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Assembleia da CBF confirma afastamento de Caboclo por 21 meses após assédio

Rogério Caboclo, no discurso após ser eleito presidente da CBF, em 2018 - Lucas Figueiredo/CBF
Rogério Caboclo, no discurso após ser eleito presidente da CBF, em 2018 Imagem: Lucas Figueiredo/CBF

Igor Siqueira

Do UOL, no Rio de Janeiro

29/09/2021 16h23

Com uma decisão unânime, as 27 federações estaduais confirmaram hoje (29) o afastamento de Rogério Caboclo da presidência da CBF por 21 meses, aceitando a punição imposta a ele pela Comissão de Ética do Futebol Brasileiro. Sancionado após a denúncia de assédio moral e sexual contra uma funcionária da entidade, Caboclo, por ora, só poderá voltar ao cargo no semanas antes de terminar o mandato, já que a pena vai até março de 2023.

Ele ainda pode levar outra outra sanção em mais um processo na mesma Comissão de Ética — o caso está em curso. Com Caboclo fora do poder, o exercício da presidência segue com Ednaldo Rodrigues, um dos vices eleitos em 2018 e que tomaram posse em 2019 na chapa de Caboclo. Como a pena de hoje não implica em um afastamento definitivo, ainda não há necessidade de convocação de nova eleição. Esse cenário pode mudar, se mais uma condenação vier e o tempo de sanção extrapolar abril de 2023.

"As federações estaduais, que tiveram acesso a todo conteúdo do processo, e tomando toda a ciência. Aqueles que ainda tinham dúvida tiveram a convicção plena de que realmente houve um crime de assédio. Por unanimidade decidiram pelo afastamento, de acordo com a decisão da comissão de ética de 21 meses. Foi uma decisão sensata, justa, por tudo o que aconteceu no processo. Foi dado todo direito de defesa", disse Ednaldo Rodrigues, após a assembleia.

Na reunião de hoje, Adriano Aro, presidente da Federação Mineira, foi o secretário da assembleia e atuou como se fosse o relator do caso na sessão. Ele disse aos demais como seria o seu voto e, assim, a unanimidade veio.

Caboclo foi afastado inicialmente em 6 de junho, dois dias depois que a funcionária protocolou a denúncia na Comissão de Ética. O tempo de afastamento provisório será abatido da pena total de 21 meses. Por isso, ele fica fora do cargo até março de 2023. Ednaldo Rodrigues informou que os salários e benefícios de Caboclo estão suspensos desde o segundo mês de afastamento. O rendimento mensal bruto de Rogério Caboclo era R$ 340 mil.

Segundo o relato da funcionária, com base também em áudios gravados na sala do dirigente, o então presidente da CBF chegou a perguntar: "Você se masturba?". Em outro episódio, Caboclo disse que ela era "cadela" de um dos diretores da entidade e a ofereceu biscoito do seu cachorro de estimação, Paçoca.

Caboclo nega que tenha cometido assédio. Em carta enviada às federações ontem (28), ele falou que "pediu desculpas à denunciante pelas palavras infelizes e grosseiras". Ele também admitiu: "Excedi-me em alguns momentos, reconheço, mas nunca busquei qualquer vantagem ou favorecimento, nunca a toquei ou a convidei para sair ou insinuei algo nesse sentido".

Caboclo acusa Marco Polo Del Nero de orquestrar um golpe. Como está proibido pela Justiça do Trabalho de pisar na CBF, o dirigente foi representado na assembleia por seus advogados, Marcelo Jucá e Fernanda Tórtima, que tiveram um tempo para sustentação oral frente às federações. A funcionária que o acusa voltou a dar expediente na sede da entidade no começo do mês, após período de licença.

Recurso negado

Pela manhã, Caboclo foi ao hotel onde os presidentes de federação se hospedam para tentar conseguir apoios de última hora, apesar do cenário complicado — em agosto, todos os 27 já chegaram a assinar uma carta pedindo que ele renunciasse.

Caboclo também teve mais um recurso negado mais cedo, na Câmara Brasileira de Mediação e Arbitragem (CBMA), órgão privado para qual as disputas envolvendo a CBF são levadas. O dirigente tentou derrubar o aumento da pena de 15 para 21 meses, decidido após a Câmara de Julgamento da Comissão de Ética analisar os embargos de declaração feitos pela defesa da funcionária.

A árbitra do CBMA entendeu que sua competência era ver se havia motivo para analisar com urgência o pedido de Caboclo, já que a assembleia estava marcada para esta tarde. Após a análise dos argumentos e dos fatos, entendeu por bem não conceder uma liminar a Caboclo.

Nota de Rogério Caboclo sobre a decisão da Assembleia

O presidente da CBF, Rogério Caboclo, considera que a decisão da Assembleia é mais um capítulo do maior e único golpe efetivo deflagrado contra um presidente de entidade esportiva em atividade no Brasil. Quem acompanhou a votação, viu que estava evidente o constrangimento de vários dos presidentes de federações estaduais durante a votação. Muitos deles estavam compromissados com o voto a favor de Caboclo. Mas a coação que resultou em assinaturas de uma lista pedindo a renúncia do presidente legitimamente eleito, na última reunião de presidentes, prevaleceu.

O sistema de votação adotado na Assembleia foi o de permanecer sentado quem estivesse de acordo com a deliberação da comissão de ética. E deveria se levantar quem estivesse contra. Isso criou desconforto ainda maior entre presidentes que tinham ideia de rejeitar o viciado procedimento ético contra Caboclo. Rogério Caboclo lutará até o fim e utilizará todos os recursos jurídicos cabíveis até a solução definitiva do caso.