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Ex-dirigente do Inter lembra negociação com Adriano e 'carona' a reforços

Newton Drummond com faixas de títulos conquistados como dirigente do Inter - Matheus Pé/ MS + Sports/Divulgação
Newton Drummond com faixas de títulos conquistados como dirigente do Inter Imagem: Matheus Pé/ MS + Sports/Divulgação

Marinho Saldanha

Do UOL, em Porto Alegre

19/05/2022 04h00

Uma figura presente em praticamente todos os departamentos de futebol dos clubes hoje em dia é o diretor executivo. Mas nem sempre foi assim. Quando Newton Drummond trabalhou no Internacional, era preciso vencer as barreiras contra a 'nova função', que mirava profissionalizar o departamento.

Anos mais tarde, ele olha para trás e lembra de feitos pelo time gaúcho. Chumbinho, como é conhecido, fez parte da direção colorada nos maiores títulos da história centenária do clube. Foram duas Libertadores, duas Recopas, Sul-Americana, entre outras conquistas. Além, é claro, do Mundial de Clubes, a mais importante de todas.

Em entrevista ao UOL Esporte, ele lembrou de quando negociou com Adriano, sobre a relação nos bastidores com Dunga e da época em que recepcionava os reforços do time e dava 'carona' no seu carro particular.

"Me considero um dos pioneiros, sim. Antes do executivo, tivemos profissionais que trabalhavam dentro do clube, mas não com a função específica do futebol. Era de supervisão, logística, contratos, mas não o futebol em si. Eu sou um dos fundadores da ABEX (Associação Brasileira de Executivos de Futebol), e faço parte de um grupo de profissionais que iniciaram esta função", contou.

Da base ao principal superando barreiras

Newton Drummond no Beira-Rio antes de partir para o Mundial de Clubes com o Inter - Reprodução/Instagram - Reprodução/Instagram
Imagem: Reprodução/Instagram

Antes de ser executivo, Chumbinho fazia no Inter um papel mais político. Desde os anos 1990, prestou serviços às categorias de base, de onde carrega o orgulho de ter passado pela formação de jogadores importantes nos anos seguintes para o Inter.

"Eu vim da base do Inter, trabalhei como diretor estatutário, comecei em 1996. Lá, a gente começou a reestruturar a base do Inter e isso deu frutos no início dos anos 2000. Daniel Carvalho, Rafael Sóbis, Lúcio, um pouco antes, Diego, Diogo, Nilmar, Chiquinho... Vários jogadores se destacaram tanto quanto grandes contratações", disse.

"As barreiras são conhecidas. No futebol do passado, não existia essa função nos clubes. O espaço era ocupado por conselheiros, sócios, que faziam a política do clube e não eram remunerados. Foi uma barreira difícil de quebrar, porque muitos achavam que a figura do executivo era um custo desnecessário", explicou.

Índio, Adriano Imperador, Dunga e 'caronas' no Inter

Adriano Imperador pelo Flamengo - LatinContent via Getty Images - LatinContent via Getty Images
Imagem: LatinContent via Getty Images

A posição de executivo de futebol do Inter, ocupada entre 2002 e 2011, de forma ininterrupta, carrega boas histórias. Índio, que foi uma contratação marcante, a negociação por Adriano Imperador, 'caronas' a jogadores e a relação nos bastidores com Dunga.

"Eu gosto de referir uma contratação simples, direta, que falei diretamente com o jogador, sem procurador, por telefone, e não teve muito contraproposta, pedidos, nada, foi tudo muito objetivo. Foi a contratação do Índio. Sempre cito ela porque foi simples na negociação, e ele se tornou um dos maiores zagueiros da história do Internacional", contou.

"Em 2013, nos chegou a informação de que o Adriano estava querendo retomar sua carreira depois de uma lesão séria no tendão de Aquiles. Ele foi oferecido ao Inter, e o Dunga tinha trabalhado com ele na seleção e solicitou que tentássemos o acerto. Não deu certo. Houve uma discussão importante com posturas antagônicas no departamento médico. Era um jogador de impacto mundial, com nome e sobrenome escritos na história do futebol mundial. Não queríamos correr o risco de daqui a pouco ele vir e as coisas não andarem como deveriam. Além da posição médica, havia a questão financeira. Era um jogador de custo alto. No final, a direção — e minha posição era essa — entendeu que não valia a pena correr o risco de trazer um jogador deste quilate, dessa importância, e ele não render o que se espera", revelou sobre o Imperador.

"O Dunga tem uma característica pessoal, uma firmeza de posicionamento, uma forma muito direta de se manifestar. Isso cria, para quem fica de longe, uma imagem de que as coisas não são muito fáceis de tratar com ele. Quando ele não gosta de algo, demonstra isso claramente, todo mundo sabe. É a maneira dele ser, isso tem que ser respeitado, cada um tem seu jeito. Isso torna a relação, digamos, difícil para saber a hora de falar com o treinador. Se vive num ambiente competitivo, de vitórias e derrotas, de escolhas, e é preciso saber o momento certo de conversar com o técnico. Com um treinador com essa característica, é preciso ter este cuidado. A questão da personalidade e da forma de agir tem uma influência numa relação, digamos, mais light, ou mais preto no branco, isso ou aquilo, sem muita conversa. O Dunga, quando não gosta de algo, não é de muitos sorrisos, e essa é a maneira de ser dele. Profissionalmente, nunca houve problema", explicou.

"Com Pato Abbondanzieri (ex-Boca Juniors), D'Alessandro, Tinga quando voltou, todos os jogadores que chegavam ao Inter, eu era responsável por fazer a recepção no aeroporto, buscar e levar ao clube para assinar contrato e coisas do gênero. Normalmente fazia isso no meu carro. A torcida sempre respeitou, nunca houve nenhum dano maior. Eles batiam no vidro, cantavam as músicas da torcida homenageando os jogadores que chegavam, mas nunca teve prejuízo ao meu patrimônio. Eu tinha que ter o cuidado de não atropelar ninguém", brincou.

"E ainda tinha a questão das malas dos jogadores. Quando eles chegavam, sempre carregavam ao menos duas malas e eu tinha que rapidamente pegar e passar para alguém de confiança para que não acontecesse de sumir alguma bagagem", completou.

"Sempre procuro deixar um legado"

Newton Drummond, executivo de futebol com passagem pelo Inter - Matheus Pé/ MS + Sports/Divulgação - Matheus Pé/ MS + Sports/Divulgação
Imagem: Matheus Pé/ MS + Sports/Divulgação

Newton Drummond assumiu seu cargo no Inter em um momento complicado. O Colorado não gozava do status que teve logo em seguida. Com Chumbinho na direção, virou o 'campeão de tudo', atingindo feitos relevantes no cenário mundial.

"Costumo dizer que reconstruímos o Inter. O clube vinha num momento difícil, depois dos três títulos nacionais, sendo um invicto, dos anos 1970, estava numa posição intermediária no futebol brasileiro. Não era o grande Internacional, que entrava nos campeonatos para concorrer aos títulos. O grande feito foi reconstruir o Inter, reestruturar o clube para as grandes vitórias. O Mundial [de 2006] até foi bastante precoce no tempo, mas baseado numa organização de trabalho, em avanços tecnológicos importantes, no conceito de futebol e perfil de equipe e trabalho. Foi o grande e principal fato dessa passagem no Inter", contou.

Depois do Colorado, ele trabalhou no Vitória, Chapecoense, Criciúma, Vasco e Coritiba. E um objetivo une todos os lugares por onde passou: o objetivo de deixar um legado para o futuro do clube.

"Tive passagens relevantes e me senti orgulhoso de trabalhar nos clubes por onde passei. Sempre gosto de deixar um legado, algo que o clube aproveite para o futuro, aconteceu em vários deles", referiu.

O futuro aponta para um novo desafio. Chumbinho espera oportunidades no mercado da bola, impulsionado pela chegada das SAF's no futebol brasileiro.

"Quero voltar a trabalhar em clube. Procuro sempre me atualizar e estou à disposição. Agora temos as SAF's, que é um fato novo, que alguns clubes já aderiram e outros estão buscando se habilitar para isso. É um novo momento do futebol brasileiro, uma transição, que tenho certeza que irá valorizar a figura do executivo de futebol, pois busca uma estrutura de departamento totalmente profissional e com objetivos claros de desempenho técnico e financeiro. Estou preparado e trabalhando, me atualizando, para, no momento adequado e certo, poder assumir a pasta de um grande clube brasileiro", finalizou.

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