Topo

Por que atitudes como a de CR7 com a Coca mexem com ações de empresas

Bernardo Gentile e Brunno Carvalho

Do UOL, no Rio de Janeiro e em São Paulo

16/06/2021 04h00Atualizada em 17/06/2021 09h14

Cristiano Ronaldo viralizou na última segunda-feira (14) ao retirar duas garrafas de Coca-Cola, patrocinadora da Eurocopa, e colocar uma garrafa de água no lugar. Mais do que virar hit na internet, o português gerou uma perda de US$ 4 bilhões (R$ 20,2 bilhões) em valor de mercado para a empresa na bolsa de valores de Nova York (EUA) O UOL Esporte ouviu especialistas no assunto e as primeiras informações são tranquilizadores para a companhia.

Segundo eles, Cristiano Ronaldo não tem o poder de influenciar a longo prazo nas finanças da Coca-Cola. Porém, há como dizer que as atitudes como a do português podem, sim, ter efeito nas ações de uma companhia. Mais que isso. Situações como essa são bastante comuns na Bolsa de Valores pois notícias interferem diretamente nas decisões de quem possui as ações.

O que é valor de mercado?

Os especialistas ouvidos tentaram explicar de maneira simples o que significa cada termo para que quem não entende de economia possa compreender melhor o que aconteceu nesse caso.

"O valor de mercado de uma empresa representa o quanto valem todas as ações de determinada empresa se elas fossem vendidas naquele dia", disse Fabrizio Gueratto, financista do Canal 1Bilhão Educação Financeira e professor de MBA da Faculdade Unisinos.

"É diferente, por exemplo, do valor patrimonial da empresa, que configura a soma de todos os ativos que ela possui. Pela sua natureza, é um valor volátil, que pode mudar o tempo todo, inclusive bruscamente. Quanto mais valiosa uma empresa, maior é a variação do valor de mercado, em termos absolutos, em movimentos de altas e baixas na bolsa, por isso a perda da Coca-Cola, uma empresa de quase US$ 240 bilhões, chama tanta atenção", acrescentou Paula Zogbi, analista de investimentos da corretora Rico.

Cristiano Ronaldo realmente afetou a Coca-Cola?

"É possível cravar que foi o gesto do Cristiano Ronaldo porque não houve nenhum outro fato naquele momento que justificasse essa queda violenta. Por exemplo, os Estados Unidos proibindo o consumo de refrigerantes no país. A queda aconteceu justamente após o gesto do Cristiano Ronaldo viralizar pelo mundo", afirmou Gueratto.

Vinicius Araujo, analista de ações internacionais da XP Investimentos, no entanto, prefere ser mais cauteloso. "É difícil cravar alguma coisa no mercado. O comportamento das ações oscila de acordo com diversos fatores, então, cravar algo é muito difícil. Mas é possível afirmar, sim, que o mercado reage a notícias. Nesse caso que aconteceu hoje, parece, sim, que foi claramente por causa da crítica dele ao refrigerante o movimento mais acelerado de queda, pode ter ajudado na queda das ações", acrescentou.

Zogbi, por sua vez, entende que a atitude do atacante português pode até ter influenciado momentaneamente, mas nada que possa preocupar a Coca-Cola a longo prazo.

"Foi um movimento rápido e bem forte para o padrão da ação, mas eu não cravaria que esse foi o motivo. Mesmo que tenha gerado um movimento de venda pontual, a fala do jogador não tem nenhum impacto no fundamento da empresa, que continua sendo a patrocinadora do campeonato e, inclusive, vende muitos outros produtos além do refrigerante. Resumindo, mesmo que esse fato pontual tenha estimulado a queda, não dá para dizer que o gosto pessoal de um atleta, por mais influente que seja, possa afetar a ação no longo prazo", afirmou ela.

"A Coca-Cola é uma marca muito forte, muito consolidada. Não é esse tipo de atitude que vai fazer com que as pessoas parem de consumir o refrigerante. Muitas vezes, isso pode trazer até mais visibilidade para a marca deles. Mas também é imprevisível, porque o Cristiano Ronaldo é uma pessoa muito influente e ele prega muito esse estilo de vida mais saudável. Mas, apesar disso, ele não verbalizou as críticas", finalizou Vinicius Araujo.

O que aconteceu?

O gesto de Cristiano Ronaldo teve consequência. O mercado abriu na segunda (14) com as ações da Coca-Cola custando cerca de US$ 56,10 (cerca de R$ 285). Em seguida, as ações apresentaram uma desvalorização de 1,6%, alcançando um valor mínimo de US$ 55,22 (cerca de R$ 280). O jornal "Marca", da Espanha, afirma que a queda aconteceu 30 minutos depois do fim da entrevista coletiva de Cristiano Ronaldo.

Gráfico bolsa de valores Coca-Cola - Reprodução - Reprodução
Imagem: Reprodução

A queda das ações fez a Coca-Cola ter uma perda no valor total de mercado de US$ 4 bilhões, caindo de US$ 242 bilhões para US$ 238 bilhões.

No fim do dia, as ações da Coca-Cola tiveram uma leve melhora, fechando o pregão sendo vendidas a US$ 55,4 (R$ 279,4). O valor de mercado terminou em US$ 238,9 bilhões (R$ 1,2 trilhão).