Topo

Nazistas do Cartola FC serão identificados e processados, diz Conib

Times com apologia nazista no fantasy game da Globo "Cartola FC" - Reprodução web
Times com apologia nazista no fantasy game da Globo "Cartola FC" Imagem: Reprodução web

Eder Traskini

Do UOL, em Santos (SP)

15/04/2022 04h00

Todos os usuários do fantasy game Cartola FC, da Globo, que criaram times com nomes em apologia ao nazismo poderão ser identificados, questionados e processados. Quem disse isso foi o vice-presidente da Confederação Israelita do Brasil (Conib), Daniel Bialski, em entrevista ao UOL Esporte.

"Qualquer tipo de apologia, preconceito, banalização, alusão ao nazismo, além de ser um ato absolutamente imoral e repugnante, é crime também. Temos feito pedidos de investigação de forma rotineira. Tanto a polícia quanto o ministério público tem trabalho junto à Conib. Temos conseguido identificar todos que se manifestaram dessa maneira. No caso do Cartola FC, todas as pessoas que agiram dessa forma serão identificadas, questionadas e podem ser processadas. Se a educação não é suficiente, a repreensão é necessária", afirmou Bialski.

Diversos times com referências nazistas foram denunciados pela reportagem na última segunda-feira (11). A Globo se posicionou afirmando que não tolera tais manifestação que violam os termos de uso do jogo e prometeu excluir tais times.

No entanto, em rápida pesquisa realizada pela reportagem ontem (14), o fantasy game ainda possuía equipes com nomes em apologia ao nazismo.

Bialski afirma que a Conib possui uma cartilha para avaliar os casos de intolerância em ambiente virtual. A Confederação busca entender se o criminoso agiu por desconhecimento do assunto ou não. "O maior problema que a gente enfrenta é o desconhecimento. Muitas das pessoas desconhecem que o nazismo não foi só contra os judeus, foi contra as minorias, inclusive os negros. Às vezes, algumas pessoas que estão divulgando isso nem sabem que elas mesmas seriam perseguidas pelo nazismo. Já aconteceu de identificarmos pessoas e termos que explicar isso", contou.

A Conib mantém um monitoramento constante principalmente em redes sociais para identificar e trabalho em conjunto com polícia e Ministério Público para denunciar e processar quem pratica o crime. "Felizmente, algumas dessas plataformas, como Youtube e Tiktok, tem colaborado e a Conib até serve como conselheira. Se identificamos que existe alguma coisa que possa ser duvidosamente colocada como preconceito, eles retiram. Facebook e Instagram são mais difíceis, mas temos acionado canais policiais e judiciais para conseguir isso".

"Temos um critério próprio, uma cartilha que fizemos, para classificar se aquela pessoa agiu daquela maneira por desconhecimento — e aí ela precisa ser orientada — ou se agiu sabendo o que estava fazendo — e aí tem que responder pelo ato. Uma pessoa que foi presa tempos atrás foi identificada após manifestação em ambiente virtual e tinha em casa um museu e altar de adoração a Hitler", lembrou.

Times do Cartola FC com nomes nazistas - Reprodução - Reprodução
Imagem: Reprodução

Apologia ao nazismo é crime

A lei 7.716/1989 diz que é crime "praticar, induzir ou incitar discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional". A pena é de reclusão de um mês a três anos e multa — ou reclusão de dois a cinco anos e multa se o crime foi cometido em publicações ou meio de comunicação social.

Leonel Radde, policial civil e vereador de Porto Alegre, explica que não só quem pratica o ato pode ser punido, mas também quem permite que o crime seja cometido.

"Configura crime de apologia ao nazismo a utilização do símbolo ou do nome. Os responsáveis podem pegar de dois a cinco anos de reclusão, mais multa. Se o site tivesse noção desse crime praticado, também poderia responder como partícipe desse delito. Espero que o Ministério Público e a Polícia Civil, talvez até a Federal, tomem as medidas cabíveis", disse eRadde, m contato com o UOL Esporte.

Radde ainda explicou que muitas vezes há dificuldade para identificar os criminosos, que utilizam diversos artifícios em ambiente virtual para manter o anonimato. "Muitas vezes utilizam máscaras em números de WhatsApp para parecer que não são do Brasil. Utilizam e-mails fakes ou de outros países, da Suíça por exemplo, onde é mais difícil haver a quebra de sigilo. Mas a gente mantém uma ronda em servidores, até deep web, para tentar identificar esses supremacistas."

A polícia abriu inquérito para investigar os fatos e identificar os autores. Em nota enviada ao UOL Esporte pela Secretaria de Segurança Pública do estado de São Paulo escreveu:

"A Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância instaurou Inquérito Policial para apurar o caso e identificar os autores. A unidade apura infrações resultantes de discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião, procedência nacional, orientação sexual, identidade de gênero e por convicções políticas ou ideológicas. Ao longo de 2021, a unidade especializada instaurou 175 inquéritos policiais para apurar casos dessas naturezas que ocorreram na capital."

A Globo, organizadora do Cartola FC, vai excluir os times que identificar. "O Cartola não tolera qualquer tipo de manifestação racista, homofóbica ou nazista em suas plataformas. Usuários que criem times com nomes que façam esse tipo de referência estão violando os termos de uso do jogo e, por isso, são removidos do game. O trabalho de identificação e deleção é feito de maneira contínua e a plataforma está reforçando as medidas internas de verificação para evitar a incidência de novos casos."