o atacante que marcou época na Portuguesa defendeu o PSV Eindhoven. No entanto, não conseguiu acumular fortuna graças a um acordo mal costurado com o superagente italiano Mino Raiola, que cuidava das carreiras de astros como Haaland e Ibrahimovic, entre outros, e morreu no início deste mês.

"Na verdade, quem ganhou dinheiro foi o Mino Raiola. Eu era jogador dele. Era como se ele me alugasse para um clube e ele tirava a maior parte [do dinheiro]. Eu pegava somente o que dava para sobreviver. A minha vida financeira começou, mesmo, quando eu voltei [ao Brasil], dei a volta por cima. Só assim as coisas foram acontecendo, da maneira que o jogador pensa, não só em termo profissional, mas em termos financeiros também", desabafou o jogador, em entrevista exclusiva ao UOL Esporte.

Edno era o grande nome da Portuguesa de 2011, aquele time que foi apelidado de Barcelusa após a campanha que terminou com o título da Série B com 81 pontos e 82 gols marcados — foram 17 pontos e 31 gols a mais que o segundo colocado, o Náutico. Antes, Edno rodou pela Europa, mas em ligas sem grande destaque, ao defender o tcheco Viktoria Plzen e o polonês Wisla Cracóvia.

"Por um lado, me ajudou, no crescimento profissional e de cultura, uma experiência de vida totalmente diferente. Cada país tem a sua cultura, a sua maneira de jogar e a sua maneira de treinar. Profissionalmente foi muito bom, mas financeiramente não foi aquilo que eu imaginava, tanto é que eu fui embora e eu tive que reconstruir a minha vida no Brasil, não em termos profissional, mas em termos financeiros. Eu fui para a Europa ainda garoto [tinha entre 18 e 19 anos] e achava que iria mudar o meu lado financeiro, mas fui numa ilusão. Se tivesse ficado no Brasil, não teria passado tanto aperto como eu tive lá. Sempre falo que eu fui com uma mão e voltei com a outra abanando (risos)", recordou.

Edno despertou o interesse do PSV Eindhoven ao se destacar no Avaí, no início dos anos 2000. À época, o time catarinense também estava em evidencia por causa de um certo tenista cabeludo e catarinense que havia conquistado três vezes o título do Grand Slam de Roland Garros (1997, 2000, 2001): Gustavo Kuerten.

Edno tenta passar pela marcação de Henrique em jogo contra o Americana (26/07/2011) - Fabio Braga/Folhapress - Fabio Braga/Folhapress
Edno, pela Lusa, tenta passar pela marcação de Henrique, em jogo contra o Americana, em julho de 2011
Imagem: Fabio Braga/Folhapress

"Foi tudo novidade. Geralmente, quem vai para um PSV sai de um São Paulo, de um Corinthians, e eu saí do Avaí, e o Avaí não era tão conhecido, não tinha essa proporção que tem hoje em dia, em que tudo é mais moderno, os clubes são mais conhecidos por causa das redes sociais. O Avaí era conhecido pelo Guga, mas não tinha esse nome que tem hoje. Foi tudo novidade, um garoto que saiu lá do interior [é natural de Lages-SC] para um grande time europeu. Morar na Europa com todas as dificuldades que eu passei na vida foi surreal", comentou.

Perto de completar 39 anos — faz aniversário em 31 de maio —, Edno diz que ainda segue na ativa.

"O meu último clube foi o Brasiliense, em 2020, até a pandemia. De lá para cá, só fiquei treinando. Como os clubes se fecharam, eu optei por estudar e fazer o curso da CBF [de treinador]. Inclusive, estou terminando o último trabalho da Licença B. Assim que concluir, vou dar entrada na Licença A", comentou, sem antes de acrescentar que está aberto para voltar a jogar. "Estou treinando, sempre me mantendo em forma. Se aparecer uma oportunidade, eu vou jogar. Mas não havendo, eu vou dar sequência nos meus estudos e, lá na frente, iniciar um trabalho de treinador, buscar o sonho de ser um grande treinador e treinar grandes equipes."

Confira outros trechos da entrevista com Edno

Carinho pela Lusa

"A Portuguesa foi muito importante, foi o clube onde eu brilhei em São Paulo. Já tinha brilhado pelo Noroeste, mas a Portuguesa é um clube da capital com mais história, mais conhecido e acabei arrebentando. Não só ficando conhecido na capital, como no país, acabei estourando nacionalmente. Foram três passagens pela Portuguesa."

Frustração no Corinthians

Edno comemora gol na vitória do Corinthians sobre o Sertãozinho - Danilo Verpa/Folha Imagem - Danilo Verpa/Folha Imagem
Edno comemora gol na vitória do Corinthians sobre o Sertãozinho
Imagem: Danilo Verpa/Folha Imagem

"Eu não tive oportunidade no Corinthians, não tive sequência. Se você pegar os scouts no Corinthians, eu nunca joguei dois jogos seguidos. Isso para um atleta é muito ruim. O atleta precisa de sequência de jogos. Se um treinador precisa de tempo para entrosar o time dele, o jogador também precisa de tempo, de jogos, de rodagem, minutagem. Eu pedi para sair na época do Corinthians, e o Mano Menezes me tirou da Libertadores. Fiquei indignado. Todos os dias o Mano me ligava, dizia que eu iria jogar e acabei não jogando. Pedi para ser emprestado, até teve uma resistência porque eu tinha acabado de chegar, mas me emprestaram e eu fui para o Botafogo, onde o papai Joel Santana me deu oportunidade de jogar, deu sequência e fui campeão Carioca em 2010. Joguei o Campeonato Brasileiro e fui o vice artilheiro do time, e o Loco Abreu foi o artilheiro do time."

Mágoa com Mano Menezes?

"Na época, sim. Mas hoje não, são coisas que passam, não voltam mais. Eu nem cheguei a trocar ideia com o Mano, e isso também já morreu. Dei sequência na minha carreira, e ele também deu sequência na carreira dele. Nunca fui um cara de guardar mágoas, rancor. Na hora a gente fica chateado porque, pô, quem é que não quer disputar uma Libertadores? Eu optei por sair da Portuguesa [em setembro de 2009] para ir ao Corinthians e acabei não indo para o Santos. Bate o arrependimento: 'pô, vim para cá, mas acho que fiz burrada, deveria ter ido para outro lado [Santos]. Mas nem tudo na nossa vida é só vitórias, nem todo o clube que você passa ou nem todo o trabalho que você faça, independente de ser jogador de futebol, você vai ter êxito. Na vida, se fosse só vencer, seria mil maravilhas, mas não. Na vida a gente tem os tropeços."

Danilo e Edno celebram gol do Corinthians diante do Coritiba (29/05/2011) - Almeida Rocha/Folha Imagem - Almeida Rocha/Folha Imagem
Danilo e Edno celebram gol do Corinthians diante do Coritiba, em maio de 2011
Imagem: Almeida Rocha/Folha Imagem

Barcelusa de 2011

"Foi um grupo que foi montado a dedo. Cheguei por empréstimo do Corinthians. No início, quando cheguei na Portuguesa, teve uma certa rejeição do torcedor porque eu tinha saído meio que brigado para ir ao Corinthians. O torcedor da Portuguesa não admite um jogador sair para um rival. Voltei e tive um pouco de resistência no início, mas, assim que comecei a jogar e fazer os gols, o time começou a embalar, assumimos a primeira colocação desde a sétima rodada, senão me engano. Subimos com três rodadas de antecedência, fomos o ataque mais positivo, fizemos 82 gols e 81 pontos. Foi um time que jogava tão bem em casa como fora de casa. Jogávamos para vencer sempre, nós perdemos só três partidas no campeonato todo. O Jorginho era o treinador."

Enfrentou Abel Ferreira e Jorge Jesus em Portugal

"O Jorge Jesus estava no Benfica, peguei o Porto com esse treinador que foi campeão agora, o Sergio Conceição, o próprio Abel Ferreira, que treinava o Braga. Era muito difícil enfrentar esses times. Você via qualidade e não é à toa que estavam sempre na parte alta da tabela. Moreirense [cidade sede do clube onde atuou] fica a 8 kms de Guimarães, onde tem o Vitória de Guimarães. Fica tudo colado ali em Guimarães. Tive essa oportunidade de jogar [contra estes treinadores de Palmeiras e ex-Flamengo]".

Invasão de portugueses no Brasil

"O futebol é aberto para todo mundo, não tem raça, não tem nacionalidade, assim como a gente vai para fora. Eu fui para o México, Japão, Holanda... Da mesma forma que você vai para fora, os estrangeiros também podem vir para cá, por que não? Cada um tem o seu espaço, tem o seu momento. O treinador que tem competência vai fazer sucesso da mesma maneira se a gente for para fora como treinador, como jogador. Se tiver competência, capacidade, e enfrentar a dificuldade que tem, com certeza, vai fazer sucesso. Os portugueses vieram e estão mostrando que têm capacidade, estão fazendo ótimos trabalhos, tanto o Jorge Jesus como o Abel Ferreira, o Vitor Pereira [no Corinthians]. Tem o argentino do Fortaleza [Juan Pablo Vojvoda], o próprio Turco [Antonio Ricardo Mohamed] no Atlético-MG. Então, não são só os portugueses, outros treinadores também estão fazendo e demonstrando capacidade."