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"Poxa, por que está acontecendo de novo?", recorda Luiz Felipe, do Santos

Luiz Felipe em treino no CT Rei Pelé - Ivan Storti
Luiz Felipe em treino no CT Rei Pelé Imagem: Ivan Storti

Gabriela Brino

Colaboração para UOL, em Santos

06/07/2021 04h00

"É isso, eu sabia. Sempre acreditei em mim, nunca desisti. Praticamente eu já sabia que isso iria acontecer [a volta por cima], sou focado, trabalho bastante. Só não esperava que demoraria tudo isso [risos]", disse Luiz Felipe em entrevista exclusiva ao UOL Esporte.

E demorou mesmo. A última sequência de dez jogos que o zagueiro teve no Santos foi em 2016, quando estava em alta, até se lesionar e ser submetido a uma cirurgia no joelho direito. Na época, ele teve que reconstruir o ligamento cruzado e ficou nove meses parado para se recuperar completamente.

Em seu retorno, Luiz oscilou entre bons e maus momentos. Ele até conseguiu engatar sete ou oito jogos em sequência, mas não com a qualidade que vem desempenhando com o técnico Fernando Diniz atualmente.

Hoje, o zagueiro vive seu melhor momento no time, mas só chegou lá com muito custo. A briga diária consigo mesmo para se reerguer foi delicada. O psicológico pesou e a frustração veio com a falta de resultado em seus trabalhos diários no CT Rei Pelé. Hoje 100%, Luiz Felipe vai a campo pelo Santos contra o Athletico-PR nesta noite (6), na Vila Belmiro, às 19h30, pela 10ª rodada do Campeonato Brasileiro.

Até hoje me dá ansiedade de começar um jogo, independentemente de qual seja. Você fica ansioso para saber como vai ser, como você vai se comportar."

"Imagine quando fiquei nove meses fora, você falar: 'Nossa, vou jogar!', é algo que dá ansiedade. Mas estive preparado, não tive problema nenhum. Mas, com certeza, me dá frio na barriga", explica.

Só questão de tempo

Assim que chegou ao Santos, em 2016, Luiz Felipe se firmou com facilidade na equipe de Dorival Júnior. Foram 41 jogos na temporada antes de se lesionar. Quando recebeu a notícia, o zagueiro se preocupou com o período que teria que ficar afastado, mas imaginou que o retorno seria muito mais fácil.

Luiz Felipe em treino no CT Rei Pelé - Ivan Storti - Ivan Storti
Luiz Felipe em treino no CT Rei Pelé
Imagem: Ivan Storti

"A princípio, a primeira notícia que eu tive foi que talvez não fosse necessário fazer cirurgia. Me deixou mais tranquilo. Foi muito rápido. Lembro que machuquei o joelho num sábado [em um clássico contra o Palmeiras], na segunda fiz a ressonância e em uma sexta eu já estava operando. Não tive muito tempo para pensar no que iria acontecer. Durante a recuperação eu imaginei que seria difícil pelo longo período parado. Mas pensava: 'será tranquilo, vou voltar a jogar no nível que eu estava'. E não foi bem assim", disse.

Quando voltou a ficar à disposição, em agosto de 2017, além da pressão de ter que retornar bem, tanto física quanto tecnicamente, Luiz citou que a pior parte foi lidar com o receio de entrar em novas divididas em campo. Ele tinha medo de se machucar novamente.

"Lógico, quando voltei fiquei com um pouco de medo. De fazer movimentos específicos, de se machucar novamente, enfim, tive que readaptar tudo aquilo que eu fazia com tranquilidade. Para só então perder o medo. Mas depois voltei a treinar com calma", explica.

Por que está acontecendo de novo?

Luiz Felipe em treino no CT Rei Pelé - Ivan Storti - Ivan Storti
Luiz Felipe em treino no CT Rei Pelé
Imagem: Ivan Storti

Um dos problemas que Luiz enfrentou após sua recuperação foram novas lesões. E isso foi determinante após a cirurgia. Problemas na coxa, tornozelo e até uma avulsão do tendão do adutor esquerdo, que é quando o músculo solta do osso. Mais tempo parado.

Essas situações diminuíram a confiança do defensor. Ele passou a se questionar sobre o que estaria fazendo de errado. O psicológico pesou e a frustração trouxe novas dúvidas sobre seu desempenho no clube.

"Foi um pouco complicado. Tive alguns problemas musculares e nesse período você acaba se questionado... 'poxa, por que está acontecendo de novo?', e eu me cobro muito. Quando acontecia, era quase o fim do mundo. Trabalhava firme, fazia tudo, focado na recuperação, e acontecia de novo", desabafa.

"Foi um período muito difícil. O psicológico, não somente pelas críticas —acho que nós, jogadores, estamos acostumados com as críticas, desconfiança. Mas o psicológico de imaginar que, mesmo fazendo tudo que tem que ser feito e de repente não dar o resultado que você quer... é muito complicado. Eu sou bem pé no chão, mas nesse período o mais difícil foi o psicológico", conta.

Não deu certo? Na próxima vai

Nesse período mais sensível, o zagueiro se apegou à sua família e aos amigos mais próximos. Sua esposa estava grávida de sua primeira filha, Ana Luiza, hoje com quatro anos, e ele optou por focar na paternidade e fugir de todo o assunto que envolvia suas lesões. Buscou algo bom nessa situação que o tirava o ânimo. No centro de treinamento, ele continuou com todas as instruções do departamento médico do Santos.

Luiz Felipe posa com filha Ana Luiza e esposa  - Reprodução - Reprodução
Luiz Felipe posa com filha Ana Luiza e esposa
Imagem: Reprodução

"Quando eu me machuquei, descobri que minha esposa estava grávida, eu seria pai da minha primeira filha. Isso te motiva a voltar, dar a volta por cima. Ter minha filha, tirar o foco do que te deixa triste e buscar algo bom nessas coisas. Minha filha nascendo... Isso deixou minha recuperação mais leve. Eu sempre soube do meu potencial, do que eu seria capaz. As coisas não são sempre como a gente quer. Eu olhei para frente, sabe? Não deu certo? Na próxima vai. Só eu poderia me tirar daquela situação", disse.

Velho conhecido

Titular há dez jogos, Luiz Felipe se tornou o braço direito de Fernando Diniz, com quem já trabalhou no Paraná, em 2015. O treinador abriu espaço para o experiente jogador após uma sequência ruim de três jogos neste ano [derrotas para o Barcelona de Guayaquil e The Strongest, pela Libertadores, e Bahia, pelo Brasileirão].

Luiz conta que se identifica muito com a forma de trabalho do comandante santista e que, assim que soube de sua chegada à Baixada Santista, foi uma felicidade.

Felipe Diniz consola Luiz Felipe em partida do Santos - Ivan Storti - Ivan Storti
Felipe Diniz consola Luiz Felipe em partida do Santos
Imagem: Ivan Storti

"Eu já sabia o estilo de jogo dele e a maneira que ele trabalhava. Então, assim, quando ele veio para cá foi uma felicidade para mim. Sabia que era um cara que ajudaria a mim e ao time todo. Pelo momento mais difícil do time também, já que saímos de uma final de Libertadores para a última rodada do Paulistão com chance de ser rebaixado. Então foi um momento muito complicado, uma tensão muito grande. E ele, com o jeito dele de passar confiança, não desistir de jogador, sabíamos que daria certo", explica.

"Aprendi muito com ele em tudo, no geral. Sempre gostei de sair tocando atrás, ser um zagueiro um pouco mais técnico. Mas que tentasse roubar a bola sem falta, e tal. E no Paraná encaixou perfeito. Eu estava fazendo o que eu gostava, da maneira que eu gostava. Todo dia estava aprendendo. E agora nessa segunda passagem com ele, comigo em particular, estou aprendendo ainda mais", acrescenta.

Nossa, vou jogar!

Luiz Felipe em disputa de bola com Hulk - Ivan Storti - Ivan Storti
Luiz Felipe em disputa de bola com Hulk
Imagem: Ivan Storti

Hoje 100%, Luiz Felipe vai a campo pelo Santos contra o Athletico-PR nesta noite (6), na Vila Belmiro, às 19h30, pela 10ª rodada do Campeonato Brasileiro. E acredite se quiser, ele ainda sente frio na barriga antes do início da partida. Ele às vezes relembra das dificuldades que superou no clube e crê que as coisas simplesmente tinham que acontecer dessa forma. Talvez para hoje estar totalmente focado.

"Talvez não tenha dado certo lá atrás, mas acredito que era para acontecer assim. Aprender de repente na dor, ver que estou fazendo algo errado, não me dedicando da maneira que eu deveria, para hoje estar mais concentrado em tudo", conclui.

Lembra de quando o Luiz se apegou à família e no período da paternidade em seu momento ruim no Santos? Hoje, em alta, coincidentemente o zagueiro reviveu isso. Luiz Felipe Filho nasceu há dois meses para dar ainda mais motivação nesse novo ciclo do defensor no Peixe.

"Hoje sou pai novamente, tenho um filho de dois meses. Coincidentemente o momento que estou passando novamente é bom. A motivação de dar uma resposta vendo que tem mais gente dependendo de mim [risos]. Hoje eu sinto que é isso, a chegada dos meus dois filhos mudou totalmente minha vida", conclui.

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