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SPFC: Ex-meia chileno recorda quando chegou de helicóptero: 'tive vergonha'

Meia chileno Sierra durante treino do São Paulo, em setembro de 1994 - Edu Garcia / AE
Meia chileno Sierra durante treino do São Paulo, em setembro de 1994 Imagem: Edu Garcia / AE

Augusto Zaupa e Vanderlei Lima

Do UOL, em São Paulo

14/05/2022 04h00

Classificação e Jogos

Sob o comando de Telê Santana, o São Paulo foi campeão mundial e da Copa Libertadores em 1992 e 1993. Então, quando veio a final da Libertadores de 1994 e o Tricolor perdeu, nos pênaltis, para o Vélez Sarsfield, era hora de reformulação. Raí tinha deixado o time um ano antes, o novo camisa 10, Leonardo, já estava no futebol japonês e era necessário encontrar um novo armador. Foi então que chegou José Luis Sierra, um meia chileno que desembarcou de helicóptero no meio do gramado do estádio do Morumbi.

"Tive vergonha", admite o ex-jogador.

Sierra havia se destacado em jogos pelo Unión Española justamente diante da equipe paulista. No segundo duelo pelas quartas de final da Libertadores de 1994, mais de 100 mil torcedores presentes no Morumbi viram o Tricolor vencer por 4 a 3 e ficar com a vaga, mas também uma grande atuação do chileno, que fez um dos gols dos visitantes. A diretoria são-paulina, então, pagou US$ 1,2 milhão para tirar o atleta de 26 anos do clube de Santiago (CHI).

O episódio do helicóptero (que você pode ver no vídeo acima, uma reportagem do Globo Esporte de setembro de 1994) aconteceu logo em sua chegada ao Brasil. "Lembro que explicaram, quando o meu voo que chegou em São Paulo, que foi muito tarde, que o trânsito era muito intenso e havia muito congestionamento. Disseram que a melhor forma para me levar ao Morumbi seria de helicóptero. Para mim, foi algo esquisito, eu não esperava, nunca fui de um perfil assim, eu prefiro no chão mesmo (risos)", recordou Sierra, em entrevista ao UOL Esporte.

"Chegar no São Paulo de helicóptero é coisa de cinema. Um helicóptero aterrissar no estádio com um jogador é um pouco de ostentação. E me senti um pouco envergonhado pela situação. Para mim, foi um momento difícil, muito diferente (risos)", completou. Atualmente, aos 53 anos, ele é treinador do Al-Tai, da Arábia Saudita.

A chegada "de cinema", a sublime apresentação diante de mais de 100 mil são-paulinos e um time em busca de um camisa 10 levaram imprensa e torcida a se empolgarem. Sierra chegara para suprir a saída do ídolo Raí, vendido para o PSG no ano anterior. Mas não foi bem isso que aconteceu.

"Não, não poderia [ser o substituto de Raí]. Primeiro, pela categoria do jogador que era o Raí. Ele tinha conquistado títulos pelo São Paulo, havia sido campeão com a seleção brasileira na Copa do Mundo de 94. Não creio que foi a intenção do clube, e eu também não me sentia um substituto do Raí. Era um sonho jogar no São Paulo, porque sabia da categoria que tinha o time, os jogadores. Queria demonstrar que poderia jogar no São Paulo", comentou.

O ex-meia deixou o Tricolor após 43 jogos e três gols, sem causar muito impacto. "Lamento muito porque não joguei no São Paulo aquilo que eu esperava. No primeiro ano, quando cheguei, estava lesionado, tive três recaídas com lesões musculares e aquilo me custou muito. No Brasil se joga muito e para quem vem de fora, principalmente, isso afeta. Jogava de domingo a domingo, isso me custou muito na adaptação e o rendimento não foi o ideal", lamentou.

Outros trechos da entrevista com Sierra:

Chamou a atenção pelo Unión Española

"Na Libertadores de 94, jogamos as quartas de final contra o São Paulo, que vinha como bicampeão da Libertadores e bicampeão do mundo. Antes, nas oitavas, nós eliminamos o Cruzeiro. Fiz uma grande partida e já tinha jogado pela seleção chilena na Copa América de 1993 [no Equador], inclusive contra o Brasil, quando marquei um gol [Chile 3x2 Brasil, pela fase de grupos]."

Trabalhar com Telê Santana

"Trabalhar com o Telê Santana foi um sonho e compartilhar o vestiário com jogadores que até então só tinha os vistos pela televisão, no Mundial de 1994, nos Estados Unidos, também. O Telê Santana, no meu ponto de vista, foi um tremendo treinador. Ele tinha enorme qualidade em escalar os melhores jogadores por setor, sempre trabalhava como queria que a sua equipe jogasse."

Elogios ao ex-colega Rogério Ceni

"Agora, o São Paulo tem o Rogério Ceni, que foi meu companheiro no São Paulo e está indo muito bem nos primeiros jogos da Sul-Americana [com três vitórias e um empate]. Falar do trabalho do Rogério Ceni é difícil, vejo mais os resultados. Ele tem uma carreira bonita como jogador e como treinador foi muito bem no Fortaleza. Teve a possibilidade de ir para o São Paulo, mas antes foi para o Flamengo. Guardo muito carinho de quando fomos companheiros e tivemos uma boa relação."

Atlético-MG na ponta

"Pelo que tenho visto, o time que mais eu gosto é o Atlético-MG, que foi muito bem com o treinador anterior [Cuca]. Mas lamentavelmente não conseguiu ganhar a Libertadores, mas ganhou o Campeonato Brasileiro e tem o chileno Eduardo Vargas. O Atlético- MG é para mim uma equipe, junto com o Flamengo e o Palmeiras, que estão jogando melhor."

Brasil ainda no topo

"O Brasil é o top, número um da América do Sul. Fez a final da Copa Libertadores, entre Palmeiras e Flamengo, e a final da Sul-Americana, entre Red Bull Bragantino e Athletico-PR. São quatro equipes brasileiras nas competições mais importantes da América do Sul. O Brasil é melhor que o resto. Na Argentina, um clube [que poderia bater de frente] seria o River Plate, o Boca Juniors um pouco. Mas a diferença é muito grande. Agora, a nível mundial, logicamente está entre as melhores seleções e vai ser sempre uma referência. Nós vimos Liverpool e Villarreal [pelas semifinais da Liga dos Campeões da Europa] e lá estavam Alisson, Fabinho, Roberto Firmino... O último campeão da Champion League [Chelsea] tinha o Thiago Silva. Toda equipe grande na Europa tem um jogador brasileiro. Não é de agora que essa geração é diferenciada, já tinha Ronaldo Fenômeno, Ronaldinho Gaúcho... Aqui no mundo árabe tem muitos jogadores brasileiros, por que? Porque rende, tem um bom nível, bom de conviver, são confiáveis e isso é muito importante. O Brasil está muito acima dos demais."

Neymar será o melhor da Copa de 2022

"Eu creio que o Neymar pode ser o que ele quiser, ele tem condições e uma qualidade incrível. Então, acredito que, se ele se propuser a isso, ele pode ser o melhor jogador desta Copa do Mundo. Hoje, ele está no Top 3. Depende dele, porque ele tem totais condições. Ele já demonstrou que, quando ele quer, ele pode sim levar a seleção brasileira, sem nenhum problema."

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