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Metade da Série A planeja quase R$ 1 bilhão em vendas de jogadores em 2022

Borja foi vendido pelo Palmeiras ao Junior Barranquilla, da Colômbia - Cesar Greco/SE Palmeiras
Borja foi vendido pelo Palmeiras ao Junior Barranquilla, da Colômbia Imagem: Cesar Greco/SE Palmeiras

Igor Siqueira

Do UOL, no Rio de Janeiro

03/01/2022 04h00

Observando os orçamentos que os clubes já divulgaram ou submeteram aos conselhos deliberativos, é possível constatar que a projeção de receita com venda de jogadores em metade da elite do futebol brasileiro já se aproxima de R$ 1 bilhão para 2022. Os dados desses dez clubes trazem a estimativa de R$ 975 milhões de arrecadação no fluxo de saída de atletas.

Na lista estão Flamengo, Atlético-MG, Palmeiras, São Paulo, Corinthians, Santos, Internacional, Botafogo, Fortaleza e Ceará. Os números da Série A serão ainda maiores porque Fluminense e Athletico, historicamente vendedores relevantes, não publicaram o orçamento. A elite nacional em 2022 ainda tem América-MG, Red Bull Bragantino, Cuiabá, Juventude, Atlético-GO, Avaí, Coritiba e Goiás.

Diante dos dados divulgados, quem tem a estimativa mais alta de receita com negociação de jogadores é o Flamengo, cujo plano é gerar R$ 185,7 milhões, contribuindo com 18% da receita total de R$ 1,033 bilhão para este ano.

O segundo clube com meta mais alta de transferência de jogadores é o São Paulo, que almeja arrecadar R$ 142 milhões. É quase o mesmo alvo estabelecido pelo campeão brasileiro Atlético-MG (R$ 140 milhões), cujo elenco se valorizou.

Em termos percentuais, a maior proporção das vendas na receita total do ano é do Botafogo, que planeja arrecadar R$ 60 milhões em transferências, em um orçamento total de R$ 192,8 milhões.

Explicação importante: independentemente de qualquer meta, isso não quer dizer que o dinheiro cairá de uma vez só nos cofres dos clubes, já que a compra parcelada se tornou prática comum no mercado da bola. Mesmo quando a venda acontece a um gigante europeu. Mas, contabilmente, o dinheiro é registrado nos balanços financeiros no ano em que a transferência acontece.

As transferências de jogadores não são consideradas pelos analistas como receitas recorrentes, já que têm natureza "esporádica ou incerta". Na prática, os clubes colocam uma estimativa como meta, mas precisam valorizar seus ativos e ir ao mercado em busca de negociações. Fatores externos podem afetar essa meta. No caso da pandemia, houve uma desaceleração. Por outro lado, a desvalorização do real frente a moedas fortes, como euro e dólar, pode turbinar as cifras que entram nos clubes.

Esse e outros fatores são relevantes para definir se uma determinada meta é ousada ou não. Na análise interna de cada clube, o histórico tem importância. O Flamengo, por exemplo, tem engatado alguns anos com boas vendas, vide Vini Jr, Paquetá e Reinier. Em 2021, a principal transação foi a saída de Gerson para o Olympique de Marselha, por 20,5 milhões. Na prestação de contas do Fla, o valor integral lançado foi R$ 123,4 milhões.

Ao todo, o clube carioca embolsou cerca de R$ 270 milhões com transferências na temporada. Logo, estipular R$ 185 milhões de receita com elas em 2022 não parece algo tão absurdo. O Corinthians, por sua vez, quer arrecadar R$ 91 milhões com transferências. Mas vem de um 2021 no qual, até 30 de setembro, tinha gerado apenas R$ 14 milhões de receita com repasses.

Composição de receitas dos clubes brasileiros percentualmente - Reprodução/Itaú BBA - Reprodução/Itaú BBA
Composição de receitas dos clubes brasileiros percentualmente
Imagem: Reprodução/Itaú BBA

Ao longo da última década, houve uma variação na representação percentual das transferências no bolo de receitas totais dos clubes brasileiros. A análise do Itaú BBA até 2020 aponta que esse quesito atingiu 27% de representatividade, o maior desde 2010. Nessa amostra, o menor percentual foi 12%, em 2015.

Concentração de renda

Dos dez clubes que divulgaram orçamento, cinco esperam arrecadar mais do que R$ 100 milhões. Só eles já são responsáveis por R$ 721 milhões dos R$ 974,5 projetados pelos dez clubes listados. Ou seja, estima-se uma concentração de renda que refletiria uma tendência de anos anteriores.

Comparativo de receitas com venda de atletas de 2019 para 2020 - Reprodução/Itaú BBA - Reprodução/Itaú BBA
Comparativo de receitas com venda de atletas de 2019 para 2020
Imagem: Reprodução/Itaú BBA

A análise do Itaú BBA referente à temporada 2020 mostrou que seis clubes concentram as receitas de transferências: Athletico, Palmeiras, Flamengo, São Paulo, Corinthians e Grêmio. Inclusive, eles atingiram um patamar similar entre si, variando de R$ 120 milhões a R$ 152 milhões arrecadados por cada um.

Flamengo

Previsão em transferências de jogadores em 2022: R$ 185,76 milhões
Receita bruta prevista em 2022: R$ 1,033 bilhão
Percentual de transferências previsto na receita bruta 2022: 18%
Receita com transferências em 2021: R$ 270 milhões
Receita com transferências em 2020: R$ 148 milhões

Atlético-MG

Previsão em transferências de jogadores em 2022: R$ 140 milhões
Receita bruta prevista para 2022: R$ 821 milhões
Percentual de transferências previsto na receita bruta 2022: 17,1%
Receita com transferências em 2021: Não divulgado
Receita com transferências em 2020: R$ 28 milhões

Palmeiras

Previsão em transferências de jogadores em 2022: R$ 133 milhões
Receita bruta prevista em 2022: R$ 625 milhões
Percentual de transferências previsto na receita bruta 2022: 21,3%
Receita com transferências em 2021: Não divulgado
Receita com transferências em 2020: R$ 149 milhões

São Paulo

Previsão em transferências de jogadores em 2022: R$ 142 milhões
Receita bruta prevista em 2022: Não divulgado
Percentual de transferências previsto na receita bruta 2022: Não divulgado
Receita com transferências em 2021: Não divulgado
Receita com transferências em 2020: R$ 133 milhões

Internacional

Previsão em transferências de jogadores em 2022: R$ 120,28 milhões
Receita bruta prevista em 2022: R$ 420 milhões
Percentual de transferências previsto na receita bruta 2022: 28,6%
Receita com transferências em 2021: Não divulgado
Receita com transferências em 2020: R$ 68 milhões

Corinthians

Previsão em transferências de jogadores em 2022: R$ 91,54 milhões
Receita bruta prevista em 2022: R$ 507,1 milhões
Percentual de transferências previsto na receita bruta 2022: 18,1%
Receita com transferências em 2021: R$ 14 milhões (3º trimestre)
Receita com transferências em 2020: R$ 126 milhões

Santos

Previsão em transferências de jogadores em 2022: R$ 76 milhões
Receita bruta prevista em 2022: R$ 293,4 milhões
Percentual de transferências previsto na receita bruta 2022: 25,9%
Receita com transferências em 2021: R$ 115 milhões (3º trimestre)
Receita com transferências em 2020: R$ 20 milhões

Botafogo

Previsão em transferências de jogadores em 2022: R$ 60 milhões
Receita bruta prevista em 2022: R$ 192,87 milhões
Percentual de transferências previsto na receita bruta 2022: 31,1%
Receita com transferências em 2021: Não divulgado
Receita com transferências em 2020: R$ 41 milhões

Ceará

Previsão em transferências de jogadores em 2022: R$ 26 milhões
Receita bruta prevista em 2022: R$ 163 milhões
Percentual de transferências previsto na receita bruta 2022: 15,9%
Receita com transferências em 2021: Não divulgado
Receita com transferências em 2020: R$ 18 milhões

Fortaleza

Previsão em transferências de jogadores em 2022: R$ 10 milhões
Receita bruta prevista em 2022: R$ 141 milhões
Percentual de transferências previsto na receita bruta 2022: 7,1%
Receita com transferências em 2021: Não divulgado
Receita com transferências em 2020: R$ 12 milhões

E na Série B?

Grêmio, Vasco e Bahia já divulgaram os orçamentos para 2022. A meta gremista é faturar R$ 95 milhões em transferências, numa tentativa de amenizar a queda brusca da receita total, causada pelo rebaixamento. No Vasco, a aposta é de R$ 40 milhões, entre negociações de jogadores do atual elenco e mecanismo de solidariedade. No Bahia, o alvo ficou em R$ 27 milhões.