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Everton Ribeiro sobe, Vini Jr. desce: como a seleção sai das Eliminatórias

Jogadores do Brasil comemoram gol de Neymar contra o Peru pelas Eliminatórias - Pedro Vilela/Getty Images
Jogadores do Brasil comemoram gol de Neymar contra o Peru pelas Eliminatórias Imagem: Pedro Vilela/Getty Images

Gabriel Carneiro e Igor Siqueira

Do UOL, em Recife e no Rio de Janeiro

10/09/2021 04h00

Era para ser uma rodada tripla de Eliminatórias, mas só dois jogos aconteceram. A turma da Inglaterra e da Rússia preencheria espaços importantes no que Tite desenhou na convocação, mas o roteiro foi alterado pelo veto dos clubes. Sendo assim, o saldo da data Fifa concluída nesta semana foge ao trivial e ao previsível para a seleção brasileira.

Foram duas vitórias contra Chile e Peru, tendo no meio uma confusão envolvendo a Argentina que irá se resolver no Comitê Disciplinar da Fifa, pois o jogo foi suspenso. Na parte em que teve futebol, sem que o cumprimento de normas sanitárias entrasse e pauta, não foi a melhor das versões recentes da seleção brasileira.

Ainda assim, as partidas serviram, principalmente, para consolidar o papel de Everton Ribeiro na equipe. A moral dele sobe com Tite. Por outro lado, Vinicius Jr é um dos que precisam melhorar de rendimento se quiser continuar com algum espaço —mesmo que seja no banco.

Everton Ribeiro desequilibra

Ninguém se saiu tão bem desse período de Eliminatórias quanto o meia do Flamengo. Contra o Chile, ele foi crucial para a mudança de comportamento ofensivo da seleção e fez o gol da suada vitória. Tite recorreu a ele não necessariamente para a função aberta pelo lado direito, mas como um articulador pelo meio —embora ele também caísse pelos flancos, como já de costume. Contra o Peru, com mais liberdade e mobilidade, a função desejada era mais clara e parecida com a qual exerce no Fla. Desfilando técnica e criatividade pela direita, aparecendo na área para concluir: foi assim que o primeiro gol da seleção saiu. O segundo também foi consequência de um chute dele, que, mal desviado por um zagueiro, sobrou para Neymar.

O papel de Everton remete aos bons tempos de Coutinho na seleção — em que pese um ser destro e o outro canhoto. Tite, ultimamente, tinha pensado em um ponta para dar largura e amplitude ao time por aquele lado. É assim que ele imagina Gabriel Jesus, por exemplo, mas o desempenho de Everton Ribeiro embaralha as cartas à mesa.

Bons goleiros de sobra

O titular não veio. O reserva imediato também não. E daí? O Brasil vive um período no qual goleiro passa longe de ser um problema. E Weverton, supostamente o terceiro na linha de "sucessão", está aí para provar. Supostamente porque nos dois jogos parecia se tratar de um goleiro de décadas de titularidade na seleção. Ele foi bem mais exigido contra o Chile e foi crucial para evitar o pior nos momentos de instabilidade do Brasil. Contra o Peru, uma performance menos tensa, mas não menos segura. Quando Tite precisar, pode contar com ele à vontade. A moral sobe.

Volte sempre, Veríssimo

Lucas Veríssimo, enfim, estreou pela seleção brasileira. E a atuação contra o Peru justificou a insistência de Tite nele. Foi muito bem nas coberturas, nas bolas pelo alto e no enfrentamento mais físico com o chato time peruano. A companhia de Militão também estabilizou a defesa para que Lucas Veríssimo se sentisse à vontade. Nos bastidores, a convocação ainda teve o famoso trote no jantar, ocasião na qual ele se emocionou ao lembrar os momentos em que o pai lutou para se curar da covid. Se Tite apostou nele para o lugar de Marquinhos, suspenso, em um setor já sem Thiago Silva, é ótimo sinal.

Gabigol: em branco, mas elogiado

Gabigol lamenta chance perdida em Brasil x Peru nas Eliminatórias - Pedro Vilela/Getty Images - Pedro Vilela/Getty Images
Gabigol lamenta chance perdida em Brasil x Peru nas Eliminatórias
Imagem: Pedro Vilela/Getty Images

Gabigol ainda não fez aquela atuação pela seleção que remete à idolatria no Flamengo. Ele passou em branco na data Fifa, transparece uma ansiedade por balançar as redes pela seleção, mas nem por isso deixou de ser valorizado por Tite. O treinador gostou muito do papel tático exercido pelo atacante. Contra o Chile, ele parecia mais desconfortável, mas foi agressivo desde o começo e não se omitiu. Contra o Peru, com mais campo para jogar por causa do posicionamento adversário, pareceu se entender melhor com Neymar no primeiro tempo, especialmente, e também com quem vinha das linhas de trás. Difícil imaginar que isso será suficiente para sustentar a titularidade, mas Gabigol deu mais um passinho para permanecer nas convocações. Como Tite repete o mantra de que é preciso jogar muito no clube para ser chamado de volta à seleção, ter uma média de um gol por jogo no Flamengo tem seu peso.

Abre o olho, Bruno Guimarães

Bruno Guimarães disputa lance em Chile x Brasil nas Eliminatórias - Getty Images - Getty Images
Bruno Guimarães disputa lance em Chile x Brasil nas Eliminatórias
Imagem: Getty Images

Tite citou publicamente que Bruno Guimarães, tecnicamente, não jogou o que sabe contra o Chile. O técnico até amenizou o comentário, citando as circunstâncias do jogo fora de casa e o cartão amarelo que o volante levou ainda no primeiro tempo. Mas o ponto é que a entrada de Gerson trouxe melhora para a seleção e isso automaticamente depõe contra Bruno Guimarães — convocado desta vez com a moral de ter sido campeão olímpico. Gerson, inclusive, foi titular contra o Peru, fez um bom primeiro tempo e caiu de rendimento no segundo. Bruno Guimarães foi a campo no lugar de Casemiro, o que gerou, inclusive, uma chance para que ambos pudessem atuar juntos na linha de volantes. Tite gritava à beira do campo para que os zagueiros passassem a bola por ele, mas Bruno Guimarães não teve lá tanto brilho. A concorrência é grande porque Fabinho e Fred ficaram na Inglaterra. A ascensão de Gerson é uma ameaça.

Vini Jr ainda não empolga

Tite até esboçou um modelo de jogo no qual Vini Jr seria titular e foi assim que o Brasil começou jogando contra o Chile. Mas o atacante do Real Madrid passou longe de brilhar. Depois de virar auxiliar de lateral-esquerdo em uma dura missão de frear as subidas de Isla, Vini Jr foi trocado justamente por aquele que resolveria a partida: Everton Ribeiro. Na função pela esquerda, apareceu Paquetá. Como Tite está desesperado atrás de soluções mais criativas, contar com um meia com um passe melhor e uma capacidade de articulação depõe contra o velocista driblador Vini Jr. Como seguir relevante? Contra o Peru, ele nem entrou. Tite tem outros jogadores de lado de campo na mira. Vinicius já tinha ficado fora da lista inicial de Tite e apareceu na relação suplementar, após o veto aos jogadores da Inglaterra. Difícil imaginar que na próxima convocação ele apareça entre as prioridades. Raphinha, do Leeds, pede passagem, assim como Malcom, do Zenit.