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Bilionários turbinam Palmeiras e Atlético-MG com modo e objetivo diferentes

Palmeiras renova com patrocinador máster até 2024; na foto, o presidente Mauricio Galiotte e Leila Pereira - Fabio Menotti
Palmeiras renova com patrocinador máster até 2024; na foto, o presidente Mauricio Galiotte e Leila Pereira Imagem: Fabio Menotti

Diego Iwata Lima e Henrique André

De São Paulo e Belo Horizonte

21/09/2021 04h00

Nesta terça-feira (21), Palmeiras e Atlético-MG iniciam a batalha que vale vaga na grande decisão da Libertadores. Os primeiros 90 minutos serão disputados no Allianz Parque, casa do Alviverde. O jogo está marcado para 21h30 (de Brasília). Contudo, fora dos gramados, paulistas e mineiros também abarrotam os noticiários por outro motivo: a presença de grandes investidores que mudaram os respectivos caminhos.

O Palmeiras ganhou importante gás com a chegada do empresário Paulo Nobre, presidente de 2013 a 2016, e posteriormente com Leila Pereira, dona da Crefisa e da Faculdade das Américas, patrocinadora do clube desde 2015. Já o Atlético-MG viu o bilionário Rubens Menin, dono da construtora MRV, do Banco Inter, do canal CNN Brasil, da Rádio Itatiaia e de outras empresas, se tornar uma espécie de salvador da pátria.

Contudo, um grande questionamento feito pelos amantes da bola é se esta injeção milionária realizada nos rivais da Libertadores tem o mesmo perfil e as mesmas consequências.

Em entrevista concedida à Rádio Itatiaia, em julho do ano passado, o diretor executivo Alexandre Mattos, que participou dos dois projetos, deu seu ponto de vista. E destacou que Menin se assemelha mais a Nobre do que a Leila e apontou as diferenças.

"O Paulo é um torcedor apaixonado, uma pessoa física, como o Rubens Menin, muito parecido. O Paulo colocou algo em torno de R$ 200 milhões ou R$ 220 milhões no Palmeiras para o clube funcionar. O Palmeiras não conseguia nem pagar a conta de luz", disse Mattos.

"A Leila é absolutamente diferente. Tem um patrocínio muito forte dentro do clube, é uma apaixonada. Acho ela fundamental para todos os títulos que ganhamos [...], mas é um pouco diferente daquilo que vem hoje do Rubens Menin, que é muito parecido com a situação do Paulo Nobre. São apaixonados, que não têm contrapartida, a não ser quando o jogador for vendido, recebe o dinheiro de volta, com correção bem menor que o mercado pede, e não estão muito preocupados com isso especificamente, querem o time crescendo", acrescentou.

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Grupo dos 4 R's é formado por Rafael Menin, Renato Salvador, Rubens Menin e Ricardo Guimarães, os mecenas do Galo
Imagem: Reprodução/Twitter

Em várias entrevistas, Rubens Menin garante que não cobrará juros do dinheiro investido e/ou emprestado ao Atlético-MG. De acordo com o mecenas, a cobrança do valor colocado no clube só será feita quando o mesmo puder caminhar com as próprias pernas. Cabe destacar que, no estádio que está sendo construído, os naming rights são da MRV, como uma espécie de contrapartida.

No caso de Nobre, conforme contou Mattos na mesma entrevista, tudo que o empresário emprestou ao Palmeiras, recebeu de volta na gestão de Maurício Galiotte, seu sucessor. Sendo essa a diferença para Leila Pereira, que tem um acordo comercial com o clube, embora também seja conselheira (como Nobre e Menin).

Também, ao contrário de Menin e Leila, Nobre não tinha sociedade em alguma empresa ou marca que pudesse ser estampada no uniforme ou associado no âmbito institucional. O dinheiro por ele colocado do bolso tinha zero contrapartida mercantil.

Houve um momento em que Leila chegou a fazer até mais, e bancar integralmente as contratações, como os quase R$ 70 milhões, em valores corrigidos, da operação que trouxe Miguel Borja ao Palmeiras. Na época, Leila fazia os aportes por meio de aquisições de "propriedades de marketing", como uma placa de publicidade no CT do clube. Leila falava disso abertamente.

Mas a Receita Federal viu ali um desvio de finalidade, pois sabia-se que, na realidade, não era isso que estava acontecendo. Guerra, Juninho, Luan, Fabiano, Bruno Henrique, Deyverson e Lucas Lima também foram trazidos assim. Inicialmente, havia o combinado de que o valor seria devolvido em uma futura venda, e caso uma nova transferência fosse por um valor abaixo do investido, o prejuízo seria da empresa. Isto mudou em 2018.

A Receita viu ali uma operação de empréstimo disfarçada. Essa mudança no modelo gerou uma multa de R$ 80 milhões à Crefisa, por considerar que o imposto a ser pago nas transações pela patrocinadora deveria ser maior do que o declarado no primeiro molde. Além de obrigar o Palmeiras a devolver a quantia de qualquer forma em até dois anos após o fim do contrato, agora há a incidência de juros no valor, que já ultrapassa R$ 160 milhões.

Saída de rivais nacionais

No início do ano, o jornalista Rodrigo Mattos, colunista do UOL, destacou a saída de duas das empresas da família Menin de concorrentes diretos do Atlético-MG na briga pelos canecos mais importantes da temporada, Flamengo e São Paulo. Apesar de o dinheiro não ter sido usado para aumentar o patrocínio ao clube mineiro, a dupla perdeu valores expressivos.

Ao final da temporada passada, a construtora MRV deixou de patrocinar São Paulo e Flamengo, e o Banco Inter também saiu da camisa do Tricolor do Morumbi. Na época, a construtora explicou que se tratava de uma mudança na estratégia de investimento, focando em outros esportes e clubes.

Na última temporada, além da presença nas camisas de rubro-negro carioca e tricolor paulista, a MRV estava também nos uniformes de América-MG, Atlético-MG e Fortaleza. Manteve o contrato com o Galo, que é mais longo.

Já o Banco Inter, por sua vez, era o patrocinador master são-paulino desde 2017: pagava R$ 12 milhões por ano. Esse valor, inicialmente, era de R$ 18 milhões, e a nova proposta de renovação reduzia o montante para R$ 7 milhões anuais, o que acabou sendo rechaçado pela diretoria são-paulina.

Leila presidente do Palmeiras e Menin, do Atlético-MG?

Com o dinheiro da bilionária Leila Pereira, o Palmeiras se tornou o mais rico do país. Apenas em 2016, a empresária injetou cerca de R$ 91 milhões no clube. De lá para cá, já são cerca de R$ 800 milhões. O Palmeiras, inclusive, é atualmente o clube brasileiro com maior retorno nas áreas comercial e de marketing (R$ 127 milhões em 2020).

Figura presente nas redes sociais, as quais usa para se aproximar mais dos torcedores e mostrar o lado de "paixão" pelo clube, Leila já deixou clara a intenção de ocupar a cadeira mais importante do alviverde. Ao contrário do que acontece em Minas Gerais.

Para muitas pessoas, todo o aporte milionário feito, principalmente, por Rubens Menin, vem acompanhado de pretensões dentro do clube, como, por exemplo, de que ele ou alguém próximo ocupe a cadeira da presidência do Alvinegro. Ao todo, já foram quase R$ 400 milhões em jogo.

Contudo, em inúmeras entrevistas, o mecenas negou tal interesse. O filho, Rafael, vice-presidente do Conselho Deliberativo, segue o mesmo discurso e não aponta a ambição de ser o "dono do trono" no clube.

"Eu vejo o Sérgio Coelho, presidente do clube. Ele gasta 100% do tempo dele com o Galo. Ele acorda de manhã pensando no Galo, almoça pensando no Galo, dorme pensando no Galo. Eu não tenho essa disponibilidade de agenda", destacou Rafael em entrevista concedida em maio ao Canal do Nicola (YouTube).

"Meu pai é presidente do conselho (de administração) de cinco empresas. Ele tem 65 anos e a gente fala: 'Maneira, não inventa mais nada não. Desacelera. Ele é um cara muito entusiasmado, tem muita energia'", acrescentou Rafael.

Mas é preciso ressaltar que, independentemente, a família Menin ganhou força política dentro do Atlético-MG. Com isso, o número de aliados é bem superior à quantidade de conselheiros que se opõem à situação. Com tantos investimentos e projetos para tornar o clube "viável financeiramente", caminhando com as próprias pernas, é praticamente impossível pensar numa futura diretoria formada por pessoas que tentem ir 'contra a maré'.

FICHA TÉCNICA:

PALMEIRAS x ATLÉTICO-MG
Motivo:
jogo de ida das semifinais da Libertadores
Data e horário: 21 de setembro de 2021 (terça-feira), às 21h30 (de Brasília)
Local: Allianz Parque, em São Paulo (SP)
Arbitragem: Patrício Loustau (ARG)
Auxiliares: Diego Bonfá e Gabriel Chade (ambos)
VAR: Mauro Vigliano (ARG)
Transmissão: SBT e Conmebol TV / O Placar UOL também acompanha o duelo em tempo real.

PALMEIRAS: Weverton; Marcos Rocha, Gustavo Gómez, Luan e Piquerez (Renan); Danilo e Zé Raphael; Dudu, Raphael Veiga e Wesley; Luiz Adriano (Rony). Técnico: Abel Ferreira

ATLÉTICO-MG: Everson; Mariano, Nathan Silva, Alonso, Arana; Allan, Jair (Diego Costa), Zaracho e Nacho; Hulk e Vargas (Keno). Técnico: Cuca