Palco das semifinais e da final da Eurocopa, Wembley se prepara para receber um grande público. O governo britânico autorizou a presença de até 60 mil torcedores no estádio para as partidas finais da competição. Por um lado, a decisão é um grande passo para a retomada da "vida normal". Por outro, causa apreensão da União Europeia, preocupada com as consequências de um grande deslocamento de pessoas em meio à pandemia da covid-19.
No podcast Futebol sem Fronteiras #8 (ouça na íntegra no episódio acima), o colunista Julio Gomes e o correspondente internacional Jamil Chade discutem a polêmica em torno da liberação do aumento da capacidade de Wembley e o temor de que a circulação de um grande número de torcedores possa favorecer a disseminação da variante delta do novo coronavírus.
"Essa decisão é, de uma certa forma, positiva. Os ingleses dizem que terão um estádio com 60 mil pessoas nas semifinais e final. Agora, ao mesmo tempo, você tem a União Europeia extremamente preocupada. Vamos imaginar que a Inglaterra vá para a semifinal. Serão três [seleções] vindas da continente, com as viagens dos torcedores. Na perspectiva da pandemia, há a variante delta ganhando terreno na Europa de uma forma muito clara. A grande preocupação da UE é de que essa variação indiana no Reino Unido seja importada de volta para a Europa diante desse fluxo de torcedores", explicou Jamil.
A venda de ingressos para as três partidas em Wembley está liberada apenas para os habitantes do Reino Unido, Irlanda, Ilha de Man, Guernsey e Jersey. "Será que vão abrir para 60 mil pessoas, mas não vão deixar quem vier da Bélgica, Itália, Dinamarca, irem à Inglaterra para essas finais? Só vai italiano, belga, dinamarquês, ucraniano se morar lá e tiver ingresso?", questionou Julio.
"Essa está sendo a discussão no momento. A regra é essa. O que as federações nacionais estão dizendo é 'queremos nossos torcedores no estádio'. O problema é que há uma confluência de pressões. A União Europeia está dizendo que não quer torcedor europeu cruzando o canal e a volta sem quarentena, sem testes. Haverá ainda uma decisão nesta semana nesse sentido, de controlar", disse Jamil.
O correspondente considera que de nada adianta haver regras rígidas para o acesso de torcedores ao estádio se, fora dele, o controle for brando. "Essa não é apenas uma questão de quantidade de gente dentro do estádio. É tudo, o percurso, a viagem. Não é só 'ah, mas tinha uma cadeira entre cada pessoa'. E como eles chegaram lá? Como foi o metrô, o trem, o avião? A experiência de ir a um jogo de futebol não é só os 90 minutos. É muito mais amplo e difícil de ser controlado", apontou Jamil.
Julio chamou a atenção para uma prática comum e que ilustra como o controle de acesso pode ter falhas. "Você pode comprar o ingresso morando na Inglaterra e botar em um site de revenda. A pessoa vai comprar, pegar um avião e assistir ao jogo. Isso é difícil de controlar", comentou.
Jamil destacou que os europeus também usam o "jeitinho" para driblar as regras. "Te dou um detalhe ainda maior. A gente acha que essas coisas só acontecem na América Latina, mas na própria Suíça tem uma prática enorme de fraude de teste de PCR para viajar. O valor para fazer o teste chegava a ser de 180 euros, o que fazia uma parte da população buscar alternativas. Os suíços perceberam, reduziram o preço ou até o eliminaram. É exatamente todo esse cenário que a Europa está com medo", completou.
Ouça o podcast Futebol sem Fronteiras e confira também um balanço das oitavas de final da Eurocopa e uma projeção para os próximos duelos.
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