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Calendário limita foco da seleção a 'europeus' nos primeiros jogos de 2022

Tite durante treino da seleção brasileira na Academia de Futebol - Lucas Figueiredo/CBF
Tite durante treino da seleção brasileira na Academia de Futebol Imagem: Lucas Figueiredo/CBF

Gabriel Carneiro e Igor Siqueira

Do UOL, em São Paulo e San Juan (ARG)

18/11/2021 04h00

Concluído o calendário da seleção brasileira em 2021 com empate contra a Argentina, a comissão técnica já vai virar a chave nas próximas semanas para o começo de 2022. Diferentemente de outros anos, onde os primeiros compromissos da temporada aconteceram só em março, o cronograma de partidas do ano da Copa do Mundo do Qatar tem tarefas a cumprir já em janeiro. E esse cenário mexe com quem geralmente faz parte do radar de Tite, beneficiando quem atua na Europa e atrapalhando os que defendem times do futebol nacional.

A concentração ainda maior em quem está no exterior se exemplifica com os planos da comissão técnica de retomar as observações in loco em território europeu até o fim do ano.

O Brasil enfrenta a Colômbia, em 27 de janeiro, e o Paraguai em 1º de fevereiro, no Mineirão. Como a convocação oficial deve ser feita com no mínimo 15 dias de antecedência em relação ao início da data Fifa (24 de janeiro), a tendência é que por volta de 7 de janeiro Tite anuncie seus escolhidos para defender a seleção nessas duas partidas. Quem atua no território nacional ainda estará de férias quando a convocação sair. No início do período de treinos da seleção, a pré-temporada ainda estará em curso, já que os estaduais começam em 26 de janeiro.

Tite já experimentou essa versão da seleção só com "estrangeiros" no desenvolvimento da lista mais recente. Na convocação mais recente, deixou os jogadores dos clubes brasileiros fora da lista inicial, com exceção do goleiro Gabriel Chapecó. Posteriormente, com Casemiro suspenso para enfrentar a Argentina, recorreu a Edenílson, do Internacional.

Essa perspectiva em relação ao começo de 2022 afeta o goleiro Weverton, muito embora seja muito difícil que ele perca o lugar entre os três selecionados, ao lado de Alisson e Ederson.

O problema maior fica para os jogadores de linha que almejam convencer Tite de que merecem um lugar na Copa. Everton Ribeiro e Gabigol, do Flamengo, são os mais ameaçados. Já haveria uma concorrência natural devido ao setor no qual atuam. Perder jogos em nada contribui para a "disputa leal e sadia" incentivada por Tite.

Com eles fora, houve a consolidação de Vini Jr e Raphinha, a volta de Coutinho e a titularidade para Matheus Cunha — sem contar o fato de Firmino e Richarlison terem ficado fora da convocação.

Na zaga, a lesão grave que Lucas Veríssimo sofreu no joelho poderia abrir uma perspectiva para Rodrigo Caio, também do Flamengo, que já entrou em pré-listas anteriores. Tite chegou a pensar em chamá-lo para os jogos contra Colômbia e Argentina, substituindo o defensor do Benfica. Mas o coordenador técnico Juninho Paulista o convenceu do contrário e o convocado, ao fim das contas, foi Gabriel Magalhães, do Arsenal.

Na lateral-esquerda, a consolidação de Guilherme Arana também fica sob risco. Campeão olímpico e destaque do Atlético-MG, Arana disputa posição com Renan Lodi, que está longe de uma fase brilhante no Atlético de Madrid. Mas a geografia, neste caso, pode fazer a diferença.

Só que o calendário dificulta também a perspectiva de potenciais novos entrantes na seleção, como o lateral-direito Vanderson e o meia Raphael Veiga, ou a volta de Renato Augusto, de quem Tite é fã declarado.

De todo modo, o técnico da seleção já avisou que usará os jogos que restam pelas Eliminatórias como preparatórios, com espírito de Copa do Mundo, e não como brecha para testes em massa.