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Flamengo, Palmeiras e Corinthians goleiam rivais nas receitas comerciais

João Gomes, do Flamengo, e Renato Augusto, do Corinthians disputam bola - Thiago Ribeiro/AGIF
João Gomes, do Flamengo, e Renato Augusto, do Corinthians disputam bola Imagem: Thiago Ribeiro/AGIF

Igor Siqueira

Do UOL, no Rio de Janeiro

12/05/2022 04h00

Patrocínio de camisa, por si só, não enche os cofres. Em um ambiente que vai além da exposição estática das marcas parceiras, Flamengo, Palmeiras e Corinthians lideraram, com distância, a lista de maiores arrecadações com as chamadas receitas comerciais em 2021. O trio embolsou, ao todo, R$ 570 milhões. Considerando o montante total de R$ 1,074 bilhão contabilizado pelos balanços financeiros dos principais clubes do Brasil, isso representa 53% do bolo.

Olhando para o volume de recursos gerados, as receitas comerciais representam 15% de R$ 7 bilhões arrecadados pelos clubes no ano passado — o Red Bull Bragantino não entra na conta porque não detalha a origem do dinheiro. Essa linha é formada pela verba oriunda de patrocínios, royalties de produtos licenciados, lojas, mídias digitais, vendas de camisas, publicidade, entre outros.

Os dados compilados pela consultoria Ernst & Young (EY) apontam uma temporada na qual o Flamengo, por uma diferença pequena, ultrapassou o Palmeiras, ao mesmo tempo em que houve crescimento significativo do Corinthians em relação a 2020. O rubro-negro fechou o ano com R$ 202 milhões de receita nesse item, enquanto o Palmeiras teve em R$ 200 milhões. Já o Corinthians atingiu R$ 168 milhões, superando com folgas os R$ 89 milhões do ano anterior.

"Talvez esse seja o lugar correto do Corinthians, próximo a Flamengo e Palmeiras, se você olhar abrangência, tamanho de torcida e, principalmente, onde está localizado. O Corinthians já deveria estar ali em termos de receitas comerciais há algum tempo. A diferença é que o Corinthians, quando se olha para a performance esportiva, não teve títulos", comentou Gustavo Hazan, gerente da área de esportes da EY no Brasil.

O crescimento do Corinthians não é um fato isolado. O clube conseguiu ir bem numa onda de recuperação posterior ao colapso da pandemia, quando o futebol parou e vários clubes tiveram contratos de patrocínios suspensos. Os integrantes do relatório da EY arrecadaram R$ 677 milhões com receitas comerciais em 2020, contrastando com o bilhão de 2021.

No balanço, o Corinthians separa o valor que arrecadou em R$ 126,3 milhões com patrocínios e publicidades, enquanto R$ 41,6 milhões tiveram como origem licenciamento e explorações comerciais. Em janeiro, a diretoria já tinha ressaltado o desempenho no âmbito comercial na temporada passada.

"Geramos uma receita nova muito grande de patrocínio e licenciamento, em um ano de pandemia e recessão econômica. Mesmo assim, conseguimos trazer receita nova. Uma das grandes realizações foi uma mudança cultural, deixar de ver a empresa como uma ocupadora de espaço e ver como parceiro, que viabiliza o planejamento do clube", disse na ocasião o superintendente de marketing do Corinthians, José Colagrossi.

Esse espírito de fugir da mera exposição da marca tem sido uma tendência compreendida pelos clubes e uma necessidade muito bem aceita pelas marcas, por mais que isso demande um investimento maior por parte delas.

"Os clubes estão estruturando o chamado data lake (lago de dados). Eles sabem se uma pessoa x consome camisa tal, bilhete tal. Então os clubes começam a monetizar esse torcedor de forma correta. O que adianta ter tantos milhões de torcedores se o clube não sabe quem ele é? Isso tudo é muito mais do que apenas colocar a publicidade na camisa", acrescentou Gustavo Hazan.

O novo universo que começou a ser explorado envolve, por exemplo, a entrada no mercado de fan tokens e ativos digitais. Esses contratos geram um valor mínimo pago aos clubes. Palmeiras e Flamengo ressaltaram esses movimentos nas notas explicativas dos balanços.

No caso rubro-negro, o clube diz ter negociado contratos de patrocínio e licenciamento com valores "mais relevantes que os anteriores". Um dos acordos envolveu a ampliação do contrato com a Adidas. Isso ajudou a impulsionar para R$ 160 milhões a linha de publicidade e patrocínios, enquanto licenciamento e royalties trouxeram R$ 42 milhões ao clube. A comparação com os rivais do Rio expõe o quanto o Fla é dominante.

"Quando você olha para o Rio de Janeiro, o Flamengo gerou 2,5 vezes mais do que Fluminense, Botafogo e Vasco juntos", sublinha Hazan.

O Palmeiras, especificamente, tem uma parceria de longa data com a Crefisa, em uma relação que catapultou Leila Pereira à presidência do clube neste ano. Mas o clube paulista ainda registrou na rubrica de publicidade e patrocínios o valor referente à rescisão unilateral do contrato com a Turner pelos direitos de transmissão do Brasileirão em TV fechada.

Em 2020, o Palmeiras arrecadou R$ 120,8 milhões com publicidade e patrocínio. O valor saltou para R$ 184,6 milhões em 2021, que se somaram aos R$ 14 milhões com licenciamento de produtos e franquias.

A EY contabiliza que os clubes da elite nacional geraram R$ 3,9 bilhões em receitas comerciais nos últimos cinco anos — 47% delas ficaram com Palmeiras (18%), Flamengo (16%) e Corinthians (13%). Em 2021, os perseguidores mais próximos do trio foram Grêmio e São Paulo. Campeão brasileiro, o Atlético-MG também tenta crescer nesse item.

"O Grêmio, por exemplo, não é um clube com a mesma abrangência que Flamengo e Corinthians, não está em um estado com o mesmo Produto Interno Bruto (PIB), isso desfavorece. Tem menos torcida, um poder de compra menor, menor capacidade de geração de receita comercial. Os clubes que têm muito a fazer, por exemplo, são Vasco e São Paulo, que estão muito lá trás", avalia Gustavo Hazan.