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Da euforia ao pânico: assédio sexual se repete em jogos do Atlético-MG

Debora Cotta foi vítima de importunação sexual no Mineirão - Reprodução Twitter
Debora Cotta foi vítima de importunação sexual no Mineirão Imagem: Reprodução Twitter

Victor Martins

Colaboração para o UOL, em Belo Horizonte (MG)

12/11/2021 04h00

Algumas semanas separam os atleticanos de uma espera que já dura 50 anos: o Atlético-MG está a um passo de ser o campeão brasileiro de 2021 e os torcedores sabem disso. Tanto é assim que lotam o Mineirão rodada após rodada. Quase 180 mil pessoas estiveram no Gigante da Pampulha nos triunfos seguidos sobre Grêmio, América-MG e Corinthians. A euforia é grande e a sintonia entre time e torcida está fina, mas nem tudo está bem: casos de assédio sexual se multiplicam nos últimos jogos e estão deixando marcas em torcedoras atleticanas.

Há relatos de todos os tipos, não é um caso isolado. Novas denúncias têm surgido a cada partida, ganhando força e volume desde que a capacidade total do estádio foi liberada. Vítima de assédio anteontem, na vitória do Galo sobre o Corinthians, a atleticana Débora Cotta, de 25 anos, quer lutar pelo direito de ir em paz a um estádio de futebol, sem ser importunada, incomodada ou desrespeitada.

Alguns tuítes da torcedora do Galo viralizaram ontem, falando sobre a dificuldade que as mulheres encontram para frequentar o Mineirão em dia de casa lotada. Presença constante no estádio, Débora infelizmente teve que elaborar uma estratégia para evitar o assédio. Nada de comprar cerveja no intervalo, já que a fila é grande e há quem aproveite o momento para passar a mão no corpo das moças ou se esfregar.

"Deixo para comprar a cerveja depois do intervalo. É melhor perder alguns minutinhos do segundo tempo", disse em entrevista ao UOL Esporte.

Anteontem, não adiantou: Débora foi agarrada e beijada à força por um assediador. Choro, raiva, anestesia e nada de ver o segundo tempo. Ela pagou preço cheio no ingresso, mas assistiu apenas um tempo do jogo. Não foi possível ver os belos gols de Keno e Hulk, nem aproveitar uma noite histórica no Mineirão.

Conselho de um policial e uma enxurrada de relatos

"A equipe de guardas do Mineirão é totalmente despreparada. Reclamei do que aconteceu e a única coisa que fizeram foi me mandar procurar a polícia. Viraram as costas e me deixaram ali, chorando sozinha", contou Débora.

"Com a polícia foi muito tranquilo, me deram toda a assistência necessária. Não deu nem 15 minutos e já tinham uma imagem do rosto do agressor. Foi então que um policial me chamou para conversar e me orientou. Disse que isso só vai parar se a gente denunciar, seguir adiante."

Foi então que Débora decidiu tornar público tudo o que aconteceu. Ao mesmo tempo que ela jogou luz sobre o assunto, outras mulheres usaram o direct do Twitter para relatarem casos semelhantes ao dela que aconteceram nos três últimos jogos do Atlético, no Mineirão.

"Uma moça me contou que teve a mão mordida. O cara queria ver a foto de capa do celular dela, pois era uma foto de biquíni. Ela não deixou, mas o cara mordeu a mão dela para conseguir pegar o celular", exemplificou Débora, que no dia seguinte ao jogo foi até uma delegacia para prestar queixa.

Por meio de uma nota oficial, o Mineirão informou que trabalha para aprimorar o atendimento a quem frequenta o estádio. "O Mineirão informa que vem aprimorando o treinamento de seus prestadores de serviço e tem trabalhado para o melhor acolhimento das torcedoras. É importante que denúncias como essa sejam feitas para que o estádio leve ao conhecimento das autoridades policiais".

Em 2019, o estádio lançou a campanha Repense, visando combater o assédio e tornar o estádio um lugar seguro para mulheres. "Queremos um estádio melhor. Queremos um mundo melhor para todas as mulheres. Para isso, REPENSEM!", era o tema da campanha.

Dia de reuniões na comunicação do Atlético

A denúncia da torcedora e vários outros relatos já são de ciência do Atlético-MG, que estuda ações para combater o problema. O departamento de comunicação do Galo passou a quinta-feira em reunião para definir o que fazer e como fazer. O clube deve lançar em breve uma campanha.

Enquanto isso, torcedoras são forçadas a procurarem alternativas para poderem acompanhar de perto a iminente conquista do Campeonato Brasileiro. No caso de Débora, por enquanto, isso significa não ir mais sozinha ao estádio. "Não vou deixar de frequentar o Mineirão, mas agora eu vou acompanhada".

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