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Ceni vê São Paulo com dificuldades na criação e evita falar em rebaixamento

Brunno Carvalho

Do UOL, em São Paulo

11/11/2021 02h09

O técnico Rogério Ceni deixou o empate do São Paulo com o Fortaleza por 1 a 1 com preocupação pelas poucas chances criadas pelo time paulista. Foram apenas três chutes no gol da equipe cearense e outras seis finalizações para fora.

"Vem faltando algo, sim. Acredito que vamos ter que arrumar uma solução para ter maior criatividade, sim. Mas nós não podemos contra um Fortaleza não ser competitivo, senão eles passam por cima. Se você for pegar o jogo do São Paulo contra o Fortaleza pela Copa do Brasil, é nítida a diferença de como a equipe competiu hoje e como a equipe se portou há poucas semanas jogando a Copa do Brasil", disse Rogério, na entrevista coletiva depois da partida.

O São Paulo foi eliminado da Copa do Brasil justamente para o Fortaleza. Ainda sob o comando de Hernán Crespo, a equipe empatou o jogo no Morumbi por 2 a 2 e foi derrotada no Castelão por 3 a 1.

Questionado sobre como resolver o problema de criação, especialmente a falta de profundidade da equipe, Ceni afirmou não ter peças no elenco que façam o time jogar de outra maneira. Ele citou o fato de ter apenas Marquinhos como um atacante de velocidade à disposição.

"Esse ano não tem como resolver porque para você ter profundidade você precisa jogar com jogadores abertos. A única maneira de a gente ser um pouco mais profundo é liberar os alas por não ter esses velocistas. Eu não tenho nenhuma troca de um velocista por outro mesmo que eu inicie um jogo com o Marquinhos", explicou.

"A montagem do elenco ao longo dos últimos anos não culminou com opções de jogo, para ter uma variação maior de jogo. Nós podemos botar o Benítez por dentro, mas o Benítez não é um jogador de velocidade. Jogador mais rápido que temos dentro do elenco e vem jogando é o Rigoni, por exemplo, que não é um velocista, mas é um jogador de muito boa condução, drible, finalização. Então é difícil você acelerar o jogo. O jogo para nós é complicado ser acelerado porque nós não temos esse jogador para lançar e dar profundidade. Temos que fazer o jogo de acordo como nós encontramos o elenco montado", prosseguiu.

A briga é contra o rebaixamento?

O empate em Fortaleza deixou o São Paulo em uma situação perigosa na tabela do Brasileirão. Ao mesmo tempo em que sonha com uma vaga na Libertadores, a equipe começa a olhar para a zona de rebaixamento. Apenas cinco pontos separam o time de Rogério Ceni do Juventude, primeiro time dentro da zona da degola, que tem uma partida a menos do que o São Paulo.

"Eu não posso falar [sobre rebaixamento]... o que eu posso dizer para você é que estamos tentando fazer o maior número de pontos possíveis. Faltam sete rodadas, acho que estamos meio em uma intermediária entre as duas brigas. A distância entre pré-libertadores e rebaixamento é mais ou menos a mesma. Não parei para ver a tabela pós-jogo. Não vou me referir a uma coisa nem outra, nós temos que ir para tentar fazer o São Paulo jogar o melhor futebol possível, sair de uma situação que era muito incômoda quando a gente chegou aqui", disse Ceni.

Na última terça-feira (9), o presidente Júlio Casares se mostrou temeroso com a possibilidade de o São Paulo não conseguir uma vaga na próxima Libertadores. O mandatário afirmou que a ausência na competição traria prejuízos esportivos e financeiros ao time do Morumbi, que vive uma grave crise econômica.

"Prejuízo, pelo que eu sei já tem prejuízo aqui há bastante tempo, né. Há anos o prejuízo parece que... eu lembro que quando saí daqui tinha R$ 150 milhões em dívida, quatro anos atrás. Hoje acho que tem R$ 600 milhões em dívida. Então o prejuízo vem aumentando ano após ano. Claro que seria sempre gostoso ver o São Paulo jogando Libertadores, eu espero que a gente brigue ainda nas últimas rodadas por isso, mas nós temos que somar pontos. O objetivo aqui é somar o máximo número de pontos. Não vou analisar sobre um lado ou outro", completou Ceni.

Por causa das finais da Libertadores, da Copa do Brasil e da Copa Sul-Americana, o Brasileirão poderá ter até um G-9 para a competição continental. O aumento de vagas é o que faz o São Paulo ainda sonhar em disputar a Libertadores. Com 38 pontos, a equipe está a quatro de distância do Fluminense, oitavo colocado, e três do Athletico, nono.

Depois de dois jogos fora de casa, o São Paulo volta aos seus domínios na próxima rodada. A equipe enfrentará mais um time comandado por Ceni em tempos recentes: o Flamengo, no Morumbi, no domingo (14), às 16h (de Brasília).

Confira outras declarações de Rogério Ceni:

Gol de falta de Benítez

Eu fico feliz porque o gol de falta, em especial, é uma coisa que eu treinava muito, e ele hoje teve essa oportunidade. Ele e o Vitor Bueno ficaram ali com a bola. Ele repetiu um gol que fez se não me engano pelo Vasco contra o Palmeiras. Tem que treinar, repetir cada vez mais, porque se você quer evoluir em número de gols assim você tem que ter repetição nos treinamentos, tem que treinar um pouco mais nesse sentido, mas fico muito feliz por ele.

Ele, dentro das condições dele... tecnicamente ele é um jogador diferenciado, nós temos que tentar fazer com que ele evolua na parte física para se tornar mais competitivo, mas foi de vital importância o gol dele hoje.

Benítez é opção para a falta de gols?

O Benítez é um jogador de armação, ele não tem acho que tantos gols assim. Ele não é um jogador artilheiro. Mas a única maneira seria você tirar um zagueiro para colocar mais um jogador de meio-campo, um jogador de frente. Se você pega um time muito alto, você tem que abrir mão da altura, sofre na bola parada, que decide muitos jogos. É um dilema.

Como nós não temos, em tese, pontas, fica mais difícil ainda você decidir, porque você fica sem a velocidade. Mas nós vamos estudar, vamos pensar no Flamengo, começar a pensar a partir de amanhã e sexta e sábado tentar encontrar uma equipe que consiga machucar um pouco mais o adversário na parte ofensiva.

Desafio no São Paulo está sendo maior do que imaginava?

Eu sabia que era um momento, pelo que eu vinha acompanhando, que era um momento de dificuldades. O time vinha há seis ou sete jogos de empates, marcando poucos gols. Nós estamos tentando, mas não estamos conseguindo marcar gols. Tivemos muitas chances nos meus primeiros quatro jogos, mas nesses dois diminuiu o número de finalizações.

É uma equipe consistente defensivamente, que consegue se defender bem, não toma tantos gols, mas nós precisamos tentar algumas alternativas. Vamos experimentar na sexta e no sábado algumas alternativas para tornar o time um pouco mais ofensivo para ter mais chances de gol. É um pouco mais difícil quando você não tem a velocidade, você não tem ultrapassagem, não tem jogadores abertos. Nós jogamos dentro de um sistema que encaixa dentro das peças que nós temos no elenco. Alguns desfalques para esse jogo, mas o único jogador de velocidade que nós temos é o Marquinhos, não temos outro velocista. Então fica difícil você mudar um sistema de jogo quando você não tem esse tipo de atleta. Estamos tentando montar um time baseado naquilo que a gente tem dentro do elenco. Automaticamente criar gols sem a velocidade é difícil.

Estratégia de colocar o Marquinhos na ala direita deu certo?

Primeiro que ele não estava na marcação [no lance do gol], ele era para marcar o Bruno, não foi o Bruno que fez o cruzamento, já tinha uma cobertura do Bruno Alves na jogada. Nós tivemos dois contra um, dobramos, roubamos a bola, perdemos a bola, na hora da jogada. Ele consegue fazer um cruzamento muito bem feito, ficou difícil para o Volpi e o Léo chegar na bola e o Fortaleza faz esse gol em um momento até de desatenção.

Eu precisava ser mais ofensivo pelo lado, achei que tinha que tentar uma alternativa. O Marquinhos é esse jogador de velocidade, sei que ele é canhoto, mas acho que ele teve uma boa produtividade ofensiva e marcou bem, recuperou várias bolas pelo lado. Nós estamos tentando achar algumas alternativas, dar oportunidade para o Orejuela, dar oportunidade para o Igor e tentando, dentro do jogo, se as coisas não saem como a gente espera, tentando dar alguma alternativa para a equipe ficar mais veloz com um jogador que tem o um contra um. Eu sei que seria melhor se ele fosse destro, mas é o que nós temos de velocidade, é um canhoto.

Opção por três zagueiros

O Fortaleza tem muito bom jogo aéreo, faz gols em quase todos os jogos dessa maneira, apesar de hoje ter feito em um cruzamento, não foi de bola parada como a gente infelizmente vem sofrendo. Sofremos quatro gols dos quais três foram de bola parada ou sequência de jogo de bola parada.

Não quis abrir mão nesse sentido porque o Léo estava fazendo praticamente uma lateral-esquerda, sendo que o Reinaldo estava jogando em uma segunda linha já pegando o Tinga, que é o terceiro zagueiro do Fortaleza. O Reinaldo jogou muito mais como ponta até do que como ala, porque ele tem a facilidade do cruzamento, teve bons cruzamentos no jogo. Talvez por causa do Calleri na área a gente tenha cruzado um pouco mais de bolas na área, porque é um jogador mais competitivo nesse tipo de jogada. Quando a gente joga com Rigoni e Luciano, a gente não tem o jogador que penetra. Quando o Calleri está na área, a gente acaba cruzando um pouco mais.

Precisamos criar mais, é uma coisa que não é nem necessária a análise de vocês, nós sabemos que nós precisamos arrumar uma maneira de reaver essas chances de gol que nós tínhamos nos primeiros jogos.

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