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Qual a fórmula do Mirassol para incomodar grandes de São Paulo e Grêmio

Jogadores do Mirassol comemoram gol marcado sobre o Grêmio, em jogo válido pela Copa do Brasil - CLEBER VALERA/FUTURA PRESS/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO
Jogadores do Mirassol comemoram gol marcado sobre o Grêmio, em jogo válido pela Copa do Brasil Imagem: CLEBER VALERA/FUTURA PRESS/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO

Eder Traskini

Do UOL, em Santos (SP)

03/03/2022 04h00

A teoria do sucesso no futebol é até simples para um clube que está começando e tem pouco dinheiro em caixa: investir na base, revelar talentos, vendê-los e ficar com o lucro. E repetir. A prática, como sabemos, não é nem perto de ser fácil dessa maneira. Ainda assim, alguns clubes conseguem: o Mirassol é um deles.

O time do interior de São Paulo fez do Grêmio sua última vítima, na terça-feira (1), quando eliminou o Tricolor gaúcho da Copa do Brasil ainda na primeira fase. Mas não foi o único grande que o Leão derrubou: o Santos foi derrotado pelo Leão na partida que resultou na demissão de Fábio Carille, pelo Paulistão.

Na elite do futebol paulista desde 2017, o Mirassol vem aprontando para cima dos grandes e se firmando como uma das novas potências do interior do Estado. O time disputou as semifinais do torneio nos últimos dois anos. De 2017 para cá, as duas aparições na semifinal igualam o número de vezes em que o Santos e a Ponte Preta chegaram até ali.

Em 2020, o Mirassol eliminou o São Paulo nas quartas de final, mas caiu para o Corinthians nas semis. No ano passado, enfrentou o Guarani nas quartas, após o Santos nem se classificar, e novamente avançou até a semifinal — quando perdeu para o São Paulo.

Vale lembrar que o clube se fez conhecido antes disso ao golear o Palmeiras por 6 a 2, no Paulistão de 2013, mas acabou rebaixado naquela temporada e só retornou à elite em 2017.

Caminho para o sucesso

No mesmo ano em que o Mirassol retornou à elite do Paulistão, o São Paulo fez a negociação que mudou a história quase centenária do clube. A venda dos direitos econômicos do atacante Luiz Araújo ao Lille (FRA) rendeu R$ 6,5 milhões pelos 20% dos direitos que o time interiorano manteve quando o atleta foi para o Tricolor paulista.

O dinheiro foi investido na construção de um novo e moderno centro de treinamento, que elevou a estrutura do Mirassol para um patamar totalmente diferente. E o clube não parou por aí.

Os 20 quartos primeiramente construídos que abrigavam até 40 atletas profissionais foram ampliados para trazer para dentro do clube também o principal foco da equipe: a base.

Outros 14 quartos foram erguidos no CT, cada um com capacidade para quatro jogadores. No total, o local abriga até 96 atletas.

Frutos na base

O investimento nas categorias de base começou a dar resultados mais claros no ano passado. Depois de atingir as oitavas de final da Copinha, o Mirassol foi vice-campeão paulista sub-20 e novamente teve boa participação na Copinha desta temporada, sendo eliminado pelo Santos nas quartas de final em duelo com arbitragem polêmica.

Daquele grupo, três jogadores integram o time profissional na disputa do Paulistão: o lateral esquerdo Frank, o volante Eduardo e o meia Kauan. Principal destaque da equipe sub-20, o meia Gabriel Tota poderia aumentar esse número, mas tem uma "missão maior".

O jogador de 20 anos foi negociado com o Juventude e já marcou até seu primeiro gol pela equipe no Gauchão. Tota terá a oportunidade de disputar a Série A do Brasileirão e, quem sabe, repetir Luiz Araújo e engordar a conta do Mirassol, já que o clube manteve 50% dos direitos econômicos do atleta.

Em 2020, o clube recebeu pouco mais de R$ 2 milhões (480 mil euros) pela venda dos direitos do atacante Felipe Micael, artilheiro da Copinha, ao Beerschot (BEL).

Gestão de 27 anos

Quem comanda o Mirassol, tanto o clube quanto a cidade homônima, é o Dr. Edson Ermenegildo (PSDB). Presidente do clube há 27 anos, o cartola foi eleito em 2020 para a prefeitura da cidade com 42% dos votos. Seu parceiro no comando do Leão é o empresário Júnior Antunes, que tem o cargo de gerente-geral no clube e é dono de uma rede de supermercados na região.

O ex-jogador e empresário Deco, da D20 Sports, chegou a se aproximar do clube e investiu na equipe por cerca de três anos, mas acabou saindo e, hoje, o Mirassol caminha somente com as próprias pernas.

Público se faz presente

A boa fase do Mirassol tem conseguido movimentar a pequena cidade de cerca de 60 mil habitantes. O clube tem a sexta melhor média de público nesta edição do Paulistão, atrás apenas dos quatro grandes e do Botafogo — equipe de um centro muito maior. Ribeirão Preto possui 720 mil habitantes, 12 vezes mais do que Mirassol. A média de público é muito parecida entre os dois clubes interioranos: 4.649 pessoas para o Botafogo, contra 4.326 para o Mirassol.

Outra boa base de comparação é o Red Bull Bragantino. A equipe que se tornou uma potência nacional na última temporada joga em Bragança Paulista, cidade de 172 mil habitantes, mas tem a terceira pior média de público no Estadual: apenas 1.970 pessoas por jogo.

Adeus

Na noite de ontem (2), a diretoria do Mirassol anunciou oficialmente a saída do técnico Eduardo Baptista. Comandante do clube nos últimos 18 meses, o treinador acertou com o Juventude e chegou a anunciar que dirigiria o time na Série A. As partes, no entanto, preferiram antecipar a saída.