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Veto a Renan Lodi na seleção foi orientação de médicos e recado de Tite

Gabriel Carneiro e Igor Siqueira

Do UOL, em São Paulo e Rio de Janeiro

14/01/2022 04h00Atualizada em 14/01/2022 12h56

A explicação de Tite para não ter convocado o lateral-esquerdo Renan Lodi para a seleção brasileira agitou o noticiário esportivo ontem (13). Segundo o técnico, o jogador do Atlético de Madri "foi alijado da possibilidade de convocação em função de sua não-vacinação." O tema já vinha movimentando os bastidores da CBF nos últimos dias e deverá ter consequências no futuro, como a proposta de veto integral a jogadores que não estejam imunizados contra a covid-19 tanto na seleção, quanto nos torneios nacionais.

Segundo apurou o UOL Esporte, o comitê médico da CBF foi responsável por orientar a comissão técnica para que Renan Lodi não fosse convocado para os jogos contra Equador e Paraguai, nos dias 27 e 1º, pelas Eliminatórias. O jogador comunicou à médica Andréia Picanço e ao coordenador da seleção Juninho Paulista que tinha tomado a primeira dose da vacina somente na última segunda-feira (10). O que se seguiu foi uma discussão interna sobre o assunto que logo chegou aos ouvidos de Tite.

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Sem a vacinação completa, Renan Lodi não poderia entrar no Equador — o país que recebe a partida do dia 27 só aceita visitantes totalmente imunizados. Pensando no segundo jogo, que será em Belo Horizonte, o jogador teria que cumprir quarentena no Brasil, segundo uma regra de dezembro da Anvisa para viajantes internacionais. Assim, a participação nos jogos ficaria inviável.

É um caso circunstancial, mas os debates internos na CBF já rodeavam a criação de um passaporte sanitário, mesmo que ainda sem este nome, definição ou regras. A ideia, inclusive, vai além: é que todos os jogadores envolvidos nos torneios organizados pela entidade tenham que ter a vacinação completa para entrar em campo.

Tite apoia este contexto de iniciativas e aproveitou a entrevista coletiva da última convocação para reforçar seu posicionamento a respeito das vacinas. Em uma das declarações, colocou o tema da "responsabilidade social" de imunização à frente da regra sanitária do Equador, hierarquicamente. É um recado do técnico, que também disse ontem que "talvez combater o bom combate também seja nossa obrigação" dentro da seleção.

Eu particularmente entendo, carrego até um bottom [do Zé Gotinha], que a vacinação é uma responsabilidade social. É minha e da pessoa que está do lado. Eu trago a responsabilidade para que eu e minha família, eu e as pessoas que tenho responsabilidade, eu e meus netos. Eu e meus pais. Não os tenho, mas queria ter a oportunidade de protegê-los. Eu vejo uma responsabilidade social. O segundo aspecto é respeitando a parte das autoridades sanitárias de cada país."

Apesar de o auxiliar técnico César Sampaio ter dito na mesma entrevista que na seleção "não obrigamos nenhum atleta a se vacinar", a tendência é que o passaporte sanitário seja uma regra em breve. Ouvido pelo UOL, o presidente do comitê médico da CBF Jorge Pagura reforça a ideia:

"A gente não obriga ninguém a se vacinar. Mas institucionalmente a CBF prestigia o coletivo. Se não está vacinado e o coletivo todo está vacinado, não é justo. A vacina protege de fator grave. Não obrigamos ninguém, mas é uma regra que a gente tem: não colocar quem está com a vacinação plena com quem não está", diz o médico, antes de completar:

Ninguém é obrigado a tomar vacina, mas também não somos obrigados a convocar.

Renan Lodi - Lucas Figueiredo/CBF - Lucas Figueiredo/CBF
Renan Lodi soma 19 convocações para jogos e 15 partidas na lateral esquerda da seleção brasileira
Imagem: Lucas Figueiredo/CBF

Convocação de novembro

Um dos temas que levantou debate a respeito do lateral-esquerdo foi sua convocação para a seleção em novembro do ano passado. Mesmo sem estar vacinado — naquela oportunidade sequer a primeira dose tinha tomado —, Lodi serviu normalmente à seleção brasileira nos jogos contra Colômbia e Argentina.

É um fato que poderia enfraquecer a ideia de que a imunização de seus jogadores é uma decisão ideológica ou filosófica da CBF, mas Jorge Pagura rebate em dois pontos. "Era outra coisa. Se você olhar os gráficos de novembro, estava lá embaixo [o índice de positivados]. Em 1º de dezembro, o índice de positividade estava lá para baixo. Agora, não. Temos que evitar a presença da [variante] ômicron e evitar casos graves."

Tite - Lucas Figueiredo/CBF - Lucas Figueiredo/CBF
Tite, ontem (13): "Lodi perdeu a possibilidade de concorrer em função de não ter se vacinado"
Imagem: Lucas Figueiredo/CBF

O estafe do lateral-esquerdo foi procurado pelo UOL, mas informou que ele não se manifestará sobre as declarações de Tite, Juninho Paulista e Jorge Pagura. Lodi contraiu covid-19 em maio de 2020 e se recuperou bem. Ontem (13), ele saiu do banco de reservas e jogou 50 minutos na eliminação do Atlético de Madri diante do Athletic Bilbao, na semifinal da Supercopa Espanhola. Foi sua centésima partida pelo clube espanhol.

O jogo foi na Arábia Saudita. O país exige vacinação completa para ingresso de visitantes, mas segundo a imprensa internacional relaxou as medidas por ocasião do torneio. A delegação do Atlético de Madri desembarcou por lá na quarta-feira, dois dias depois da data que Renan Lodi se vacinou com a primeira dose, de acordo com a CBF.