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'Sonho realizado', conta ex-meia Rodrigo 'Beckham' sobre surfar em Nazaré

Ex-meia Rodrigo Beckham surfando em Nazaré, Portugal - Reprodução Instagram
Ex-meia Rodrigo Beckham surfando em Nazaré, Portugal Imagem: Reprodução Instagram

Alexandre Araújo

Do UOL, no Rio de Janeiro (RJ)

30/12/2021 04h00

Rodrigo Juliano, conhecido como Rodrigo Beckham, defendeu grandes clubes do futebol brasileiro e chegou a atuar na Inglaterra. Após pendurar as chuteiras, porém, pôde dedicar mais tempo a uma outra paixão da infância e mostrar uma faceta não tão conhecida do grande público: a de surfista. Recentemente, inclusive, encarou os paredões de Nazaré, em Portugal, local conhecido como a "meca das ondas gigantes".

Natural de Santos, litoral de São Paulo, o ex-meia conta que cresceu com o pé na areia e com uma prancha debaixo do braço. Apesar do gosto pelo mar, seguiu o sonho de ser jogador de futebol. Porém, sempre que conseguia, tinha nas ondas o refúgio ideal.

"Sou santista e, desde garoto, minha família tinha casa de praia. Meu avô, pai da minha mãe, proporcionou essa experiência mágica de, desde bebê de colo, viver com o pé na areia na praia de São Pedro, no Guarujá. Sempre fui apaixonado pelo mar e desde muito cedo comecei a praticar surfe", lembra ele, ao UOL Esporte.

"Nazaré é algo que chama a atenção, mas vivi o surfe a minha vida inteira, desde muito jovem. Já surfei no mundo inteiro, em grandes praias e picos remotos. Sou apaixonado por surfe e, mesmo na época que jogava bola profissionalmente, quando tinha oportunidade de fazer uma viagem no calendário, sempre optava por viagens de surfe", completou.

Nas andanças que a modalidade proporcionou, Rodrigo ganhou companhia e fez amizade com nomes de peso do esporte radical.

"Por isso sou amigo de grandes nomes do surfe, como Carlos Burle, Pedro Scooby, Lucas Chumbinho, Ian Cosenza... Tenho uma relação com essa galera já de muitas viagens, de diversas oportunidades que tivemos de estarmos juntos", disse.

Rodrigo Beckham deu os primeiros passos no futebol na Portuguesa Santista e passou pelo Guarani antes de desembarcar no Gama, onde foi peça importante na conquista da Série B do Brasileiro de 98. No ano seguinte, foi para o Botafogo e não demorou a cair nas graças da torcida, sendo nome de destaque na virada do século.

Rodrigo Bekcham em ação pelo Botafogo. Ele esteve no Alvinegro entre 1999 e 2002 - FÁBIO MOTTA / ESTADÃO CONTEÚDO - FÁBIO MOTTA / ESTADÃO CONTEÚDO
Imagem: FÁBIO MOTTA / ESTADÃO CONTEÚDO

O meia atuou ainda no Atlético-MG, antes de se transferir para o futebol inglês, onde defendeu o Everton, do meio de 2002 ao fim de 2003. No retorno ao Brasil, vestiu as camisas do Corinthians, Juventude, Athletico-PR, Vasco, Boavista, Paraná, Fortaleza e Red Bull Brasil.

Surfar em Nazaré foi sonho realizado

Rodrigo conta que ter surfado em Nazaré foi um misto de acaso com a segurança de estar com pessoas em quem confiava.

"Sou português também, minha família tem apartamento lá. Por acaso, estava em Portugal e vi que ia entrar esse swell, que era um swell muito especial. Não conhecia Nazaré, mas tinha esse sonho de surfar essa onda. Vi que o Burle estava chegando a Portugal com o Lucas Chumbinho e com o Caio Vaz. Liguei para ele e falei que queria surfar muito essa onda. Ele disse que não me prometia, mas que eu estava convidado para acompanhar e, se rolasse uma condição interessante, me levaria", recorda.

Ainda nos tempos de Botafogo, o ex-jogador chegou a dividir moto aquática com Burle para a prática do chamado Tow-in —técnica na qual o surfista é rebocado por uma moto aquática até a onda.

"Cheguei um dia antes desse swell gigante, que deu 60, 70 pés. É uma experiência bizarra. Realmente, ela [onda] é assustadora. Neste dia, o tempo estava fechado, ventando muito. Nunca tinha visto ondas daquele tamanho e com aquele poder. No dia seguinte, o mar subiu muito. Depois, deu um dia de sol, e o mar estava em uns 20, 25 pés. O Burle perguntou: 'E aí, vamos?'. Era o sonho da minha vida. Foi um sonho realizado", enfatizou.

"Meditação ativa"

O futebol e o surfe sempre caminharam lado a lado na vida de Rodrigo, que ressalta ter conseguido fazer as modalidades se completarem. Ele considera que o surfe se tornou uma "meditação ativa", para equilibrar a euforia proporcionada pelo futebol.

"Foram atividades complementares totalmente na minha vida. Faço os dois desde muito novo, sempre gostei muito, mas o surfe, naquela época, não era algo que eu conseguiria seguir carreira. Tinha o sonho de me tornar jogador de futebol e um dos meus desejos era ganhar dinheiro jogando futebol para, depois, viajar o mundo surfando. O surfe sempre foi, para mim, uma meditação ativa. Sempre fui um cara muito acelerado e o surfe me trouxe um equilíbrio e uma sensação diferente do futebol, que era de êxtase, euforia de vencer", avaliou.

Trabalho em Saquarema

Entre 2014 e 2016, Rodrigo Beckham esteve na comissão técnica do Boavista, time que já havia defendido nos tempos de jogador. A curiosidade é que o clube é sediado em Saquarema, cidade que fica na Região dos Lagos e é conhecida como a "Capital do Surfe", sendo a única da América do Sul, desde 2017, a receber o Campeonato Mundial da categoria (World Surf League - WSL).

"Foi muito legal. Saquarema é palco do surfe nacional e mundial, e tinha grandes amigos que moravam em Saquarema. Sempre que estava sem Saquarema sem compromisso e tinha onda, estava em contato com eles e surfando. Realmente, era algo diferente. Era treinador do Boavista nesta época, e foi um ano em que pude surfar e ter essa experiência de estar neste lugar", contou.

Na primeira temporada, trabalhou com Américo Faria, ex-coordenador técnico da seleção brasileira, quando o clube foi campeão da Taça Rio —que naquele ano foi um torneio "extra" no Carioca. Em 2015, como treinador, conseguiu livrar o time do rebaixamento no Estadual, enquanto, na temporada seguinte, terminou na sexta posição.

Instrutor de surfe

O ex-meia também teve a oportunidade de ser instrutor de surfe e despertou para isso após conseguir ensinar o esporte ao próprio filho, Davi:

"Isso aconteceu por ter transformado o meu filho em menos de seis meses. Era uma criança sem experiência alguma com o mar, e hoje, com oito anos, surfa comigo ondas de um metro e meio. No dia que fiz essa transformação em casa com o Davi, me senti com todas capacidade de ensinar para iniciantes. Estava em Portugal, de férias, conheci um dono de um escolinha e acabei, por duas semanas, dando aula de surfe lá. Foi uma experiência muito bacana."

Experiência no Red Bull Brasil

Finalista da Sul-Americana e com vaga na fase de grupos da Libertadores do ano que vem pela colocação no Brasileiro, o Red Bull Bragantino ganhou destaque na temporada. Em 2010, quando o projeto dava os primeiros passos no país e ainda se chamava Red Bull Brasil, Rodrigo Beckham defendeu o último clube na carreira e viveu uma experiência, até certo ponto, inusitada.

"O Red Bull, para mim, foi um grande aprendizado. Tinha acabado de me formar, quando parei de jogar. Tinha me formado em gestão esportiva, pela FGV, e quando o Markus Schruf, que era diretor do Red Bull em 2010, entrou em contato comigo e quis me contratar como atleta, tive uma conversa muito séria e falei: 'Markus, tive um problema no joelho e acho que não vou conseguir render o que gostaria. Preferia que me contratasse como consultor'. Ele falou que contraria como consultor também, mas que queria que eu estivesse em campo. E foi uma experiência mágica, ajudei a escolher treinador, indicar jogadores, tudo isso jogando também. E ainda fomos campeões da A3, subindo para a A2", conta.

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