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Engajamento no esporte vai de mensagem de apoio até pedido de dinheiro

Crupix é uma ação do Cruzeiro para arrecadar dinheiro com ajuda do torcedor - Divulgação
Crupix é uma ação do Cruzeiro para arrecadar dinheiro com ajuda do torcedor Imagem: Divulgação

Do UOL, em Belo Horizonte

08/08/2021 11h43

Os Jogos Olímpicos de Tóquio chegaram ao fim, mas deixaram uma enorme mostra de como a internet foi aliada de atletas, patrocinadores e até mesmo organizadores da competição neste momento de pandemia da covid-19. Por meio das redes sociais, o que se viu foram inúmeras formas de buscar engajamento, seja por vídeos engraçados dos competidores, gravações comuns ou trabalhadas, fosse por grandes empresas patrocinadoras e até confederações de cada país participante.

O Banco do Brasil, instituição que há décadas apoia esportes olímpicos, por exemplo, promoveu transferência de incentivos aos atletas por meio de mensagens via aplicativo de bate-papo sem o uso de arrecadação financeira.

Em contrapartida, enquanto as Olimpíadas rolavam e mobilizavam a população mesmo com o fuso horário invertido do Japão, clubes de futebol no Brasil davam sequência às campanhas com objetivo de arrecadar dinheiro, tendo em vista a enorme dificuldade causada pela pandemia da covid-19.

Há diversos anos, por vários motivos e ocasiões, os clubes de futebol enfrentam graves crises e recorrem ao maior patrimônio do clube: a torcida. A dinâmica é simples, os membros da torcida criam uma "vaquinha" eletrônica e de forma viral o link é rapidamente espalhado, rendendo frutos aos caixas para quitar os débitos.

Exemplos não faltam. Em maio deste ano, dois grandes clubes do futebol nacional inovaram ao fazer vaquinhas com o Pix, meio de pagamento criado pelo Banco Central em que os recursos são transferidos entre contas em poucos segundos, a qualquer hora ou dia. O Vasco lançou o #VasPix e divulgou para a sua torcida que o destino do valor arrecadado será as categorias de base do cruzmaltino. O Gigante da Colina conseguiu arrecadar cerca de 500 mil reais e gerou grande repercussão nas redes sociais.

O Cruzeiro, time que passa por graves problemas econômicos, voltou a fazer campanha para receber doação de seus fãs no mês passado. O time celeste afirmou que a verba será destinada para a regularização do pagamento de salários de atletas e profissionais da administração.

"Eu acho que é positivo. Eu acho que os clubes só existem por causa dos torcedores, são eles que fazem o clube grande, é a massa. As pessoas querem ter momentos felizes através do seu time, ganhando, seu time conquistando. Então não vejo problema em fazer arrecadações nesse formato, já que as arrecadações tradicionais de bilheteria em dias de jogo não estão passíveis de acontecer nesse momento", analisa o presidente do Fortaleza, Marcelo Paz.

O Juventude, adversário do Atlético-MG hoje, às 16h, no estádio Alfredo Jaconi, em Caxias do Sul, retornou a Série A após 14 anos, teve ajuda da sua torcida para melhorar a iluminação do seu estádio. A ideia funcionou e o clube recebeu R$ 160 mil dos adeptos.

Para Fábio Pizzamiglio, Vice-presidente de Administração/Marketing do Juventude, a injeção de dinheiro por parte dos torcedores é válida e aquece a relação com o torcedor:

"Neste momento de pandemia, onde não temos a presença das torcidas nos jogos, precisamos nos reinventar para que essa relação continue sempre aquecida. Umas das formas são as ações de arrecadação de pequenos valores, mas de forma pulverizada, via plataformas como o pix, onde não temos valor mínimo para doação. A ideia é atingir o máximo possível de torcedores e manter eles sempre engajados e conectados ao clube".

Recentemente, a principal torcida organizada do Corinthians, a Gaviões da Fiel, fez uma proposta à diretoria Alvinegra para que fosse realizada uma contribuição coletiva através da internet. Para Renê Salviano, diretor da HeatMap, empresa especializada em marketing esportivo, há várias maneiras do torcedor ajudar o seu clube do coração.

"Os torcedores podem ajudar muito, com ou sem dinheiro. Por exemplo, consumindo e compartilhando as redes sociais do clube, já estão colaborando. Sendo sócio torcedor, apoiando projetos de leis de incentivo, tanto pessoa física, quanto pessoa jurídica, comprando apenas produtos oficiais e, tendo condições, apoiando outras iniciativas da instituição, como indicando novos parceiros ou até mesmo patrocinado o clube", afirmou Renê.

Cruzeiro

Em 2020, o Cruzeiro recorreu duas vezes ao seu público para o pagamento de dívidas. Em setembro do ano passado, a raposa realizou a "Operação FIFA" para angariar recursos e diminuir os problemas do time em relação a entidade máxima do futebol. Porém, não deu certo. O clube arrecadou cerca de 800 mil reais, valor muito abaixo da dívida do time com a confederação.

Também em 2020, um grupo de cruzeirenses se reuniram para pagar o débito que a equipe celeste tinha com um pai de santo, contratado para ajudar o time em 2019. A dívida era de quatro mil reais e, com a ajuda desses torcedores, o Cruzeiro quitou a sua despesa.

Neste ano ainda teve a campanha Crupix, que foi criada com o intuito de arrecadar fundos para o auxílio no pagamento de funcionários.

Palmeiras

Em 2012, o Palmeiras embarcou nesse projeto de "vaquinha" e tentou contratar o volante Wesley, com a parceria dos torcedores alviverdes. A expectativa do Verdão era arrecadar 21 milhões de reais. Porém, o valor total conseguido foi de " apenas" R$832 mil. Com o fracasso do projeto, o Palmeiras optou por devolver o dinheiro aos torcedores doadores e contratou o jogador com a ajuda de investidores.

Santos

O Santos, por sua vez, lançou uma campanha para a arrecadação de dinheiro pela doação de torcedores em 2020, criando o projeto "Virada Santista". O clube do litoral paulista arrecadou cerca de 1 milhão de reais, na ocasião. O Peixe divulgou que o projeto foi "um sucesso", pois ajudou a quitar um débito com o Hamburgo.

Para Renê Salviano, que está no mercado esportivo há mais de 20 anos, as ideias de "vaquinhas" são válidas, porém, faz ponderações e diz a melhor forma de realizá-las, em seu ponto de vista. "Sou a favor, mas quando existe uma meta clara fica mais fácil conectar os apoiadores da ação. Exemplo, reforma de um campo, apoio a alguma nova modalidade, entre outros, são projetos palpáveis, com melhor aceitação, deixando o torcedor mais próximo de sentir a ajuda ao time de coração", conclui o diretor da HeatMap.

"Elaborar um estudo para conhecer dados com informações dos apoiadores de uma equipe é extremamente importante para ativações comerciais, ao encontrar o alvo fica muito mais fácil de transformar um projeto em receitas. No futebol, algumas coisas acontecem naturalmente e de forma inexplicável. Recentemente, a torcida do Vasco descobriu a chave Pix do clube e começou a fazer doações, as arrecadações bateram quase R$ 400mil, a ação começou de forma natural entre os torcedores, mas isso exemplifica como o futebol pode mobilizar massas com pequenas atitudes", explica Bruno Maia, especialista em inovação e novos negócios na indústria do esporte e sócio da 14, agência de conteúdo estratégico.