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Quem é o megaempresário de Crespo que participa da negociação com Benedetto

Christian Bragarnik (centro) comemora com Hernán Crespo a conquista da Sul-Americana pelo Defensa y Justicia - Reprodução/Instagram
Christian Bragarnik (centro) comemora com Hernán Crespo a conquista da Sul-Americana pelo Defensa y Justicia Imagem: Reprodução/Instagram

Brunno Carvalho e Tales Torraga

Do UOL, em São Paulo

22/07/2021 04h00

Christian Bragarnik tem uma extensa carta de clientes no meio do futebol. A Scorefutbol, empresa em que é dono ao lado de Marcelo "Bocha" Valeri", agencia a carreira de mais de 100 jogadores e 27 treinadores. É ele quem empresaria o técnico Hernán Crespo, do São Paulo, e o novo alvo do clube para o ataque: Darío Benedetto.

As conversas com o Olympique de Marselha, da França, para contratar o atacante argentino têm evoluído nos últimos dias. Bragarnik e Valeri são os responsáveis por cuidar da parte que interessa a Benedetto.

Caso a contratação se confirme, será a segunda com o dedo do empresário. Ele já teve papel importante na negociação com Emiliano Rigoni. Vejam só: Bragarnik comprou parte das ações do Elche, da Espanha, no fim de 2019. No ano seguinte, adquiriu o atacante por empréstimo do Zenit, da Rússia, e exerceu a opção de compra de 100 mil euros. Poucos meses depois, acertou a venda de Rigoni para o São Paulo.

As negociações demoraram por causa da forma de pagamento. O time do Morumbi conseguiu que a primeira parcela da transferência começasse a ser paga somente em 2022. Rigoni assinou um contrato de quatro anos com o São Paulo. O atacante era um pedido do técnico Crespo.

Desde que chegou em maio, Rigoni se transformou em uma peça importante para o São Paulo. Foram cinco gols e quatro assistências, até o momento, em 11 jogos.

Outro jogador de Bragarnik chegou a ser especulado no São Paulo, mas as conversas não evoluíram. O atacante Braian Romero, que teve passagem pelo Defensa y Justicia, ainda estava no Independiente, da Argentina, quando seu nome foi vinculado ao time do Morumbi. Ele acabou se transferindo para o River Plate. Foram dele os dois gols que classificaram a equipe para as quartas de final da Libertadores, ontem (21), ao vencer o Argentinos Juniors por 2 a 0.

A influência do empresário

Christian Bragarnik, empresário de futebol - Reprodução/Instagram - Reprodução/Instagram
Imagem: Reprodução/Instagram

Bragarnik é um empresário influente na Argentina, com jogadores espalhados por toda a elite do futebol local. Seu local de maior poder é o Defensa y Justicia, time antes comandado por Hernán Crespo e agora sob a batuta de Sebastián Beccacece, ambos agenciados por ele.

Nove dos jogadores que agencia atuam no Defensa y Justicia. Em entrevista dada ao jornal "Clarín", da Argentina, em 2019, Bragarnik negou influenciar na ida de seus atletas para clubes que contam com treinadores empresariados por ele.

"Eu não obrigo ninguém a nada. Evidentemente, as pessoas veem o trabalho que fizemos no Defensa y Justicia, olham a melhora que teve o Racing com Víctor Blanco [presidente do Racing, à época comandado por Coudet], a sequência ao longo dos anos do Godoy Cruz. Além disso, muitos agentes têm vários jogadores em uma mesma equipe, e só se fala de Bragarnik".

Influenciada por ele ou não, o fato é que a extensa lista de jogadores do empresário marcou presença no futebol brasileiro. Quando Eduardo Coudet comandou o Inter, Bragarnik foi fundamental para a contratação de Leandro Fernández.

O atacante estava praticamente fechado com o Elche quando o clube gaúcho atravessou o negócio e acertou a sua contratação. A mudança repentina teve a mão do poderoso empresário argentino.

Assim como no São Paulo, outros jogadores seus chegaram a ser especulados e acabaram não sendo contratados. No caso do clube gaúcho, as negociações que não tiveram sucesso envolviam os atacantes Walter Bou e Fernando Márquez.

Em uma passagem curiosa de sua carreira, Bragarnik ajudou Maradona a ser treinador do Dorados, do México. "Conheci Maxi, um dos assistentes de Diego em um voo. Trocamos telefones e ele me ligou dizendo que queria voltar a ser treinador. (...) Justamente Dorados precisava de um treinador, e eu disse: 'Vamos com essa loucura'", contou ao "Clarín".

Os tentáculos de Bragarnik se estendem pela Europa. Além de sua empresa ser dona de parte do Elche, ele tem o zagueiro Lisandro Martínez no Ajax, na Holanda, e Darío Benedetto no Olympique de Marselha, na França. Mas se depender da vontade do São Paulo, esse último virá ao Brasil em breve.

Na Argentina, a parceria com Hernán Crespo é vista como o próximo passo de Bragarnik para crescer na Europa. A idolatria do ex-jogador e atual treinador no Velho Continente facilitaria a entrada do empresário nos mercados italiano e inglês.

Polêmicas e poucas declarações

Christian Bragarnik, durante partida do Elche - Reprodução/Instagram - Reprodução/Instagram
Imagem: Reprodução/Instagram

Christian Bragarnik não gosta de dar entrevistas. Quando esteve por Porto Alegre agenciando a carreira de Coudet, não atendia a imprensa. Na própria Argentina suas aparições são raras. Em uma delas, ao jornal "La Nación", disse que não dava declarações por se incomodar com o que era dito pelos jornalistas.

"Estamos em uma época que é difícil reconhecer que o outro vai bem pelo esforço. É sempre mais fácil dizer que ele se deu bem porque fez algo sujo ou feio. Isso acontece muito na Argentina. Por mais que eu diga a minha verdade, não vão mudar de opinião. Por que lutar contra algo que estou tranquilo", explicou.

As polêmicas rondam Bragarnik desde a época em que foi presidente do Querétaro, do México. Em um determinado momento, revelaram que membros da sociedade anônima que era dona do clube tinham relações com narcotraficantes. O empresário disse que não sabia da situação. Pouco tempo depois, voltou para a Argentina, onde começou seu império.

"Fui contratado por uma sociedade anônima [no Querétaro]. Depois descobri que a maioria dos acionistas tinha ligação com o tráfico. Eu era um empregado. Estive à frente da equipe, participei das reuniões da Federação, vendi e comprei jogadores. Depois, em 2004, dissolveram o clube. Eu não era um investigador particular para avaliar situações privadas", justiçou ao "La Nación".

Anos mais tarde, Bragarnik foi investigado pela Unidade de Informação Financeira, da Argentina, por suspeitas de irregularidades na venda do atacante Julio Rodríguez do Defensa y Justicia para o Dorados, do México. "Eles decidiram fazer um relatório de operações suspeitas porque consideraram que as cifras envolvidas no negócio eram muito baixas", explicou Bragarnik. Na época, Rodríguez foi vendido por US$ 80 mil.

"Mostrei os números e ficou tudo certo. É como te param em uma blitz. Eles pedem seus documentos, mas isso não quer dizer que você cometeu uma infração. Não comprovaram nada de irregular", completou.

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