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Camisa da Holanda na Euro de 1988 foi mãe da inovação no design no futebol

Do UOL, em São Paulo

26/09/2021 04h00

As fabricantes de camisas de futebol produziam modelos simples, sem qualquer ousadia, até as décadas de 1970 e 1980. Mas foi já próximo dos anos 1990, a Adidas produziu um uniforme que se tornaria um marco em termos de design esportivo, com a camisa utilizada pela Holanda na Eurocopa de 1988, competição da qual a seleção holandesa foi campeã com um time que ficou marcado por nomes como Marco Van Basten, Ruud Gullit e Frank Rijkaard.

Em entrevista a Mauro Cezar Pereira no programa Dividida, do Canal UOL, o designer Glauco Diógenes conta a história da camisa que se tornou icônica no futebol mundial. A representação e a inspiração que levaram ao modelo utilizado. A resistência inicial e como ela influenciou para que novos modelos mais ousados passassem a ganhar espaço no futebol.

"Esse design da Holanda realmente é revolucionário e ele acaba ficando bonito por conta da questão do título. Isso ajudou também muito, principalmente lá na Europa, ainda mais com a fornecedora específica dessa camisa holandesa, que já tinha relações mais próximas com a Fifa e é a fornecedora oficial da Copa do Mundo desde 1974. Há um momento de exploração por parte dos designers porque tem uma verdadeira revolução têxtil, tecidos sintéticos que permitiam também essa queima e essas perfurações já a laser ou mesmo fazer tipos de tintura que eram impossíveis de serem feitas ou que custariam muito e não dariam o resultado esperado no algodão", conta Glauco.

"Você, olhando de longe, não percebe, mas ela faz referência a um artista muito importante holandês que é o [Maurits Cornelis] Escher, um cara que brincava com essa coisa meio surrealista de você ter perspectivas que não terminavam nunca, escadas que se entrecortavam e que continuavam o mesmo caminho, então, você nunca conseguia entender onde era o começo e era o fim. Eles pegaram isso como referência, pegaram também a questão da juba do leão, que faz parte do escudo da federação real holandesa, que ostenta aquele leão dentro do escudo, e transformaram isso em setas ascendentes, em degraus e também lembra um pouco a juba do leão", completa.

camisa - Caio Carrieri/Colaboração para o UOL - Caio Carrieri/Colaboração para o UOL
Camisa clássica da Holanda
Imagem: Caio Carrieri/Colaboração para o UOL

Ao mesmo tempo em que a camisa trazia aspectos até então inéditos e revolucionários, o primeiro impacto não foi positivo, de acordo com o designer, que considera que o título holandês na Euro de 1988 ajudou a reduzir a rejeição.

"Foi uma coisa muito revolucionária para a época, muito à frente do tempo, causou estranheza dos atletas. O Gullit, o Rijkaard e alguns atletas meio que não curtiram muito a ideia de trajar essa coisa da camisa. Hoje em dia é muito natural, mas os próprios atletas e não só os atletas, como os críticos, jornalistas, enfim, torcedores em geral, quando se deparavam diante de algo assim tão disruptivo... a coisa era muito mais polêmica do que é hoje, se debatia muito e as pessoas rechaçavam, então, essa camisa foi rejeitada inicialmente", conta Glauco.

"Depois, à medida que o time foi avançando, não tem tanto essa questão da sorte —da questão mística que a gente tem aqui, no lado latino—, mas, de uma certa maneira, eles viram a camisa como um amuleto ou como algum elemento que estava ajudando na construção daquele time e ficou marcado como um símbolo mesmo do final da década de 1980 e início dos anos 1990, que foi uma revolução têxtil bem importante. E aí é a mãe de todas as camisas mães que a gente tem visto hoje em dia", conclui.

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