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Justiça exige salários em dia no Cruzeiro, mas clube descumpre determinação

Cruzeiro virou alvo do Ministério Público do Trabalho por atrasos recorrentes de salários de funcionários - Divulgação/Cruzeiro
Cruzeiro virou alvo do Ministério Público do Trabalho por atrasos recorrentes de salários de funcionários Imagem: Divulgação/Cruzeiro

Guilherme Piu

Do UOL, em Belo Horizonte

16/06/2021 04h00

A atual diretoria do Cruzeiro brada aos quatro cantos que conseguiu superávit de R$ 33 milhões na gestão de Sérgio Santos Rodrigues, número destacado no balanço patrimonial do clube em 2020. No entanto, os atuais gestores não conseguem sequer cumprir obrigações básicas, como o pagamento de salários em dia. Por não ser adimplente com os vencimentos mensais dos funcionários, a Raposa recebeu uma multa de R$ 100 mil por danos morais coletivos e se viu obrigada a quitar as pendências salariais com os colaboradores após uma Ação Civil Pública ajuizada pelo Ministério Público do Trabalho (MPT).

Proibido de atrasar os salários após determinação judicial, o Cruzeiro segue sem cumprir essa obrigação. Segundo apurou o UOL Esporte, os funcionários ainda não receberam o pagamento referente ao mês de maio, vencido há mais de uma semana.

"Me disseram que não há previsão de pagamento. E quando respondem ainda são sarcásticos, colocando medo e dizendo que nem sabem se haverá pagamento no mês", disse ao UOL um funcionário que pediu anonimato, com receito de retaliações.

O clube também não pagou os valores referentes às férias dos funcionários de 2020, e quem tirou férias neste ano também não viu a cor do dinheiro. O clube abriu uma arrecadação de dinheiro da torcida pela ação de marketing "CruPix" —inspirada na nova metodologia de transferências bancárias—, mas arrecadou pouco mais de R$ 65 mil. Valor que não paga nem a multa imposta pelo MPT.

"A coisa está feia, não tem salário e a gente fica com dificuldade para comprar alimento, pagar aluguel, pagar pensão. Não tem previsão de pagamento e a gente fica como?", questionou outro funcionário que procurou a reportagem.

Contradições

Relatos que contradizem o que o presidente do Cruzeiro Sérgio Santos Rodrigues aponta. Em entrevista à Rádio Itatiaia, o cartola, que chamou a ação do MPT de "absurda", citou que mesmo com as adversidades, quem trabalha no clube o faz "por amor" e aceita ser cobrado mesmo com salário atrasado.

"A ação, a gente acha um absurdo [Do Ministério Público do Trabalho]. A gente não tem como prometer de forma diferente, mas isso a gente responde com transparência, com as pessoas vendo que a gente está correndo atrás, buscando fazer a coisa acontecer. Às vezes, com os casos específicos de quem tem pensão, aluguel, tira do bolso para ajudar, vê outras pessoas ajudando, tem que ser uma comunhão de esforços muito grande", disse.

"Quem está no Cruzeiro, está por amor, está porque quer. Eu faço analogia, eu não deixo de advogar para empresa que não me paga, para pessoa física que não me paga. A gente tem que ir com carinho e dedicação, porque o meu prazer é advogar. A pessoa está ali, tem o direito de ficar chateado e exigir, mas o que a gente busca é isso, ter transparência dizendo que vai atrasar, a previsão é tanto, isso que estamos fazendo. Eles estão vendo que a gente corta na carne todo dia a despesa (...) Quando eles veem esse esforço nosso, que a gente está buscando acontecer, o tamanho do Cruzeiro e a paixão por estar trabalhando lá, acaba que eles topam entre aspas ser cobrados, mas não deixam [de se] dedicar por isso", justificou.

Ação Civil Pública

O Ministério Público do Trabalho instaurou um inquérito em 2019 após denúncias de não pagamento de salários para os empregados do Cruzeiro. Intimado a apresentar documentos por mais de seis vezes, o clube não comprovou quitações de suas obrigações e, por isso, foi punido. A situação econômica da Raposa, que deve mais de R$ 1 bilhão —segundo dados contábeis—, foi levada em conta no momento da aplicação da multa pecuniária por parte do MPT (R$ 100 mil). Inicialmente, o pedido de punição era para cobrar R$ 10 milhões.

No inquérito, o MPT apontava, justamente, que o Cruzeiro atrasava salários de funcionários com salários baixos "que dependem do pagamento em dia para honrar as despesas de seu próprio sustento e de suas respectivas famílias", destacou, citando o descumprimento do artigo 459 da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), que aponta: "quando o pagamento houver sido estipulado por mês, deverá ser efetuado, o mais tardar, até o quinto dia útil do mês subsequente ao vencido". Fato que não tem acontecido há mais de um ano.

Em imensa dificuldade para quitar compromissos, o Cruzeiro pagou atrasado nos últimos meses o salário de funcionários que recebem até R$ 3 mil por mês. O clube diz que esses profissionais representam quase 70% de sua folha administrativa.

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