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Série B - 2021

'Sempre quis viver isso', conta artilheiro da Série B que pegou um pênalti

Edu, atacante do Brusque, defendeu um pênalti no duelo com o Remo, pela Série B do Brasileiro - Lucas Gabriel Cardoso/BFC
Edu, atacante do Brusque, defendeu um pênalti no duelo com o Remo, pela Série B do Brasileiro Imagem: Lucas Gabriel Cardoso/BFC

Alexandre Araújo e Bruno Braz

Do UOL, no Rio de Janeiro (RJ)

20/10/2021 04h00

Artilheiro da Série B do Campeonato Brasileiro, com 16 gols, Edu, do Brusque, ganhou as manchetes nos últimos dias de uma forma inusitada. Na vitória sobre o Remo por 3 a 1, na última sexta-feira, ele vestiu luvas, foi para baixo das traves e defendeu um pênalti. Natural do Rio de Janeiro, o atacante é um dos destaques da equipe catarinense e colhe frutos depois de passagens pela base de grandes clubes e experiências em divisões inferiores do Carioca. Logo mais, inclusive, estará na cidade natal para encarar o Botafogo, pela 31ª rodada da Segundona.

Os times entram em campo hoje com objetivos distintos. O Alvinegro luta para conseguir a liderança, enquanto o Brusque quer se afastar da zona de rebaixamento e busca o triunfo para, o quanto antes, se livrar matematicamente da possibilidade de queda.

Em evidência na Série B, Edu teve um dia bem fora do normal na última sexta. O jogador marcou um gol, perdeu um pênalti e ainda defendeu uma cobrança na vitória por 3 a 1 sobre os paraenses — ele foi para debaixo das traves porque, no lance que originou a penalidade, o goleiro Ruan Carneiro sofreu uma pancada na cabeça e teve de ser retirado do jogo. O Brusque já havia feito todas as substituições.

"Foi um lance de campo que decidi com o Claudinho porque, na nossa cabeça, eram 99% de chance deles fazerem o segundo gol e, aí, iriam nos pressionar muito no final do jogo. Não podíamos perder o Claudinho na bola aérea, era mais fácil eu sair. Fui para o gol, o juiz me alertou para que eu não me adiantasse, pois já tinha amarelo e, se adiantasse, tomaria o segundo e seria expulso. Fiquei com isso na cabeça. Na hora, decidi ficar esperando, escolher o canto e pular. Calhou de pular no canto que ele bateu e fiz a defesa. No rebote, teve a invasão", disse, ao UOL Esporte.

O atacante conta que sempre teve curiosidade em viver essa sensação no gol e que, dias antes, em um treino, havia falado sobre isso em um bate-papo com Viton, gerente de futebol.

"No Brusque, não permitem que a gente vá para o gol nos rachões, mas em outros clubes, quando podia, gostava de ir. Sempre fui curioso neste lado, e acredito que tenha me ajudado. A galera sempre brinca. O mais importante, naquele jogo, foram os três pontos. Aquele lance vai ficar eternizado, foi um êxtase, mas o mais importante foi a vitória. Agora, é focar no Botafogo. Já viramos a chave", afirmou.

"Sempre tive curiosidade de viver isso, de verdade. Comentava com as pessoas. Inclusive, há cerca de um mês, um mês e meio, o Viton, fez uma brincadeira comigo. Eu estava do lado de fora do treino e defendi uma bola. Ele disse que eu levava jeito e eu respondi que tinha maior curiosidade disso acontecer. Ele até deu risada depois do jogo com o Remo. Nunca imaginei que eu fosse pegar um pênalti, principalmente em um jogo de Brasileiro. Para mim, foi uma surpresa muito grande", completou.

Cria do Rio de Janeiro

Para o duelo com o Botafogo, Edu tem um aspecto importante: o reencontro com a família. Nascido e criado no Rio de Janeiro, o jogador ressaltou que, nos jogos na Cidade Maravilhosa, aproveita para rever os familiares.

"Joguei muito tempo no Rio. Joguei na base do Botafogo, na base do Vasco, do Flamengo, fora outros clubes. Sou carioca, minha família é toda carioca. Sempre que estou no Rio, estou com eles. Inclusive, nesta viagem vou conseguir ver minha família de novo. A última vez foi no jogo com o Vasco [em 27 de junho]. Esse lado para mim também é muito importante", apontou.

Sobre o confronto no Nilton Santos, o atacante ressalta o nível de dificuldade que o Alvinegro pode impor.

"Vai ser um jogo muito difícil. O Botafogo está buscando a liderança do campeonato, buscando o acesso, e temos treinado muito em cima da forma que eles jogam. Sabemos da dificuldade, mas vamos para fazer o melhor e, se Deus quiser, conquistar os três pontos".

Relação com o Vasco

Ainda nas categorias de base, Edu passou por Botafogo, Vasco e Flamengo, mas criou uma identificação maior com o cruz-maltino. Ele conta, inclusive, que recebe o carinho da torcida do clube de São Januário pelas redes sociais.

"Pelas equipes que passei na base, a passagem mais marcante foi pelo Vasco, até pela minha família ser vascaína. Todo mundo sabe do carinho que tenho pelo Vasco", disse.

"Nas redes sociais, é uma loucura a torcida do Vasco. Recebo muito carinho, tudo que publico, eles associam ao Vasco, comentam até sobre minha ida. Fico feliz com esse carinho e desejo deles", completou.

Temporada após lesão

A boa temporada de Edu surpreende até ele mesmo. Em agosto do ano passado, no decorrer da campanha do Brusque na Série C do Brasileiro, o jogador sofreu uma lesão no joelho direito, que o afastou dos gramados por quase 10 meses.

"Foi um período muito complicado, física e emocionalmente. Período que você se vê sem saída, acha que não vai mais jogar bola. Passa um monte de dúvida na cabeça. Foram os 10 meses mais angustiantes da minha vida, mas nunca deixei de acreditar, de trabalhar. Tinha muito medo de não conseguir voltar a jogar em alto nível, minha maior preocupação era essa porque a lesão foi grande. Mas nunca deixei de trabalhar e me preparar", conta.

Edu, do Brusque, comemora gol contra o Cruzeiro, pela Série B do Brasileiro - Lucas Gabriel Cardoso/Brusque FC - Lucas Gabriel Cardoso/Brusque FC
Imagem: Lucas Gabriel Cardoso/Brusque FC

Para o jogador, 2021 seria um ano de readaptação. O retorno aconteceu contra a Ponte Preta, na primeira rodada da Sergundona deste ano, quando marcou dois gols e deu indícios do que viria pela frente.

"Confesso que, neste ano, na minha cabeça, eu ia me readaptar, me reinventar para, no ano que vem, viver tudo isso que estou vivendo. Mas Deus foi muito generoso comigo. Acredito que minha história, principalmente neste último ano, sirva de inspiração para muitas pessoas, e isso, para mim, é muito gratificante. Estou muito feliz pelo momento que estou vivendo, o momento que nós do Brusque estamos vivendo. Sou muito grato aos meus companheiros e a todas as pessoas que fazem parte de tudo isso que está acontecendo na minha vida", afirma.

Divisões inferiores do Carioca

Apesar de ter passado na base de grandes do Rio, Edu atuou profissionalmente por clubes de menor investimento, que disputam, inclusive, divisões de acesso do Carioca, como São Gonçalo EC, São Gonçalo FC e Itaboraí.

"Tudo que eu passei, foi um aprendizado, em todos os lugares, nos que tive sucesso e nos que não tive. Tudo serve de aprendizado. Tudo que passa na vida, o que acertou, absorve e leva na caminhada, e o que errou, procura fazer diferente. Errei muito no meu passado, dei muito mole, perdi muita oportunidade boa...", recorda.

Ele pede uma atenção maior às outras divisões do Carioca e lembra nomes que atuaram em clubes de menor expressão e hoje têm destaque no cenário nacional. Um deles, o meia Chay, atualmente no Botafogo, adversário de logo mais, e que, assim como Edu, defendey o São Gonçalo EC.

"Uma observação que sempre falo é que, infelizmente, o futebol do Rio não é visto com bons olhos, principalmente, as divisões de acesso. Se for olhar, nos últimos dois anos, saiu o o Babi [hoje no Athletico-PR], Oliveira para o Atlético-GO, Chay no Botafogo, eu hoje no Brusque. Que isso sirva de aprendizado para os clubes, principalmente do Rio. Olhar com mais carinho para essas divisões. Tem jogador ali que tem condições de jogar Série B, Série A, e falta oportunidade", afirmou.

Objetivo

Com 35 pontos, o Brusque, atualmente, tem quatro pontos a mais que o Londrina, primeiro na zona de rebaixamento.

"Hoje, nosso maior objetivo é livrar do rebaixamento. Se conseguirmos algo a mais, para a gente, será muito importante. Se eu for artilheiro do campeonato, também será importante, mas nosso foco hoje está em livrar do rebaixamento, afastar esse perigo o mais rapidamente possível para termos tranquilidade para planejar ano que vem"

Em setembro, o time perdeu três pontos após o Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) julgar o caso de injúria racial sofrido pelo meia Celsinho, do Londrina. A decisão foi em primeiro grau e cabe recurso.