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Conselho do Santos aprova as contas do primeiro ano de Rueda; veja detalhes

Andres Rueda, presidente do Santos - Ivan Storti/SFC
Andres Rueda, presidente do Santos Imagem: Ivan Storti/SFC

Lucas Musetti Perazolli

Colaboração para o UOL, em Santos (SP)

27/04/2022 21h09

O Conselho Deliberativo do Santos aprovou o balanço financeiro de 2021, o primeiro ano da gestão de Andres Rueda. Auxiliado por receitas de 2020, o clube teve superávit de R$ 43.935.140,00

O Conselho Fiscal recomendou a aprovação, que ocorreu por ampla maioria em reunião hoje (27) à noite, na Vila Belmiro. O CF fez críticas e elogios à diretoria e alertou novamente para a necessidade de mais receitas.

Como a covid-19 interrompeu as competições durante parte de 2020, alguns valores foram adiados para o exercício de 2021. Sem eles, o Peixe teria um superávit bem inferior na última temporada.

Dos R$ 79 milhões recebidos em premiações, R$ 43 milhões (exatamente o valor do superávit apresentado) são de campanhas de 2020 (Copa do Brasil e Libertadores da América). Em compensação, a premiação do Brasileirão de 2021 não apareceu no balanço e equivaleria a mais R$ 18 milhões. Ou seja, o ganho real em prêmios foi de R$ 54 milhões de R$ 269 mi se o Peixe fosse campeão de tudo.

O Santos teve R$ 406 milhões em arrecadação, com R$ 300 milhões em receitas ordinárias e R$ 107 milhões em extraordinárias. O gasto com a folha de pagamento anual foi de R$ 206 mi. O Peixe ainda pagou R$ 34 milhões em compras de atletas (a maioria por dívidas anteriores) e R$ 120 milhões com despesas financeiras diversas (contábeis e provisões, por exemplo).

O déficit acumulado do Santos passou de R$ 460 milhões para R$ 420 mi. E o passivo circulante foi de R$ 340,9 milhões para R$ 316,9 mi.

Folha de pagamento

O Santos gastou R$ 92 milhões com salários em carteira de trabalho em 2021, contra R$ 94 mi em 2020 (redução de 2%). Somando-se os encargos, o valor em 2021 foi de R$ 128 milhões, contra R$ 124 mi em 2020 (aumento de 3,6%).

O Peixe registrou um aumento no número de funcionários formais: de 460 para 471. O Conselho Fiscal fez um alerta nesse quesito:

"Apesar da promessa de racionalização e implementação de novos processos que levariam o clube a uma redução de custos e funcionários, além de uma maior eficiência nas competições, analisando friamente os números não conseguimos identificar nenhuma redução ou melhora significativa nesses aspectos".

Departamento de futebol profissional

O Santos teve média anual de 44 jogadores profissionais, além de 12 na comissão técnica, quatro no apoio, 14 na saúde, 6 nos refeitórios e 5 na administração do CT Rei Pelé. Os valores, somados os encargos, foi de R$ 93 milhões em 2021. Sem direito de imagem, houve redução de 1,59%. Analisando-se as imagens, o corte é bem maior: de R$ 23 milhões para R$ 15 mi (33%)

O custo total dos jogadores do elenco profissional, com direito de imagens e encargos, foi de R$ 86 milhões em 2021, contra R$ 95 mi em 2020: uma redução de 8,93%. Neste ponto, a diretoria do Santos levou outra bronca do Conselho Fiscal.

"Analisando friamente a nossa atividade principal, que é o futebol, os números indicam que não tivemos mudanças significativas. O valor gasto e o número de atletas praticamente são os mesmos, enquanto o rendimento em campo caiu vertiginosamente".

Acordos e contratos

O Conselho Fiscal registrou 350 contratos de trabalho no departamento de futebol (136 no masculino, 151 na base e 63 no feminino), além de 230 contratos administrativos.

O Santos celebrou inúmeros acordos na Justiça e pagará em 2022 e 2023, durante a gestão Rueda: 78 cíveis, 58 trabalhistas e 25 arbitrais. Destes, o Peixe tem 34 com valores parcelados, totalizando R$ 59 milhões.

Comissões e intermediações

O Conselho Fiscal valorizou o cuidado da gestão do Santos com as comissões e intermediações para compras, vendas ou renovações de jogadores.

Em exercícios anteriores, o Conselho Fiscal elaborou algumas recomendações sobre o assunto, com o intuito de deixar estabelecida de forma clara e transparente as regras para elaboração desta prática. Ficou definido que as exceções que ocorressem deveriam ser previamente justificadas. As recomendações foram cumpridas".

Impostos

Houve um aumento de R$ 9 milhões em obrigações tributárias ao longo de 2021. O total é de R$ 55 milhões em 2021, contra R$ 46 em 2020. Os custos a curto prazo diminuíram por causa de acordos realizados durante a gestão. A médio e longo prazo, porém, o montante foi de R$ 365 mil para R$ 45,7 mi.

"Ressaltamos que o clube não corre mais riscos da perda dos benefícios do Profut por causa do pagamento de acordos realizados", diz o CF.

Necessidade de caixa

A contabilidade do Santos emitiu as demonstrações das mutações do patrimônio líquido (DPML). A avaliação é que o Peixe precisa de R$ 421 milhões para quitar todas e quaisquer dívidas.

Empréstimo de Andres Rueda

O presidente do Santos emprestou R$ 16,5 milhões em 2020, quando ainda era candidato, para o pagamento ao Hamburgo (ALE) pela dívida com Cleber Reis que ocasionaria nova punição na Fifa. O valor, que ainda não foi pago, terminou 2021 em R$ 17,6 milhões.

Funding

O Santos aprovou, em junho de 2021, o projeto de funding para facilitar empréstimos ao clube. Torcedores levam seus investimentos para o Banco Safra e esses valores servem como garantia para o Peixe pagar menos juros.

O Santos conseguiu R$ 31,6 milhões via funding: R$ 20 mi em julho, R$ 6,6 mi em setembro e R$ 5 mi em dezembro. O Peixe utilizou o montante para pagar a folha salarial de julho (R$ 6 mi), direitos de imagem em julho e dezembro (R$ 2,5 mi), imposto de renda (R$ 6,1 mi), INSS (R$ 2,4 mi), pagamento ao Krasnodar (RUS) por Christian Cueva (R$ 5,9 mi), pagamento ao Huachipato (CHI) por Yeferson Soteldo (R$ 600 mil) e R$ 5,4 mi em acordos e despesas menores.

O Conselho Fiscal aprovou essa modalidade de empréstimo, mas fez nova ressalva.

"Se o clube não se reinventar, não melhorar sua performance dentro das quatro linhas a fim de ganhar premiações e o marketing não prover um aumento significativo das receitas, o futuro não será tão lindo como apregoa o Conselho Gestor".

Marketing e licenciamento

O Santos arrecadou R$ 39 milhões em patrocínios, R$ 2,9 milhões em licenciamento de marca e R$ 146 milhões em direitos de transmissão. Todos esses quesitos apresentaram melhora em relação a 2020.

Tokens

Em agosto de 2021, o Comitê de Gestão do Santos apresentou o projeto de tokenização do mecanismo de solidariedade. O Peixe recebe antecipadamente valores pela formação de atletas importantes e os torcedores podem adquirir "fatias" dos jogadores no mercado virtual. O Conselho Fiscal entende essa modalidade fere o Estatuto Social e consiste em antecipação de receitas. A Mesa do Conselho Deliberativo entendeu que não há infração estatutária.

O Santos contabilizou R$ 12 milhões em antecipação do Mercado Bitcoin, R$ 12 milhões a serem emitidos, R$ 5,2 milhões retidos e R$ 1,5 milhão em pagamento por serviços prestados. O Peixe faturou R$ 643 mil com a venda de tokens em novembro e R$ 221 mil em dezembro.

O Santos utilizou a verba com os tokens para pagar verbas salariais, parcelas de Eduardo Sasha (Internacional), Felipe Aguilar (Atlético Nacional-COL), Soteldo (Huachipato), Jobson (Red Bull) e Bruno Henrique Wolfsburg), além de honrar acordos com Jesualdo Ferreira, Robinho, Thiago Ribeiro, Fabiano Eller, Bryan Ruiz, Leandro Donizete, Levir Culpi, Enderson Moreira, Oswaldo de Oliveira, Fabiano Soares, FAAP, Cidão, EC Vitória e Jorge Sampaoli.

"Entendemos que esse modelo de negócio é novo e sem regulamentações contábeis, tributárias e até mesmo a APFUT não se manifestou ou criou norma sobre o assunto, sendo que outros clubes também aderiram a esse tipo de negócio. O entendimento ainda gera dúvidas", analisou o Conselho Fiscal.

"Mantemos nosso parecer divergente. Em nosso entendimento, o contrato firmado foi uma antecipação de receita e somente o tempo dirá quem está certo nesta análise. Uma vez que o contrato foi firmado e os valores recebidos gastos, apresentamos ao Comitê de Gestão que várias ações sejam tomadas de forma a resguardar nosso clube de problemas futuros", concluiu.

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