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ANÁLISE

SBT estreia no futebol europeu: o que esperar da emissora de Silvio Santos?

Téo José, narrador do SBT, volta a narrar as competições da Uefa após anos de experiência na RedeTV! e na Band - Reprodução
Téo José, narrador do SBT, volta a narrar as competições da Uefa após anos de experiência na RedeTV! e na Band Imagem: Reprodução

Allan Simon

Do UOL, em São Paulo

11/08/2021 04h00

O SBT inicia hoje uma nova fase de transmissões esportivas com a exibição da Supercopa da Uefa. A emissora mostra o duelo entre Chelsea e Villarreal a partir das 16h (horário de Brasília), valendo o título que abre oficialmente a temporada do futebol na Europa. A narração será de Téo José, com comentários de Mauro Beting, Mauro Cezar Pereira e Nadine Basttos.

Essa será a primeira aparição do futebol europeu na emissora de Silvio Santos desde os anos 1990. E é mais um passo no projeto do futebol, que recomeçou em 2020 após 17 anos de ausência em rede nacional. O pacote comprado pelo canal terá como protagonista a Liga dos Campeões e conta ainda com a Liga Europa, valendo até a temporada 2023/24.

Desde 2020, o SBT é a emissora que detém os direitos de transmissão da Libertadores com exclusividade em TV aberta no Brasil, se aproveitando da rescisão unilateral imposta pela Globo à Conmebol em meio à paralisação do futebol provocada pela pandemia da covid-19. Em mais uma repercussão desse movimento, levou também a Copa América, disputada no Brasil entre junho e julho deste ano. Mas o que esperar agora desta nova incursão com futebol europeu?

- Missão de retomar torneios da Uefa na TV aberta

O jogo Chelsea x Villarreal de hoje marca também o retorno das competições da Uefa à TV aberta no Brasil. No último ciclo de três anos, entre 2018/19 e 2020/21, o Facebook foi o detentor do que seria o antigo espaço ocupado pela Globo, Band, Record, RedeTV!, Esporte Interativo (nas parabólicas) e até mesmo a TV Cultura, no fim dos anos 1990.

A experiência com a rede social de Mark Zuckerberg conseguiu números históricos, com picos de 4,2 milhões de usuários simultâneos na final de 2020 entre Bayern de Munique e PSG na Champions League. Mas o alcance ainda não é comparável ao que as TVs abertas conseguem no Brasil.

Em uma conversão livre, apenas para fins de curiosidade, esse recorde da final da Liga dos Campeões com Neymar em campo há um ano seria equivalente a quase 6 pontos de TV aberta no PNT (Painel Nacional de Televisão), índice do Ibope responsável por sinalizar a média nacional das 15 praças com medição de audiência. E vale lembrar: 4,2 milhões foi o pico, e não a média de usuários ligados na live durante toda a partida.

A Uefa sabia que precisava voltar a aparecer na TV aberta do Brasil para ampliar seus números, e por isso separou um novo pacote menor, com um jogo por rodada, para que as emissoras pudessem voltar a ter interesse. A Globo até tentou ser novamente a emissora da Champions no Brasil, mas esbarrou na busca por ter todos os direitos exclusivos da competição. E foi aí que o SBT levou vantagem.

- Ser opção à cobertura da TNT e do Space na televisão

O SBT ganhou o contrato de transmissão da Champions League (que inclui a Supercopa) porque a proposta da WarnerMedia pelos direitos de TV por assinatura e streaming era melhor para os cofres da Uefa do que aceitar vender o pacote fechado da competição para a Globo.

Como o grupo de comunicação carioca queria a Liga dos Campeões inteira na Globo (TV aberta), SporTV (TV por assinatura) e Globoplay (streaming), a proposta deveria ter sido maior do que a Uefa conseguiria somando SBT, TNT/Space e HBO Max nas mesmas mídias. E não conseguiu.

Agora caberá ao SBT se posicionar como uma opção também ao telespectador do futebol europeu que se acostumou a acompanhar as transmissões da WarnerMedia ao longo dos últimos anos. Vale lembrar que as lives do Facebook também eram produzidas pela empresa dona da TNT, ou seja, até quem não tinha TV por assinatura em casa acabou acompanhando a Champions com as narrações de André Henning, Jorge Iggor, Luiz Felipe Freitas, Octavio Neto, entre outros.

Para a missão, estarão escalados Téo José e Luiz Alano, nas narrações. Mauro Beting se dividirá entre os dois grupos, sendo uma presença constante e talvez até funcionando como uma ponte para esse espectador que poderá migrar de um canal para o outro.

O desafio do SBT será conquistar esse público que viu transmissões nos últimos anos com repórteres espalhados por toda a Europa, coberturas in loco (antes de a pandemia mudar esses planos), e vasto espaço na programação em várias plataformas da TNT. Tudo isso sem deixar de fazer a Liga dos Campeões com uma linguagem de TV aberta, que chega a pessoas muito diferentes.

- Mais chances de liderança do que na Libertadores

As transmissões de futebol no SBT costumam ser notícia pela questão da audiência, quase sempre ocupando o segundo lugar, distante da Globo, o que só muda em finais.

Nos dois principais mercados publicitários do país, a emissora de Silvio Santos liderou na média o Ibope no RJ com alguns jogos do Flamengo na Libertadores 2020 e com o Fla-Flu exibido pontualmente na final do Campeonato Carioca 2020 (primeira transmissão nacional de futebol desde 2003 na emissora).

Em SP, ficou em primeiro lugar na média com as finais da Libertadores entre Palmeiras e Santos, em janeiro, e da Copa América entre Brasil e Argentina, em julho deste ano.

Quase sempre as comparações inevitáveis apontam quedas de audiência do futebol com relação ao que a Globo conseguia no Ibope com os mesmos campeonatos. Mas a realidade é que a missão do SBT na Libertadores é mais difícil do que será com o futebol europeu. Enfrentar Jornal Nacional e novela das nove, duas instituições consolidadas na televisão brasileira, é tarefa das mais difíceis.

Com o futebol europeu, o SBT terá à disposição marcas fortes em campo, como Barcelona, Real Madrid, Juventus, Bayern de Munique, os gigantes ingleses, e o vitaminadíssimo PSG, que já seria um campeão de audiência apenas por ter Neymar em campo, mas agora está fortalecido com a chegada de Lionel Messi.

O melhor para o SBT: em horários nos quais a Globo depende muito da escolha certa de novelas a serem reprisadas no "Vale a Pena Ver de Novo", bem como dos filmes selecionados na "Sessão da Tarde". Um mínimo erro de avaliação da emissora carioca pode custar alguns minutos na vice-liderança.

Não é esperado que a emissora de Silvio Santos consiga esses feitos de cara. A Supercopa, hoje, opõe dois times fortes, mas que não são comparáveis aos europeus campeões de popularidade no Brasil.

A estreia da Champions League, na próxima terça-feira (17), ainda será com a fase preliminar. Vai levar um tempo até que o telespectador se acostume a buscar os jogos da Europa no SBT. É por isso que a missão seguinte será o clássico "criar cultura televisiva".

- Jogos em dias fixos e rotação de clubes

Se engana quem acha que o SBT vai se converter em uma "PSG TV" no Brasil. Pelo menos por enquanto, é claro. O projeto da emissora visa fortalecer a terça-feira como o "grande dia" de futebol no canal. Os jogos da Libertadores já foram fixados nesse dia da semana, sempre às 21h30. O canal quer, assim, "criar cultura" e acostumar o telespectador.

A Supercopa será exibida hoje, em uma quarta-feira, porque é uma decisão da Uefa a data única de realização, bem como as finais de Champions sempre serão aos sábados.

Mas o SBT anuncia uma transmissão por semana de Champions League, sempre com jogos às terças. Se mantida essa promessa, haverá uma rotação natural dos times que passarão pela tela do canal de Silvio Santos. A Uefa não costuma montar a tabela deixando que uma mesma equipe fique jogando sempre no mesmo dia da semana.

No mata-mata, por exemplo, quem joga a ida em uma terça disputa a volta em uma quarta-feira. É um formato usado há muito tempo e que visa atender também aos contratos assinados ao redor do mundo por pacotes de dia da semana. Assim, se a gente for imaginar que uma edição de Liga dos Campeões tivesse PSG x Barcelona de um lado e Real Madrid x Juventus do outro, o SBT mostraria um duelo de cada confronto.

É diferente do formato usado pela Conmebol na Libertadores, onde as emissoras escolhem os seus duelos no mata-mata e levam as duas partidas deles, como está acontecendo com o clássico Palmeiras x São Paulo nas quartas de final da atual edição.

- Liga Europa como "coringa"

A Uefa também queria colocar de novo a Liga Europa na TV aberta após anos de ausência. O torneio chegou a aparecer na grade da Record e da RedeTV!, mas estava restrito aos canais Disney na TV por assinatura até a temporada passada. A confederação europeia encontrou no SBT uma chance de tornar isso uma realidade.

A emissora de Silvio Santos ainda não fez muito barulho sobre a transmissão do segundo campeonato em importância no futebol europeu. Apenas confirmou oficialmente ser a detentora dos direitos na mesma carta aberta em que defendeu a realização da Copa América no Brasil em junho.

A expectativa é de que a Liga Europa seja uma espécie de "coringa" na grade, a ser usado nas fases de mata-mata, ou em caso de times com marcas fortes no Brasil se enfrentarem antes disso. O acordo também é válido até a temporada 2023/24. A competição costuma ter jogos às quintas-feiras, o que acrescentaria um dia de futebol à grade da emissora, que vai bem no horário da tarde com as novelas mexicanas.