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Administradora de offshores abriu mão de empresa de filhos de Del Nero

Família de Marco Polo Del Nero, ex-presidente da CBF, abriu empresa offshore nas Ilhas Virgens Britânicas - Marcelo Sayão/EFE
Família de Marco Polo Del Nero, ex-presidente da CBF, abriu empresa offshore nas Ilhas Virgens Britânicas Imagem: Marcelo Sayão/EFE

Do UOL, em São Paulo

04/10/2021 11h02

O escritório de advocacia panamenho Alcogal, especializado na criação e gestão de offshores em paraísos fiscais da América Central e Caribe, foi contratado pela família de Marco Polo Del Nero, ex-presidente da CBF, para abrir a empresa Finview Investments Limited, nas Ilhas Virgens Britânicas, em 2014. Mais tarde, o mesmo Alcogal deixou de administrar a offshore dos Del Nero por receio do envolvimento do cartola no Fifagate. A informação é da revista Piauí e faz parte dos Pandora Papers, um megavazamento de informações sobre empresas offshore - utilizadas para investimentos, compra de bens, entre outros fins.

Segundo a publicação, Del Nero articulou a criação da Finview Investments em outubro de 2014 em nomes dos filhos, Marco Polo Del Nero Filho e Marcus Vinicius Del Nero. A empresa foi criada em 7 de outubro de 2014 com capital de 10 milhões de dólares e conta no banco Morgan Stanley, em Miami, nos Estados Unidos. Uma semana depois, em 14 de outubro, Del Nero Filho criou em Orlando, também nos EUA, outra empresa com nome parecido: a Finview Real Estate, de investimento imobiliário.

Para abrir a primeira empresa, nas Ilhas Virgens Britânicas, a família Del Nero contratou o Alcogal, que fez uma avaliação interna de risco da Finview Investments, levando em consideração a probabilidade da empresa ser utilizada para lavagem de dinheiro. O escritório manteve o negócio com os Del Nero apesar do resultado apresentar um risco médio (4, na escala de 1 a 9).

Porém, a situação mudou após 27 de maio de 2015, quando a polícia suíça e o FBI invadiram um hotel em Zurique e prenderam dirigentes ligados a Fifa por crimes como lavagem de dinheiro, entre eles José Maria Marin, então presidente da CBF. Del Nero não foi detido, mas retornou ao Brasil pouco depois do episódio, no início do que ficou conhecido como Fifagate.

De acordo com a Piauí, o envolvimento de Del Nero no escândalo preocupou o Alcogal. O escritório avisou o banco Morgan Stanley que estava deixando a administração da Finview Investments. Na sequência, o Alcogal informou a Agência de Investigação Financeira (FIA, na sigla em inglês), do governo das Ilhas Virgens Britânicas, sobre a existência da empresa dos Del Nero. O escritório não citou nenhuma transação financeira específica, mas declarou que os beneficiários da Finview eram filhos de Del Nero, um dos alvos do FBI no Fifagate.

Marco Polo Del Nero Filho e Marcus Vinicius Del Nero fecharam a offshore em agosto de 2015. O destino dos 10 milhões de dólares não é conhecido. A Finview Real Estate, de Orlando, fechou em setembro de 2020.

O que diz Del Nero

Em nota enviada à Piauí, Del Nero disse que a Finview das Ilhas Virgens foi "devidamente declarada" pelos filhos dele à Receita Federal brasileira e não informou a origem dos 10 milhões de dólares. Os filhos do cartola não se manifestaram.

"Informo que não possuo nenhuma empresa, que não sou beneficiário final ou tenho qualquer tipo de ativo no exterior", disse à revista. Sobre o Fifagate, o ex-presidente da CBF declarou que "apesar de todas as alegações, nenhum único benefício econômico foi encontrado ou comprovado em meu favor".