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Brasileirão - 2021

CBF busca pacificação sem Caboclo, mas já se envolve em conflito de clubes

Presidente em exercício, Ednaldo Rodrigues conduz assembleia geral da CBF - Lucas Figueiredo/CBF
Presidente em exercício, Ednaldo Rodrigues conduz assembleia geral da CBF Imagem: Lucas Figueiredo/CBF

Igor Siqueira

Do UOL, no Rio de Janeiro

30/09/2021 04h00

No trabalho de política interna e externa, a CBF tem caminhado em cenários distintos. Enquanto sedimenta unidade entre as federações, que votaram juntas pelo afastamento de Rogério Caboclo e veem com bons olhos a continuidade de Ednaldo Rodrigues como presidente em exercício, a entidade tem tido dificuldades para amenizar os ânimos envolvendo os clubes. Há uma queda de braço recorrente, a reboque de questões que vão se enfileirando: resolvida a discussão sobre o público, o tema agora é o calendário.

Inicialmente, a própria CBF afirmou publicamente que adiaria os jogos de quem cedesse convocados à seleção brasileira para a data Fifa de outubro, mas já repensa a decisão. A diretoria do Internacional, inclusive, diz ter recebido a sinalização da entidade de que não haverá jogos remarcados nas rodadas 24, 25 e 26 do Brasileirão. Os gaúchos não gostaram do que ouviram. Atlético-MG, Palmeiras e Flamengo, que também teriam tabela afetada, divergem entre si sobre o que a CBF deve fazer. Entre hoje (30) e amanhã (1º), a entidade deve formalizar e tornar o posicionamento.

Já na gestão de Ednaldo Rodrigues — que substituiu Coronel Nunes na cadeira de presidente para cumprir o mandato que era do afastado Caboclo —, a CBF ficou ao lado da maioria dos clubes contra o Flamengo para evitar que ele, sozinho, tivesse público nos jogos do Brasileirão. A entidade, inclusive, recorreu ao STJD para ajudar a derrubar a liminar rubro-negra. Agora, se concretizar o recuo do adiamento, novamente gerará descontentamento no Fla — cujo presidente, Rodolfo Landim, chegou a ser indicado pela Justiça para ser interventor da própria CBF, só para ver a decisão derrubada após recurso da entidade.

Há uma série de questões em consequência de mais adiamentos que a CBF se mostra indisposta a enfrentar. A consequência que chegou a ser engatilhada na entidade, diante do adiamento de outubro, foi a de esticar a duração do Brasileirão — a data original para conclusão é 5 de dezembro.

Em setembro, a CBF já tinha adiado partidas do Brasileiro por causa da data Fifa e até remarcou as finais da Copa do Brasil para 8 e 12 de dezembro, invadindo uma semana que já sedia de férias para todos os clubes. Mas com tantos jogos para encaixar no calendário, em decorrência da possibilidade de mais um adiamento, os obstáculos e a divisão começaram a surgir.

A CBF ainda tenta contornar a situação, mas o Flamengo quer que a entidade cumpra sua palavra inicial e adie os confrontos, ainda que seja para esticar a temporada até 26 de dezembro. O discurso no clube é que isso foi acertado junto a Ednaldo e ao diretor de competições, Manoel Flores.

O Atlético-MG, concorrente do rubro-negro pelo título do Brasileirão e da Copa do Brasil, pensa diferente e quer que os jogos sejam mantidos, ainda que também sofra com os desfalques gerados pelas convocações. O Palmeiras, finalista da Libertadores e outro que disputa o título Brasileiro, vai na linha semelhante a dos mineiros: defende a sequência do calendário com conclusão da Série A em 5 de dezembro.

Como esticar o Brasileiro implicaria em alteração do período de férias, a Federação Nacional dos Atletas Profissionais de Futebol (Fenapaf) entrou na discussão. Ontem (28), Ednaldo Rodrigues disse que faria uma reunião com o órgão representante dos jogadores sobre o calendário. Segundo ele, a conversa será "para colocar aquilo que é importante para o futebol brasileiro e que não possa ter conflitos ou gargalos lá na frente".

"Estamos trabalhando com esporte de alto rendimento. A corda já esticou demais", disse o presidente da Fenapaf, Felipe Augusto Leite, rejeitando a hipótese de prorrogação do calendário até o período do Natal.

O dirigente indicou que os jogadores aceitariam, no máximo, se o Brasileirão fosse até o fim da primeira quinzena de dezembro.

Nas federações, não há consenso, embora o efeito cascata de esticar a Série A tire ainda mais o interesse nos estaduais. Há quem entenda que, se a CBF adiou os jogos em setembro, deve fazer o mesmo em outubro. Para novembro, no entanto, os clubes conversaram no último conselho técnico, segunda-feira, e falaram que não deveria haver novos adiamentos. Entre os vices da CBF, o recuo no adiamento dos jogos é visto como muito o caminho mais razoável, diante da dificuldade de encaixe dos jogos.

Ednaldo Rodrigues, logo após a assembleia que sacramentou por unanimidade o afastamento de Caboclo, disse que as decisões em sua gestão serão tomadas em colegiado — o que pode significar que as vozes a seu redor serão ouvidas.

"Temos um conselho de administração que eu sempre coloco junto para tomar as decisões, ouvindo federações, os pares. Com isso, entendo que acertaremos mais", disse ele.

Se isso será suficiente para pacificar os bastidores do futebol brasileiro, aí parece algo improvável.