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Movimento "anti-Brasil" vira combustível para seleção antes da final

Jogadores abraçados antes de jogo contra o Peru pela semifinal da Copa América; campanha tem cinco vitórias e um empate - Miguel Schincariol/Getty Images
Jogadores abraçados antes de jogo contra o Peru pela semifinal da Copa América; campanha tem cinco vitórias e um empate Imagem: Miguel Schincariol/Getty Images

Danilo Lavieri e Gabriel Carneiro

Do UOL, no Rio de Janeiro

09/07/2021 04h00

Uma inquietação dos jogadores tem ganhado força nos bastidores da seleção brasileira nos últimos dias contra um suposto movimento "anti-Brasil" às vésperas da final da Copa América, amanhã (10), às 21h, no Maracanã, contra a Argentina. Parte do grupo mostra incompreensão e até revolta com declarações de torcedores, jornalistas e influenciadores brasileiros de que não vão apoiar a equipe.

Não existe qualquer intenção de transformar essa opinião geral num comunicado ou manifesto, como foi na época em que se incomodaram com a mudança de sede do torneio, em junho, mas trata-se de um assunto presente no dia a dia da seleção às vésperas da decisão com repercussão principalmente nas redes sociais.

Os primeiros sinais surgiram logo depois da classificação da Argentina para a final, na quarta-feira (7). Manifestações como da comentarista Fabíola Andrade, do Grupo Globo, e do colunista Menon, do UOL, repercutiram entre influenciadores que os jogadores seguem na internet e foram compartilhadas internamente. Neymar até comentou publicações do perfil "@fuiclear" com emojis de risada e frases como "só tem maluco" e "brasileiro torcendo para outra seleção é normal, só aqui mesmo".

Ontem (8), Neymar chegou ao ápice da revolta e decidiu postar um Story no Instagram como desabafo:

Sou brasileiro com muito orgulho e com muito amor. Meu sonho sempre foi estar na seleção brasileira e ouvir a torcida cantando. Jamais torci, ou torcerei se o Brasil estiver disputando alguma coisa, seja lá qual foi o esporte, concurso de moda, Oscar, ou o c*** a quatro. Se tem Brasil, eu sou Brasil. E quem é brasileiro e faz diferente? Ok, vou respeitar, mas vai para o c*** né. Obs: Só serve para quem está contra."

O zagueiro Marquinhos também já foi questionado em entrevista coletiva sobre essa torcida antiseleção e mostrou não concordar: "A gente vê tantos brasileiros, tanta gente na imprensa, que é contra, que não apoia a seleção brasileira e não tem nenhum prazer e orgulho de assistir e torcer por nós. Eu como torcedor sempre estive ao lado da seleção brasileira. Vai ser bom se a gente se juntar e trabalhar juntos, jornalista, torcedor, jogadores, por um objetivo maior que é o título, que é vitória. Uma vitória pode deixar a vida muito melhor."

Marquinhos - Reprodução/CBF TV - Reprodução/CBF TV
Marquinhos propôs "união" entre torcedores, jogadores e jornalistas brasileiros
Imagem: Reprodução/CBF TV

O próprio jogador, que é um dos capitães do elenco, disse na mesma entrevista que o grupo da seleção é afeito a motivações externas, coisas que saem na mídia e podem deixar os jogadores estimulados a contrariar expectativas nos bastidores: "Tudo o que é falado, jogado para o alto, eu pego comigo para que a gente se motive. Isso é válido."

O desinteresse do torcedor pela seleção brasileira não é uma pauta nova. Em 2018, uma pesquisa do Datafolha mostrou que 53% dos brasileiros não tinham qualquer interesse pela Copa do Mundo da Rússia. As justificativas iam desde a crise financeira do país até os escândalos de corrupção da CBF. Em 2021, outro argumento pode ser acrescentado à lista: a possível falta de empatia dos jogadores em relação aos números da pandemia no Brasil. O manifesto de junho, por exemplo, não teve qualquer mensagem de força e solidariedade.

Na prática, três movimentos do elenco chamaram atenção: as postagens do lateral-direito Danilo se solidarizando com as mortes por covid-19, a entrevista em que o meia Everton Ribeiro pediu mais vacinas e amparo do Governo e a doação da chuteira usada na semifinal pelo atacante Richarlison para arrecadar fundos ao programa USP Vida, que existe desde abril de 2020 e foi criado para receber doações, que são direcionadas para pesquisas na área de covid-19.

Neymar e Messi - Evaristo Sá/AFP - Evaristo Sá/AFP
Neymar e Lionel Messi conversam durante Brasil x Argentina disputado em 2016, pelas Eliminatórias
Imagem: Evaristo Sá/AFP

Argentina e Brasil têm uma das maiores rivalidades do futebol. Eles somam 23 títulos (14 da Argentina e nove do Brasil) e 25 vice-campeonatos (14 da Argentina e 11 do Brasil) na Copa América. Só se enfrentaram em três finais: 1937 (título argentino), 2004 (título brasileiro) e 2007 (título brasileiro).

Amanhã é dia de uma nova decisão entre as seleções, mas com arquibancadas vazias e silêncio no lugar do que seriam os cantos "Brasil, decime qué se siente" ou "mil gols, mil gols, mil gols, só Pelé, só Pelé...".