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Flamengo terá R$ 1 bi em receitas, mas precisa adiantar R$ 39 mi de Gerson

Gerson, quando era jogador do Flamengo, em treino no Ninho do Urubu - Alexandre Vidal/Flamengo
Gerson, quando era jogador do Flamengo, em treino no Ninho do Urubu Imagem: Alexandre Vidal/Flamengo

Igor Siqueira

Do UOL, no Rio de Janeiro

15/10/2021 04h00Atualizada em 15/10/2021 10h10

Um dos itens da revisão orçamentária do Flamengo para 2021 é uma movimentação financeira que envolve operação bancária. O plano é fazer adiantamento junto ao Banco Santander de R$ 39 milhões referentes a parcelas da venda do meia Gerson ao Olympique de Marselha, da França. O jogador deixou o clube em julho pela transação total de 20 milhões de euros (R$ 127 milhões, na cotação atual), que será parcelada até 2025.

Mas por que um clube que projeta receita bruta de R$ 1 bilhão no exercício deste ano e superávit de pelo menos R$ 137 milhões precisa realizar essa transação com uma instituição financeira?

A resposta está no fluxo de caixa e no entendimento do que é desempenho econômico (informações que tratam das receitas e despesas referentes ao ano no qual elas foram contraídas) e o que é financeiro (o dinheiro que efetivamente entra na conta do clube).

O Flamengo terminou junho com R$ 33,4 milhões em caixa. Na readequação orçamentária, a projeção de saldo final do caixa neste ano é de R$ 64,3 milhões, já considerando a antecipação de R$ 39 milhões das parcelas de Gerson.

O dinheiro em caixa é relevante para que o clube consiga arcar com os pagamentos mês a mês — salários, impostos, fornecedores e logística de jogos, por exemplo — e também tenha uma margem de segurança para alguma despesa "surpresa" que aparecer no caminho. A pandemia mostrou a importância de ter o caixa relativamente folgado.

Uma conta que os setores de planejamento e financeiro do Flamengo fazem é tentar ter em caixa, com um mês de antecipação, o montante aproximado que seja suficiente para cobrir os gastos do mês seguinte.

A antecipação da venda de Gerson não estava nos planos para o ano, mas alguns eventos que impactaram no caixa levaram a essa solução.

Diante da crise e as regras de fair play financeiro, os mercados compradores passam a adotar com mais frequência a venda parcelada. Então, ainda que o Flamengo tenha somado R$ 270 milhões com negociações de jogadores (R$ 100 milhões a mais do que o orçado), esse valor não cai na conta de uma vez só. Logo, não turbina o caixa de imediato.

Assim, antes de estruturar a operação com o Santander, o Fla constatou diferença de R$ 20 milhões entre o orçado e o realizado no caixa fruto da venda de jogadores. A antecipação das parcelas de Gerson vai compensar isso e para o Fla é relativamente mais simples do que para outros clubes, já que o rubro-negro tem crédito na praça e fama de bom pagador.

Há outra questão relacionada a transferências. Como vendeu jogadores por valores muito maiores do que planejou, o Flamengo também sofreu um impacto com comissões por intermediação e repasses a terceiros. Isso gerou a saída de R$ 29 milhões a mais do que o orçado.

No campo jurídico, o Flamengo ainda fez acordos e perdeu ações não previstas: R$ 17 milhões a mais do que o estimado inicialmente.

Com a reorganização orçamentária, o clube classifica a geração de caixa total como positiva, apesar de todas as variações. Em relação ao orçamento inicial, votado em dezembro de 2020, e a readequação recente, o caixa ainda terá R$ 11,7 milhões a mais, totalizando os R$ 64,3 milhões para o fechamento em 31 de dezembro.

Voltando aos aspectos econômicos, a readequação orçamentária do Flamengo aconteceu porque o clube arrecadou mais do que o previsto em marketing (R$ 25,7 milhões), direitos de transmissão (R$ 26,6 milhões) e, claro, transferências (R$ 102 milhões). Isso mais do que compensou a frustração de receitas com matchday (bilheteria e sócio-torcedor) na casa dos R$ 120 milhões.

Atingir R$ 1 bilhão de receita bruta em 2021 será possível porque o Fla está na final da Libertadores — além da semifinal da Copa do Brasil —, condição que não estava nem prevista na readequação orçamentária recente.