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Como o Inter foi de quase campeão brasileiro à decepção em cinco meses

Edenilson lamenta durante jogo entre Internacional e Olimpia na Libertadores - Ricardo Rimoli/Getty Images
Edenilson lamenta durante jogo entre Internacional e Olimpia na Libertadores Imagem: Ricardo Rimoli/Getty Images

Marinho Saldanha

Do UOL, em Porto Alegre

23/07/2021 08h01

Há cinco meses quase exatos, poucos centímetros separaram o Inter do título do Brasileiro. O gol anulado de Edenilson nos acréscimos contra o Corinthians definiu um empate, com pênalti revertido no VAR, bola na trave e outros gols invalidados. Desde então, foi como se um furacão passasse pelo Beira-Rio. Ontem (22), a eliminação na Libertadores completou uma série de fracassos que já apagaram a glória que por muito pouco não veio.

O impedimento de Edenilson aconteceu, o Flamengo foi campeão. Mas ali o sinal era positivo. Apesar de não ter o mesmo poder de investimento de rivais, o Colorado de Abel Braga firmou posição entre os primeiros. Só que o que sucedeu o "quase título" foi uma série de equívocos, eliminações e reações que já pouco deixam memória de tudo que houve.

Time que está ganhando... se mexe

Tão logo acabou a partida final do Brasileirão passado, Abel Braga e o Inter anunciaram, juntos, a saída. O treinador que quase foi campeão brasileiro, que está na história do clube com taças de Libertadores e Mundial de Clubes, deixou a agremiação com sentimento de dever cumprido. Em time que está ganhando, se mexe, contrariando o dito popular. O rompimento já estava definido e poderia até ter ocorrido antecipadamente, durante o campeonato, não houve exatamente pelos resultados positivos e o bom ambiente do grupo.

Mas, ignorando o que havia sido construído, o Colorado estava empenhado em uma ruptura. Queria um novo projeto, uma forma de atuar que revolucionasse o que era apresentado nos últimos tempos. Por isso apostou em Miguel Ángel Ramírez, com o repetidamente citado "jogo de posição".

Projeto durou pouco

Apesar de ter defendido um projeto de longo prazo, com vínculo de Ramírez se estendendo por duas temporadas e a chegada gerando comemoração — o técnico havia sido procurado por Palmeiras e Santos mas tinha firmado acordo verbal com o Inter — o Colorado deu ao espanhol apenas três meses de serviço.

Ao contrário do que se previa, que Ramírez teria tempo para impor seu estilo, poderia avaliar os jogadores com calma e posteriormente pedir os reforços necessários, que estaria engajado na projeção de jogadores da base e poderia promover, como em seu trabalho anterior, a entrada deles paulatinamente no time, o técnico sofreu das mesmas pressões que todos sofrem no Brasil.

Sem vencer o Gauchão (derrotado na final pelo Grêmio), Ramírez começou a sofrer críticas públicas, viu ruir sua relação com os jogadores, e acabou "fritado" nos bastidores. Um começo de Brasileiro ruim e a eliminação precoce na Copa do Brasil para o Vitória foram a gota d'água, ou as razões esperadas para concluir o desligamento.

Um novo começo, com os mesmos problemas

Sem Ramírez, o Inter optou por Diego Aguirre, iniciando o trabalho em meio a competições e sem o devido tempo de treinamento. Ao contrário do antecessor, que tinha recebido só dois reforços, o uruguaio já levou mais três rapidamente com Bruno Méndez, Paulo Vitor e Gabriel Mercado. O último ainda nem estreou.

Mas enquanto tenta firmar suas ideias (o mesmo que pretendia fazer o comando anterior) Aguirre convive com uma longa reformulação do elenco. O Inter ainda busca agregar jogadores e está em franco processo de alteração de grupo. Cedeu atletas emprestados, vendeu outros, e ainda está envolvido com possibilidade de chegadas. A cada semana há uma nova possibilidade de acréscimo ou negociação, o que torna o ambiente instável e difícil. Aguirre não está só "trocando o pneu com o carro andando", também não sabe se ao abrir a caixa de ferramentas amanhã ainda contará com o macaco e a chave de roda.

Peças iguais, resultados semelhantes

Enquanto isso, a base do time do Inter é a mesma há bastante tempo. Com mudanças recentes, como no gol e na zaga, mas com pilares firmes ocupando os postos mais relevantes e já sem o mesmo apreço da torcida. Edenilson, Patrick, Dourado, Cuesta, Galhardo, Yuri, Moisés, todos já foram criticados em algum momento.

Crise financeira e dificuldade de contratar

Ao mesmo tempo, o Inter encara uma grave crise financeira. O clube chegou a demitir funcionários para cortar gastos e procura sempre reforços que não acarretem investimento alto. Não pode concorrer com outras equipes na busca pelos melhores atletas e se vê de mãos atadas muitas vezes no mercado da bola. Em contrapartida, não titubeou em arcar com a multa rescisória do comando técnico passado.

Na esteira dos problemas financeiros, o Inter também não tem capacidade de manter seus principais valores, que são negociados assim que surgem propostas interessantes, casos de Praxedes e Peglow.

Sem as premiações de classificação às quartas de final de Copa do Brasil e Libertadores, o Inter deixou de receber R$ 11,3 milhões, que fatalmente ajudariam neste contexto.

Torcida descrente e grupo abalado

Por fim, o "combo" do fracasso do Inter se vê tatuado na torcida. Os colorados estão descrentes da capacidade do time e já se dizem satisfeitos com o que resta: evitar um vexame no Brasileirão.

O grupo de jogadores, por sua vez, dá sinais de abalo psicológico, sofrem a pressão externa, não indicam recuperação imediata. E tal quadro se desenha ainda pior em campo quando com uma série de chances criadas e desperdiçadas o time acaba eliminado em casa pelo Olimpia.

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