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Aos 10, irmão de Danilo já se destaca no Bahia, que tenta não repetir erro

Mirtis Matsuura / #click_mirtis
Imagem: Mirtis Matsuura / #click_mirtis

Aurelio Nunes

Colaboração para o UOL, em Salvador

15/05/2022 04h00

A convocação de Danilo para a seleção brasileira, nesta semana, antecipou a festa pelo aniversário de 56 anos do gráfico Lourival Oliveira, completados ontem (14). "O Tite me deu um presente na manhã de quarta-feira (11), e o Danilo me deu outro à noite", disse o pai do jogador do Palmeiras, referindo-se ao gol anotado pelo volante na vitória por 2 a 1 sobre o Juazeirense, que ajudou na classificação do Alviverde às oitavas de final da Copa do Brasil.

De sua casa nova, comprada por Danilo em um condomínio fechado da região metropolitana de Salvador (BA), Lourival disse ter atendido mais de 500 ligações de parabéns pelo feito do primogênito, a maioria dos antigos vizinhos do bairro de Fazenda Coutos III, onde vivia. E, enquanto o filho mais velho está apenas começando a promissora carreira no futebol profissional, seu Lourival prepara o caçula para seguir no mesmo caminho: Jonatan, de 10 anos, é destaque da equipe sub-11 do Bahia.

Desde o ano passado, repousa sobre a coxa direita de Danilo uma tatuagem que reproduz a foto de sua mãe, Marlene, ao lado do pai e do irmão, vestidos com a camisa do Palmeiras, e a inscrição "Tudo por eles".

Volante Danilo, do Palmeiras, mostra tatuagem na coxa que fez em homenagem à família - TV Palmeiras/Reprodução - TV Palmeiras/Reprodução
Volante Danilo, do Palmeiras, mostra tatuagem na coxa que fez em homenagem à família
Imagem: TV Palmeiras/Reprodução

Jonatan foi artilheiro da DaniCup, competição internacional disputada em abril em Salvador. O Bahia ficou apenas em quarto lugar, mas o irmão de Danilo foi o artilheiro da competição, com 14 gols. Mais do que uma promessa, Jonatan é visto no clube tricolor como a oportunidade de reparar um erro que causou um prejuízo milionário.

Manassés - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
Empresário Marcos Antônio Novais, mais conhecido na Bahia como Manassés
Imagem: Arquivo Pessoal

Ao dispensar Danilo em 2017, o Bahia perdeu a chance de negociar diretamente a transferência para o Palmeiras e também abriu mão do direito de clube formador do jogador, que garante 5% do valor de qualquer transação futura. Este direito pertence agora ao Palmeiras, que ainda detém 80% dos direitos federativos dele. Os 20% restantes estão sob o controle do FC Cajazeiras, clube de propriedade do empresário Marcos Antônio Novais, mais conhecido na Bahia pela alcunha de Manassés, nome bíblico da instituição social que atua no tratamento de dependentes químicos e também com o qual elegeu-se deputado estadual em 2014 e perdeu a eleição para deputado federal em 2018.

"A convocação do Danilo valorizou muito o passe dele. Falam em 30 milhões de euros agora, mas eu acho que se ele for para a Copa do Mundo o Palmeiras pode vendê-lo por 45 milhões de euros no final do ano. E eu não estou com pressa", disse Manassés.

No meio futebolístico ele é conhecido há 30 anos pelo apelido Alemão. Entrou no ramo para agenciar os dois filhos, o volante Felipe e o atacante Igor, que jogaram no Avaí e no exterior (Felipe, para o futebol russo, e Igor, para a Espanha). Depois fundou a Onsoccer Brazil, empresa que há 30 anos agencia carreira de atletas como Edilson (Grêmio) e João Paulo (América-MG) e a gestão de clubes de futebol, como o FC Cajazeiras, clube por onde Danilo fez seu primeiro contrato de jogador profissional, aos 16 anos, disputando a segunda divisão do Campeonato Baiano.

"A verdade é que o Danilo tinha sido dispensado pelo Bahia e pela Jacuipense e estava treinando no nosso projeto social. Meu filho Igor viu, gostou, me indicou, eu aprovei e a partir daí nós fizemos um trabalho individualizado com ele de preparação física, psicológica e nutricional. Só depois que ele estava pronto a gente levou para o João Paulo Sampaio (coordenador da base do Palmeiras). Ele foi aprovado na hora", comentou Manassés.

Há quem diga, entretanto, que Danilo já era um fenômeno muito antes disso. "Danilo chegou à escolinha aos quatro anos de idade por insistência do pai dele, mesmo sabendo que a gente só aceitava crianças a partir dos sete. Quando ele fez sete anos, já jogava no sub-11 e no sub-13 como titular. Levamos ele pra fazer teste no Bahia, e só depois que ele passou a gente disse que ele não tinha os 8 anos completos que era a idade mínima exigida pelo clube", disse Ailson Pereira, que o acolheu no projeto social Futebol Aberto, em Fazenda Coutos.

Danilo aos 8 anos em projeto na Bahia - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
Danilo aos 8 anos em projeto na Bahia
Imagem: Arquivo Pessoal

Danilo passou dois oito aos 16 anos no Bahia. Segundo o pai de Danilo, a dispensa ocorreu no início do ano de 2017 e foi comunicada por telefone pelo técnico da equipe Sub-15, Luciano Moura. "Ele me ligou e disse apenas que o Danilo estava na lista de dispensas e que a decisão tinha vindo de cima. Depois de uns meses, foi trabalhar no Vitória, procurou a gente, mas nem eu nem o Danilo quisemos conversa com ele", relatou.

A reportagem do UOL Esporte entrou em contato com o treinador Luciano Moura, que não atendeu à ligação, nem retornou as mensagens de texto. A reportagem também entrou em contato com os dois últimos coordenadores das categorias de base do Bahia, mas ambos alegam que não participaram do processo decisório que culminou com a dispensa de Danilo.

Paulo Ricardo disse que ficou no cargo até fevereiro de 2017, mas que não teve qualquer participação na decisão. Marcelo Lima alegou ter chegado em junho de 2017, quando Danilo já tinha saído. O atual coordenador de iniciação do clube, Daniel Brugni disse que só chegou em 2018. "O que aconteceu com Danilo no Bahia é algo muito comum no futebol. A avaliação depende muito do momento que o atleta atravessa e da subjetividade do olhar de quem avalia seu trabalho. O Cafu é o exemplo mais falado das peneiras, foi recusado em várias. Mas a trajetória do Danilo prova que a decisão [do Bahia, em dispensá-lo] foi equivocada", afirmou Brugni

Para evitar repetir com Jonatan o erro cometido com Danilo, Brugni diz que o Bahia confia na boa relação com a família do jogador. Ele acredita que o parentesco famoso "ajuda no aprendizado de Jonatan", mas admite que também pode atrair, além da atenção, o assédio de clubes e de empresários que aproveitam o fato de a legislação proibir qualquer tipo de vínculo formal entre clube e atleta antes dos 16 anos de idade. "O Bahia tem o selo de clube formador da CBF e participa do Movimento dos Clubes Formadores que tem regras que punem esse tipo de assédio", afirmou.

Lourival Oliveira é torcedor do Bahia. Ele diz seu filho caçula já despertou o interesse do Santos, do Flamengo e do próprio Palmeiras, mas que seu time de coração não precisa se preocupar. Pelo menos por enquanto. "Tá muito cedo. O Danilo saiu de casa com 16 e o Jonatan vai ficar com a gente pelo menos até os 15 anos", comentou.

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