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Braço direito de Textor vê Botafogo SAF adiantado: 'Grande diferencial'

John Textor, investidor do Botafogo, e advogado Jorge Gallo - Arquivo Pessoal
John Textor, investidor do Botafogo, e advogado Jorge Gallo Imagem: Arquivo Pessoal

Alexandre Araújo, Bernardo Gentile e Leo Burlá

Do UOL, no Rio de Janeiro (RJ)

23/01/2022 04h00

Passadas as aprovações no Conselho Deliberativo e Assembleia Geral, o Botafogo agora vive a fase de transição do departamento de futebol para a Sociedade Anônima do Futebol (SAF), que terá o norte-americano John Textor como dono de 90% das ações. O Alvinegro, porém, deve passar por este período sem turbulências, na visão do advogado Jorge Gallo.

Gallo, integrante do escritório Campos Mello, auxiliou o investidor neste processo junto ao Glorioso e, inclusive, esteve lado a lado na passagem dele pelo Rio de Janeiro, quando Textor participou de reuniões com a cúpula, visitou as sedes e foi abraçado pela torcida no aeroporto.

Para o advogado, o fato de o Botafogo ter iniciado o trâmite visando a S.A. já há alguns anos, facilita o novo estágio desta caminhada. Vale lembrar que a transação teve sinal positivo dos conselheiros do clube no fim de 2019, antes mesmo da Lei da SAF.

"O Botafogo tinha um grande diferencial porque, mesmo antes da lei ser promulgada e passar a ser válida, o clube tinha um processo muito adiantado com relação à estrutura de se tornar uma sociedade anônima, ainda que não fosse nesta característica de sociedade anônima do futebol. Isso facilitou muito o entendimento de algumas coisas, e vai facilitar muito também na transição, porque estamos lidando com pessoas que já estavam preparando o clube para passar por essa transição e, principalmente, para receber esses investimentos, fosse ele externo, de algum investidor como o John, ou mesmo interno. Isso facilitou bastante para o Botafogo, e que eu acho que é diferente de alguns outros clubes aqui no Brasil."

Segundo Gallo, está acontecendo, agora, uma auditoria para levantar possíveis pontos de alerta, mas ele acredita que, pelo trabalho feito anteriormente, não haverá problemas nesta etapa.

John Textor, investidor do Botafogo, ao lado do advogado Jorge Gallo - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Imagem: Arquivo pessoal

"Com a aprovação, temos alguns trâmites. O primeiro é a questão de auditoria. Já iniciamos um processo de auditoria, que é a análise de documentação, contratos, eventuais processos judiciais, mas é uma auditoria confirmatória porque já temos mapeado qual é o tamanho da dívida, quais são os contratos vigentes e tudo mais. É mais uma auditoria para levantar eventuais 'red flags' e mostrar para o investidor que, dificilmente, vai ter alguma coisa que não foi mostrada. Junto a isso, caminha para a celebração dos documentos definitivos mesmo. Parte do investimento [R$ 50 milhões] vai ser feito via empresário, para pagar despesas correntes e também contratação de atleta, e depois assina o documento do investimento, onde ele vai passar a, de fato, ter as ações na SAF."

O advogado ressalta que a ideia é fechar tais passos o quanto antes para que o planejamento para a temporada possa ser desenhado de forma mais concreta, incluindo a chegada de reforços para o elenco.

"Uma coisa importante é que esse ano tivemos uma mudança na regra sobre a janela de transferência de jogadores. A janela no Brasil fecha 12 de abril, essa de verão, e, depois, a de inverno, abre em julho e fecha em agosto. O fato de ter janela maior do que é normalmente dá a possibilidade de fazer contratações para fortalecer o elenco ainda para o início do Brasileiro. Esses R$ 50 milhões de empréstimo também poderão ser usados na contratação de jogadores, isso vai ser definido por um comitê formado por membros do clube e do investidor. Estimamos que todo esse processo de autoria e celebração dos documentos seja finalizado antes do fechamento da janela. Isso vai possibilitar a discussão e investimento já para contratação de atletas ainda nesta janela. Essa mudança foi muito benéfica nesta situação em que estamos passando."

"Nossa intenção é fechar a documentação e auditoria o quanto antes, porque só com essa negociação fechada que vai se conseguir fazer um planejamento concreto. Ainda que se tenha o benefício da janela maior, o quanto antes você conseguir formar o elenco que vai, ao menos, iniciar essa nova caminhada, melhor, porque tem a questão se tem alguém jogando na Europa, alguém que não é brasileiro e não fala a língua... Então, tudo isso que tem como planejamento para a equipe, o quanto antes colocar em prática, melhor."

Ideias para o Nilton Santos

John Textor é um empresário norte-americano ligado ao ramo da tecnologia. Logo que seu nome foi vinculado ao Alvinegro, uma das referências feitas a ele foi em relação aos hologramas do rapper Tupac, no festival Coachella, em 2012, e de Michael Jackson, na apresentação no prêmio Billboard Music Awards, em 2014.

John Textor chega ao Nilton Santos e é recebido pelo CEO Jorge Braga. - Vítor Silva/ BFR - Vítor Silva/ BFR
John Textor foi recebido pelo CEO Jorge Braga na chegada ao Nilton Santos
Imagem: Vítor Silva/ BFR

Com tamanha conexão do investidor com o showbiz, Gallo foi questionado se há a possibilidade de o Nilton Santos ser utilizado também para grandes eventos. No fim do ano passado, a Prefeitura do Rio de Janeiro renovou, junto ao Botafogo, o contrato de concessão do estádio até 2051.

"Tivemos uma reunião para falar sobre isso mesmo, como o John enxergava a utilização dos estádios, e arenas propriamente dita. Não sei, do ponto de vista legal, se existe restrição no contrato de uso do Nilton Santos para essas questões. Acredito que não, mas ele tem várias ideias relacionadas a isso. Por exemplo, se for um show menor, fazer em uma parte que não prejudique o gramado, áreas e arquibancadas atrás do gol para um show que seria para 20 mil pessoas. Tem ideias para o que seria uma arena multiuso, que poderiam ser aplicadas, caso o contrato de uso assim permita, e possa explorar o estádio de uma forma a aumentar sua receita."

Textor não escondeu que o Glorioso, em um primeiro momento, não era o seu alvo no futebol brasileiro, por inúmeros motivos. Porém, após ser apresentado ao clube, não escondeu a satisfação e vem se mostrando cada vez mais ligado à torcida.

"A Matix é uma empresa formada pelo Thairo e Danilo, que são os "dois jovens" que foram citados em entrevistas. Eles que, de fato, levaram o projeto para o John, que, em um primeiro momento, pensava em investimento no futebol brasileiro, mas em um clube menor, porque achava que um clube como o Botafogo, com a torcida do tamanho da do Botafogo, com a história, era um clube que dificilmente poderia ser dele ou de qualquer outro investidor. E nem é uma questão financeira, é muito mais uma questão de você ser dono de uma coisa que é de milhões e milhões de pessoas. Parecia intangível. E aí foi o trabalho da Matix de apresentar o projeto para o John."

"O que para ele era algo abstrato, por estes motivos citados, começou a ser algo mais palpável e que ele entendia que poderia fazer parte. Outros projetos, que ele iria olhar inicialmente, acabaram ficando pequenos porque o Botafogo fez os olhos dele brilharem mesmo."

Incluir casa na SAF?

Não apenas o Glorioso, mas também o Rio de Janeiro empolgou o empresário norte-americano. Após a visita ao Espaço Lonier, que será usado como CT do clube, houve um almoço na casa de um dos integrantes do Alvinegro, localizada no Itanhangá, e o imóvel foi alvo de uma brincadeira.

"Tivemos um almoço no domingo, após visita ao Lonier, e foi muito legal. A casa é no Itanhangá. Em uma brincadeira, o John falou que queria colocar a casa na negociação (risos) porque ficou encantando com o lugar, a paisagem, com tudo que o Rio tinha a oferecer. Estava muito encantado com o Rio de Janeiro e tudo isso que estava sendo oferecido, com a recepção não só da torcida e como das pessoas que estavam à frente do projeto."

Para Jorge Gallo, o fato de John Textor investir em um clube brasileiro pode fomentar a chegada de outros nomes estrangeiros a outros projetos que já começam a se desenhar.

"A vinda do John acho extremamente importante para este momento, porque você consegue trazer um investidor estrangeiro, e é um cara do mundo da tecnologia, fez fortuna e fez o nome neste mundo da tecnologia, mas já é do esporte, do futebol. É interessante ter um investidor que tem essa parte de tecnologia, é bem relacionado... Por exemplo, ele tem sociedade com o dono da Reebok, é super bem relacionado para trazer parceiros comerciais estratégicos para o Botafogo. Não é uma estrutura como a do Red Bull ou [Grupo] City, mas é um sócio que tem clubes em outros países. Isso é interessante para o futebol brasileiro."

"Vai incentivar outros investidores a olhares o Brasil com bons olhos. E acho que a disparidade cambial facilita bastante você ter um investidor externo. Hoje a moeda está muito desvalorizada frente ao dólar e ao euro. Isso possibilita que você tenha atenção maior desses investidores."

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