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A um ano da final da Copa 2022, o que a seleção e a CBF fazem para estar lá

Tite durante a partida da seleção brasileira contra a Colômbia pelas Eliminatórias - Nelson Almeida/AFP
Tite durante a partida da seleção brasileira contra a Colômbia pelas Eliminatórias Imagem: Nelson Almeida/AFP

Gabriel Carneiro e Igor Siqueira

Do UOL, em São Paulo e Rio de Janeiro

18/12/2021 04h00

Em um ano, o estádio Lusail, no Qatar, receberá a final da Copa do Mundo de 2022 — evento dos mais aguardados do universo esportivo, como indica a audiência global de 1,12 bilhão de espectadores na decisão do Mundial da Rússia, em 2018. A seleção brasileira não vai a uma final de Copa desde 2002, quando, inclusive, ganhou o pentacampeonato. Mas o que a CBF e a comissão técnica estão fazendo para que o jejum — a essa altura igual ao vivido em 1990 — não se amplie ainda mais?

A primeira Copa disputada entre novembro e dezembro demanda alguns preparativos particulares, distintos de outras edições. A questão do calendário, por exemplo, é a mais sensível, pensando não só na montagem do time, como também nos jogos preparatórios até lá. O ano de 2022, inclusive, calhou de ser crucial para a própria CBF, que passa por um momento decisivo politicamente.

A disputa para estar entre os 23 convocados

Tite foi uma exceção por permanecer no cargo após a Copa da Rússia. Com isso, não houve uma ruptura na filosofia de trabalho. Há um cultivo de seis anos (desde junho de 2016). No entanto, a tarefa tem sido modelar a equipe ao longo do tempo. E dá para perceber, sim, que ainda está em curso uma renovação da seleção.

Vini Jr. em ação pela seleção brasileira contra a Colômbia - Lucas Figueiredo/CBF - Lucas Figueiredo/CBF
Vini Jr. em ação pela seleção brasileira contra a Colômbia
Imagem: Lucas Figueiredo/CBF

Há uma espinha dorsal, sobretudo no que diz respeito a goleiros, sistema defensivo e a um contingente de jogadores que são indispensáveis, como Casemiro e Neymar. Mas os "satélites" ao redor ainda não estão em uma órbita estável. É nisso que Tite tem trabalhado nos últimos jogos — com a tranquilidade de ter obtido os resultados que deram ao Brasil a classificação com seis jogos de antecipação.

Imaginando nome por nome da convocação final de 23 jogadores, dá para imaginar que os goleiros já estão definidos: Alisson, Ederson e Weverton. Na zaga, Thiago Silva, Marquinhos e Eder Militão são indiscutíveis, restando aberta a lacuna para o quarto elemento. As laterais dão certa dor de cabeça — Danilo e Alex Sandro têm sido titulares, com Emerson e Renan Lodi como alternativas. Mas Daniel Alves, que aos 38 anos voltou ao Barcelona, quer participar da festa.

O meio-campo tem algumas incógnitas, mas isso não envolve Casemiro e Fabinho —o Brasil está muito bem servido de primeiro volante. Fred tem sido o titular no setor, mas ainda cabe mais um jogador aí. E ele tem sido Gerson, embora a fase no Olympique de Marselha não seja das melhores.

Mais à frente, Paquetá está em fase ótima e desfruta da titularidade de um lado. Raphinha foi o achado recente para o outro. Como alternativa, um Antony em ascensão desde o ouro olímpico. O papel de Neymar vai ser decisivo para determinar se haverá espaço para Vinicius Júnior. A sensação do Real Madrid está na melhor fase da carreira, mas ainda precisa estourar com a camisa da seleção.

No ataque, uma disputa acirrada entre Gabriel Jesus, Firmino, Richarlison, Matheus Cunha e até Gabigol. A matemática já avisa: não haverá espaço para todos eles.

Padrão de jogo?

O Brasil que foi à Rússia, em 2018, é bem diferente do atual. O 4-1-4-1 migrou para o 4-4-2. E isso passa muito pela mudança do papel de Neymar, que não é mais um jogador tão agudo, que ocupava a faixa esquerda do campo com jogadas constantes de velocidade. O craque agora cumpre um papel de articulador e "carimba" as bolas na construção com mais frequência.

Ao longo da campanha, Tite já desenhou uma seleção que, com a bola, posicionava-se no 3-2-5 na fase ofensiva. Um lateral mais agudo pela esquerda, com a construção do lateral-direito mais centralizada, espalhando bem a última linha para abrir adversários retrancados. Mexidas de lá e de cá, o eixo da amplitude mudou um pouco. O fato é que o canhoto Raphinha traz o elemento do drible e da velocidade na direita. Paquetá pendula da esquerda para o meio e Neymar circula livremente. Nas Eliminatórias, o Brasil tem 27 gols marcados em 13 partidas.

Algumas atuações recentes deixaram a desejar, mas reforçaram que o sistema defensivo é um ponto forte do time: foram apenas 4 gols sofridos ao longo da campanha, e o Brasil assegurou, assim, 11 vitórias e dois empates.

Uniforme?

Como previsto contratualmente, a seleção brasileira e a Nike lançam uma coleção nova de uniformes por ano. Oficialmente, isso ainda não aconteceu, mas o site Footy Headlines divulgou dois modelos vazados. No uniforme principal, uma tonalidade diferente de amarelo, mais leve, com uma gola que remete à camisa polo. No azul, um incremento nas mangas que lembra pele de onça. Os detalhes são em amarelo e, à medida que chegam ao braço, se misturam a um fundo verde.

Suposta nova camisa 2 da seleção brasileira teria uma estampa diferente - Reprodução/FootyHeadlines.com - Reprodução/FootyHeadlines.com
Suposta nova camisa 2 da seleção brasileira teria uma estampa diferente
Imagem: Reprodução/FootyHeadlines.com

Local de treino e preparação?

Pelo calendário da Fifa, os jogadores precisam estar liberados para as suas respectivas seleções em 14 de novembro. A abertura da Copa do Mundo será no dia 21. Normalmente, o período inicial de reunião dos jogadores e os exames físicos acontece na Granja Comary, em Teresópolis. Mas esse tempo curto pode mudar os planos. A torcida da comissão técnica é que a seleção caia em grupos que comecem mais adiante na Copa, como o G e H. O sorteio será em 1º de abril.

Quanto à preparação física, a diferença é que os jogadores que atuam na Europa estarão, em tese, em plena forma, no meio da temporada. Enquanto quem atua no Brasil estará em fim de ano: a última rodada do Brasileirão será em 13 de novembro.

Para a estadia no Qatar, a CBF já tem um hotel em vista. Parte da comissão técnica esteve no país no começo do mês para vistoriar o possível quartel-general da seleção e eventuais locais de treinos em Doha. Como os estádios são muito próximos e não há deslocamentos entre cidades, a logística é completamente diferente nesta Copa. Na Rússia, a seleção optou por ter Sochi como base —a delegação ia e voltava a para lá a cada perna do Mundial. Inclusive com as famílias dos jogadores.

Tite e Juninho Paulista em visita a local de treino no Qatar - Divulgação/CBF - Divulgação/CBF
Tite e Juninho Paulista em visita a local de treino no Qatar
Imagem: Divulgação/CBF

Amistosos pré-Copa?

Uma desafio para a diretoria de seleções é definir os amistosos de preparação. As Eliminatórias vão ocupar ainda pelo menos quatro datas Fifa: janeiro/fevereiro e março. Ainda há a questão pendente na Fifa sobre o destino do jogo contra a Argentina, suspenso após a entrada da Anvisa em campo para impedir que quatro jogadores argentinos atuassem.

No calendário internacional, é possível fazer quatro amistosos em junho e dois em setembro. A CBF aguarda o sorteio para saber se vai dar tempo fazer algum em novembro, na semana que antecede a Copa do Mundo.

Em junho, a CBF entende que o melhor é fazer três amistosos, se possível na Europa. Mas o desafio é encontrar adversários do Velho Continente. A Nations League preenche o calendário e obriga o Brasil a enfrentar vizinhos sul-americanos ou seleções de continentes cujo nível técnico é mais baixo.

Direção da CBF

Tite será o técnico da seleção na Copa. Mas e o presidente da CBF? Não dá para arriscar um nome ainda. A entidade vive um momento de transição política após o afastamento de Rogério Caboclo por conta de denúncias de assédio moral e sexual. Hoje, a cadeira presidencial está com Ednaldo Rodrigues, um dos vices eleitos com Caboclo em 2018. Mas a assembleia geral deve confirmar em janeiro uma segunda punição a Caboclo, que resultaria em um período de gancho para além de abril de 2023, quando seu mandato terminaria. Logo, a vacância definitiva do cargo se configurará e nova eleição para completar esse mandato será convocada.

Desse primeiro pleito, só podem participar os oito vices da CBF. Além de Ednaldo Rodrigues, estariam elegíveis Gustavo Feijó, Fernando Sarney, Castellar Neto, Francisco Novelletto, Coronel Nunes, Antônio Aquino e Marcos Vicente. Mas a tendência é que dois ou três deles tentem articulação mais intensa para serem eleitos de imediato.

Vice-presidentes da CBF e Rogério Caboclo, na eleição da entidade em 2018 - Lucas Figueiredo/CBF - Lucas Figueiredo/CBF
Vice-presidentes da CBF e Rogério Caboclo, na eleição da entidade em 2018
Imagem: Lucas Figueiredo/CBF

Em condições normais, a CBF realizaria em abril mais uma eleição, mas para o mandato que começa em abril de 2023 e vai até abril de 2027. As candidaturas para essa são mais amplas, desde que se cumpra a cláusula de barreira: obtenção de apoio de oito federações e cinco clubes.