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UOL Esporte Histórias

Podcast de investigação sobre histórias marcantes do esporte


Sobre meninos e porcos - Episódio 6: 'Se eu morrer, não chorem por mim'

Adriano Wilkson e Daniel Lisboa

Do UOL, em São Paulo

05/01/2022 04h00

Moacir Bianchi fez parte do grupo de 15 pessoas que fundou a torcida Mancha Verde no dia 11 de janeiro de 1983, há 39 anos. Ele chegou a ser presidente da entidade e se tornou um de seus maiores líderes até o dia 1º de março de 2017, quando foi assassinado a tiros após sair de uma reunião da sede da torcida.

Algumas semanas antes, Moacir gravou um vídeo no qual aparece feliz, pensando no dia de sua morte e fazendo um pedido aos amigos: "E não chorem por mim. Pode gravar isso aí, você tá gravando? Pode gravar", pede ele. "Não chorem, sorriam. Se eu morrer... E faz o seguinte, a hora que eu estiver sendo cremado bota um telão e bota essa imagem: 'Não chorem por mim'. Eu vivi intensamente minha vida, totalmente."

A morte de Moacir provocou o fechamento temporário da torcida e foi a consequência de uma guerra interna entre grupos de palmeirenses. A história está contada em "Sobre meninos e porcos", a terceira temporada do podcast "UOL Esporte Histórias", cujo episódio final estreia hoje. Ele pode ser ouvido no player acima e nos principais agregadores de podcasts.

Moacir Bianchi era empresário e tinha 48 anos. Ele foi o escolhido para assumir a presidência da torcida logo depois da morte de Cleo Dantas, em outubro de 1988, o primeiro presidente da Mancha assassinado. Em 2017, Moacir ainda era uma das figuras mais respeitadas dentro da torcida, embora estivesse se dedicando principalmente às atividades carnavalescas da Mancha.

Na ocasião, ele reivindicava maior participação de setores de oposição ao então presidente da torcida, Nando Nigro, cuja gestão era considerada centralizadora. "Ninguém quer guerra, a gente quer nossa torcida de volta, você vê que as coisas tão tudo errada", disse Moacir em um áudio de WhatsApp algumas horas antes de ser morto. Ele criticava a administração de Nando. "Não dá ouvido pra ninguém. Ninguém pode dar um A contra que é ripado, que os caras critica, esculacha. Quer dizer, é ditatorial o negócio?"

Três pessoas foram denunciadas pelo Ministério Público pelo assassinato do ex-presidente. Os três eram frequentadores da torcida. Alan Rodrigues Hernandes, que dirigia um táxi que bloqueou o caminho de Moacir e permitiu a emboscada, foi julgado e absolvido pelo tribunal do júri. O atirador Marcelo Ventolla, o Marcelinho, está preso aguardando julgamento, que está marcado para o dia 17 de fevereiro de 2022. De acordo com a denúncia, Ventolla tinha ligações com o PCC, o Primeiro Comando da Capital. As investigações apontaram que Ventolla tentava assumir um posto na diretoria da Mancha, e Moacir era contra.

Rafael Martins da Silva, conhecido como Zequinha, dirigia o carro onde Ventolla estava. Ele foi condenado a 18 anos de prisão.

carro - Edison Timoteo/Futura Press/Estadão Conteúdo - Edison Timoteo/Futura Press/Estadão Conteúdo
Carro de Moacir Bianchi foi encontrado cravejado por tiros no bairro do Ipiranga em São Paulo
Imagem: Edison Timoteo/Futura Press/Estadão Conteúdo

O episódio traz também um depoimento de Diego Bianchi, filho de Moacir, que também fez parte da Mancha durante a adolescência. Ele afirmou não ter guardado mágoas da torcida. "Teria sido muito pior, para o meu pai, se ele tivesse perdido a Mancha. Para ele, teria sido uma morte", disse Diego, que hoje vive na Irlanda, onde fundou a torcida Palmeiras Dublin. "Apesar da covardia, o desejo dele se realizou. Não foi em vão", afirmou, sobre a reconstrução da Mancha após a morte do pai.

Sobre meninos e porcos

"Sobre meninos e porcos" é a terceira temporada do premiado podcast "UOL Esporte Histórias", que conta a história de como as torcidas organizadas saíram da festa e chegaram à violência. O relato é centrado no assassinato de Cleo Sóstenes Dantas nos anos 1980, considerado o marco da chegada das armas de fogo às brigas de torcida. Você pode conhecer essa história, que os repórteres Adriano Wilkson e Daniel Lisboa investigam há um ano, em um podcast de seis episódios.

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