Topo

Atlético-MG queria Jorge Jesus em 2019, mas falta de dinheiro travou acerto

Jorge Jesus tem proposta do Atlético-MG para retornar ao futebol brasileiro - REUTERS/Alkis Konstantinidis
Jorge Jesus tem proposta do Atlético-MG para retornar ao futebol brasileiro Imagem: REUTERS/Alkis Konstantinidis

Victor Martins

Colaboração para o UOL, em Belo Horizonte (MG)

01/01/2022 04h00

O sucesso do Atlético-MG em 2021 foi pensado alguns anos antes. Com a proximidade da inauguração da Arena MRV, os mecenas do clube tinham planos de montar um time forte visando as temporadas 2022 e 2023, focando os primeiros anos de operação do novo estádio. Em 2020, o clube recebeu um aporte de R$ 400 milhões, via empréstimos, para quitar dívidas emergências e reformular o elenco. Mas em 2019, os 4 R's (Rubens Menin, Rafael Menin, Ricardo Guimarães e Renato Salvador) já trabalhavam na mudança de rumo da equipe alvinegra. Foi assim que convidaram Jorge Jesus para uma visita a Belo Horizonte. O treinador português era o favorito para conduzir o processo de transformação do futebol atleticano.

Agora em negociação com o Atlético, Jorge Jesus esteve em Belo Horizonte para jantar na casa de Ricardo Guimarães e conversar sobre o time e o elenco do Galo. Na avaliação do técnico português, era uma equipe com muitas deficiências. Seria necessário um grande investimento para que o Atlético saísse do meio da tabela para brigar pelos primeiros lugares. Porém, como estava prevista a injeção de grana no futebol somente a partir de 2020, a conversa com Jorge Jesus não avançou.

Mesmo assim, o treinador foi até o Estádio Independência para acompanhar a partida do Atlético com o Flamengo, pela quinta rodada do Campeonato Brasileiro. Com gols de Cazares e Chará, o Galo venceu por 2 a 1. Bruno Henrique anotou para a equipe rubro-negra. Na noite de 18 de maio de 2019, Jorge Jesus constatou o que já tinha avaliado: o Atlético tinha um elenco com grandes deficiências.

Curiosamente, aquele triunfo foi o quarto do Galo em cinco partidas, colocando a equipe então comandada por Rodrigo Santana na liderança da competição. Mas, de fato, era algo momentâneo e o Atlético terminou o Brasileirão apenas na 13ª colocação. Como Jorge Jesus queria uma equipe capaz de brigar por títulos e, naquele momento, o clube mineiro não era capaz de oferecer, a visita do técnico português não passou de uma aproximação. O Atlético nem sequer apresentou uma oferta salarial ao treinador diante do cenário que se apresentou.

"Houve uma possibilidade do Atlético, um agente me falou nesta possibilidade, vim ver o jogo, recebi o convite para vir, curiosamente, foi o jogo entre Atlético e Flamengo. Jantei na casa da pessoa dono do banco BMG (Ricardo Guimarães), onde conversamos e eles foram extremamente simpáticos. Não vou me esquecer da forma com que eles me receberam. Mas não era isso que eu queria, tinha outras perspectivas esportivas e, se viesse ao Brasil, sem ofender ninguém, sem desprezar ninguém, tinha que ser uma equipe que me desse pelo menos a ideia que pudesse brigar pelo título", contou Jorge Jesus em entrevista à Fox Sports, já em 2020, depois do sucesso no Flamengo, que ofereceu a ele algo que o Atlético não era capaz de atender.

JJ previu a vitória do Flamengo e errou

Além do jantar na casa de Ricardo Guimarães, a passagem de Jorge Jesus por Belo Horizonte também tinha uma parada no Independência. Do camarote de um banco no estádio, o treinador acompanhou a partida entre Atlético e Flamengo. O primeiro tempo foi bastante equilibrado, com um gol para cada lado. Cazares abriu o placar e Bruno Henrique empatou. No fim da etapa inicial, o volante Elias foi expulso. Com um a menos, a situação ficou complicada para o time da casa.

No intervalo, a direção do Atlético foi até o camarote em que estava Jorge Jesus. "Foi uma conversa rápida, pois naquele momento já estava definido que ele não seria contratado. Os investimentos estavam previstos somente a partir de 2020", contou Lásaro Cunha, então vice-presidente do Atlético em 2019, ao UOL Esporte.

O tema da conversa, como não poderia ser diferente, foi o jogo. Jorge Jesus previu a derrota do Atlético, pelas carências do time e também pelo fato de estar com um a menos para o segundo tempo. "Ele falou sobre as deficiências do time e disse que o Atlético seria derrotado. Falei com ele que ficaria 2 a 1, pois o Galo sempre é forte diante da torcida. Depois da partida, ele me falou que acertei e elogiou bastante a nossa torcida", lembrou o ex-dirigente.

Abel Braga era o técnico do Flamengo naquela partida e na coletiva colocou a derrota para o Atlético como algo normal, o que irritou bastante a torcida rubro-negra. Poucos dias depois, o treinador entregou o cargo e Jorge Jesus foi o escolhido pela diretoria do clube carioca para comandar o time. Deu muito certo, afinal de contas, o Flamengo venceu o Brasileirão e a Copa Libertadores daquela temporada.

Um Atlético muito diferente em 2022

Se em 2019 a falta de investimento no futebol foi a justificativa para Jorge Jesus não negociar com o Atlético, a situação é completamente diferente para 2022. Turbinado por mecenas e pelo sucesso dentro de campo, o Galo se tornou um grande atrativo no futebol brasileiro. Diferentemente de alguns anos atrás, agora o Atlético é capaz de oferecer tudo o que Jorge Jesus deseja: time forte, elenco farto e boa situação financeira.

A negociação para que o português assuma o comando técnico atleticano já começou e será retomada depois deste final de semana. Em uma mensagem postada no site oficial destinada aos torcedores, a diretoria do Atlético promete que esses vão ter boas notícias muito em breve.

"Para o cargo de treinador, queremos um nome que compartilhe dessas diretrizes e que, necessariamente, entenda a grandeza da nossa camisa. Sabemos que você, torcedor, está ansioso por novidades. E elas chegarão: mas a seu tempo e modo."