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Grêmio cumpre cartilha da Série B com punição, arbitragem e gritaria

Torcedores do Grêmio lamentam rebaixamento para a Série B do Brasileirão - ESTADÃO CONTEÚDO
Torcedores do Grêmio lamentam rebaixamento para a Série B do Brasileirão Imagem: ESTADÃO CONTEÚDO

Jeremias Wernek e Marinho Saldanha

Do UOL, em Porto Alegre

10/12/2021 04h00

A última página da "cartilha da Série B" foi preenchida ontem (9). Mesmo após a vitória sobre o Atlético-MG, que acabou "anulada" devido ao triunfo do Juventude sobre o Corinthians, o Grêmio está rebaixado para a Segunda Divisão pela terceira vez em sua história. As páginas deste novo livro seguiram um enredo não tão diferente de outras tantas quedas de clubes grandes, com punições, muita reclamação sobre arbitragem e acusações de parte a parte.

A trajetória do Grêmio foi ímpar neste Brasileirão. Como jamais tinha ocorrido, o time esteve na zona de rebaixamento praticamente de ponta a ponta da competição. Entrou no quarteto mais baixo da classificação na segunda rodada e de lá jamais saiu.

A "água começou a bater no queixo" mesmo do meio para o fim do torneio. Até lá alguns pontos-chave da sina dos rebaixados já tinham sido cumpridos. Como troca de treinador, entre Tiago Nunes e Luiz Felipe Scolari e, depois, de Felipão para Vagner Mancini. Sem contar as contratações para tentar evitar o pior com Borja, Villasanti e Campaz, que, juntos, custaram aproximadamente R$ 45 milhões.

Outro ponto comum em quedas de clubes grandes é a troca na diretoria. Muitas vezes, sem certeza sobre qual o real problema que está ocasionando o rendimento aquém do esperado, os dirigentes são substituídos. No Grêmio não foi diferente, com Marcos Herrmann dando lugar a Denis Abrahão e Sergio Vasques no departamento de futebol.

O ápice da "cartilha da queda" veio no jogo contra o Palmeiras. Antes, o pedido do clube pela presença da torcida foi atendido. Aficionados ocuparam os lugares autorizados na Arena e tentaram empurrar a equipe para pular fora da zona da degola — oportunidade que já tinha aparecido e se perdido algumas vezes naquela altura da competição.

Não foi possível. Com requintes de crueldade do destino, o Grêmio saiu na frente, levou empate, a virada, teve um gol anulado com auxílio do VAR e depois sofreu o terceiro. Foi a senha para que, após a partida, um grupo de torcedores invadisse o campo, agredisse seguranças e quebrasse a cabine do VAR.

Gremistas em campo - Reprodução / TV Globo - Reprodução / TV Globo
Torcedores do Grêmio invadem campo após a derrota para o Palmeiras
Imagem: Reprodução / TV Globo
VAR destruído por gremistas - Reprodução/Premiere - Reprodução/Premiere
VAR foi destruído pelos torcedores do Grêmio após derrota para o Palmeiras
Imagem: Reprodução/Premiere

A punição do STJD era óbvia. Ainda que o clube tenha trabalhado para identificar e punir os invasores, veio uma liminar que obrigou a equipe a jogar de portões fechados e não ter qualquer torcedor seu presente nem mesmo em jogos como visitante.

"A torcida se rebelou, não é à toa, e não foi contra nós", avaliou o vice de futebol Denis Abrahão na ocasião da destruição da cabine do VAR.

Nos microfones, mais um ponto alto da lista de afazeres de um rebaixado: a reclamação.

"É uma esculhambação. Isso não é desculpa de perdedor, porque eu não sou e o Grêmio também não. O Grêmio é campeão mundial. Eu quero igualdade. Eu só quero isonomia porque o Grêmio foi prejudicado nos últimos três jogos", disse Abrahão.

"Por que os pênaltis contra mim são marcados e para mim não são? Foi pênalti, e não sei nem se o Cavichioli [Matheus, goleiro do América-MG] não tinha que ser expulso. O Grêmio levou 3 a 1, mas passou pela arbitragem, porque estava 1 a 0 [na ocasião do lance]. O time já está nervoso, numa situação ruim, e acontece uma situação dessas. O Grêmio de novo prejudicado pela arbitragem. Por que? Não adianta, a arbitragem é fraca", afirmou depois da derrota para o América-MG.

A "gritaria" gremista não ficou restrita aos microfones. O clube foi até a Comissão de Arbitragem, reclamou na CBF, questionou o STJD. Tudo antes de se olhar no espelho para procurar razões para a queda.

A tônica da reclamação, sempre em timbre elevado e até tom ameaçador, se estendeu até o fim da caminhada. Porém, já visivelmente mais abalado, após o jogo contra o Bahia, Abrahão admitiu que a equipe não estava demonstrando capacidade de superar suas dificuldades.

"Perdemos para o Bahia e eu não tenho nem de quem reclamar. Vou colocar a culpa em quem? Só em nós mesmos", disse depois de mais um infortúnio, dessa vez em Salvador.

E na última semana antes da matemática levar o pouco de esperança que ainda restava, mais um capítulo da novela da queda aconteceu. Veio o afastamento de uma série de jogadores com a "falta de comprometimento" como razão. Entre eles, atletas lesionados, que não participavam ativamente dos jogos, e Jean Pyerre, o que mais atuava do grupo dos afastados.

Enquanto isso, no fim de semana que sucedeu a derrota para o Bahia, Douglas Costa, expoente técnico e um dos pilares do time, foi visto em um show de pagode.

Tanto trilhou passos firmes de um roteiro já conhecido que o Grêmio não poderia ter outro destino. Foi rebaixado para a Série B com xx rodadas de antecedência.

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