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Luan conta como foi de quase dispensado a herói do título no São Paulo

Thiago Fernandes

Do UOL, em São Paulo

25/05/2021 04h00

Luan foi autor de um dos gols que garantiram o título paulista do São Paulo no último domingo (23), no Morumbi. O volante deixou o campo como herói do clube na final contra o Palmeiras. E pensar que, em 2020, durante a passagem de Fernando Diniz pelo banco de reservas, quase deixou o Tricolor paulista no mercado da bola.

Por causa da formação adotada pelo ex-treinador, com Daniel Alves, Tchê Tchê e Gabriel Sara no meio, Luan perdeu espaço na temporada passada. Com poucas chances do início do ano até a 13ª rodada do Brasileirão, em meados de outubro, o jogador era visto como carta fora do baralho no CT da Barra Funda. No fim de setembro, ele chegou a se reunir com o seu estafe a fim de discutir uma negociação. A situação, porém, foi solucionada, e o atleta voltou a ter chances na equipe.

De 7 de outubro em diante, sempre atuou como titular do São Paulo —em geral na vaga de Tchê Tchê—, se ausentando somente por ser poupado pela comissão técnica, e o time cesceu com ele. Em 2021, ganhou prontamente a confiança de Crespo e manteve a condição, sendo inclusive decisivo em uma final.

No dia seguinte ao título do Paulistão, Luan atendeu à reportagem do UOL Esporte e explica como foi a trajetória desde a possível saída até o gol contra o Palmeiras, no último fim de semana.

"Naquele momento, eu não vinha jogando, não era utilizado pelo Diniz. Acabou saindo umas matérias de que eu poderia sair do São Paulo, fiquei um pouco triste, porque não queria sair daquela forma, não pensei em sair, mas graças a Deus eu consegui voltar ao normal, voltei ao time. Infelizmente, não conseguimos o título brasileiro, mas foi importante retomar o meu futebol. Terminamos bem o Brasileiro, com classificação direta para a Libertadores", disse Luan, que ainda falou sobre o gol anotado no Choque-Rei:

Luan comemora gol pelo São Paulo contra o Palmeiras, pela final do Paulista, no Morumbi - Marcello Zambrana/AGIF - Marcello Zambrana/AGIF
Luan comemora gol pelo São Paulo contra o Palmeiras, pela final do Paulista, no Morumbi
Imagem: Marcello Zambrana/AGIF

"Se recordar o gol do Palmeiras contra a gente no Brasileirão, a bola desvia em mim. Eu achei que a gente tinha perdido o título ali, chorei muito, fiquei muito triste. Deus, meus companheiros de equipe, meus amigos e minha família me ajudaram muito naquele momento. Agora, do mesmo jeito, eu chutei, consegui o desvio e fiz o gol para ajudar o São Paulo a voltar a ser campeão".

O gol na final contra o Palmeiras foi apenas o segundo de Luan como profissional. Em 101 partidas pelo clube, o volante estufou as redes adversárias em duas oportunidades, ambas em 2021. Ele também fez contra o Sporting Cristal (PER) na primeira rodada do Grupo E da Libertadores. A nova faceta (um pouco mais) ofensiva é um pedido do comandante, de acordo com o meio-campista.

Desde a chegada do professor Hernán Crespo e toda a comissão técnica, eles me passam muita confiança, acreditam no meu futebol, que vem crescendo cada vez mais com isso. Eles me dão liberdade para chegar na hora certa para finalizar. Ele está sabendo me mostrar esse equilíbrio dentro de campo. Graças a Deus, estou tendo esse equilíbrio em campo e espero render muito mais."

"O futebol de hoje em dia, o futebol moderno exige que o volante não seja apenas marcador, eu venho trabalhando todo dia para isso, treino, pós-treino, eu tento melhorar a minha finalização, o meu passe, eu tenho que melhorar cada vez mais nesses fundamentos. Com a chegada do Crespo, acabou mudando muito. A comissão técnica dele também me passa total confiança", acrescentou Luan.

Em um bate-papo de quase 30 minutos, o jogador falou sobre o fim do jejum são-paulino, as horas de sono após a final, a boa relação com Liziero e muito mais. Confira, abaixou, outros trechos da entrevista exclusiva de Luan ao UOL Esporte:

Luan celebra gol pelo São Paulo contra Palmeiras, pela final do Paulista, no Morumbi - Marcello Zambrana/AGIF - Marcello Zambrana/AGIF
Luan celebra gol pelo São Paulo contra Palmeiras, pela final do Paulista, no Morumbi
Imagem: Marcello Zambrana/AGIF

Fim de jejum

"É uma honra participar desse grupo de jogadores, comissão técnica, com todos os envolvidos no CT. Consegui colocar o meu nome na história do São Paulo, conseguimos tirar o São Paulo dessa fase de anos sem ganhar título. É uma satisfação incrível".

Quase não dormiu após final

"Eu dormi umas duas, três horinhas, mas já estou on-line de novo. Tenho que aproveitar, mas é como o Miranda disse, já temos que nos recuperar, porque na terça-feira tem Libertadores. A gente tem que trabalhar".

Esquema com três zagueiros

"É diferente do esquema que vínhamos jogando, mas a nossa equipe está muito bem, conseguiu entender a proposta do professor Crespo. A nossa equipe está em uma constância muito boa para conseguirmos os nossos objetivos na temporada".

Sintonia com Liziero

"A relação de nós, jogadores da base, de Cotia, é muito boa. A gente jogava junto desde a base. A gente já sabe onde o outro vai estar. E tem ajudado muito também a nossa parceria fora de campo".

Relação com o São Paulo

"O São Paulo é praticamente tudo na minha vida, estou desde os 11 anos nesse clube, sou torcedor são-paulino, é o clube que abriu as portas para mim. Vi meu sonho se realizar ao chegar ao profissional. Meu sonho era ganhar o título. Eu não iria sossegar enquanto não pudesse retribuir com um título ao São Paulo. Graças a Deus, eu pude retribuir um pouco com esse título".

Ações no Morro Doce

"De onde eu vim, na favela, no Morro Doce, eu sei que é sofrido, tem muitas pessoas carentes. Desde pequeno, eu tinha esse sonho dentro de mim. Não tenho condições de montar um instituto hoje, mas se um dia eu tiver e puder montar uma parceria, meu sonho é ter um instituto parecido com o do Neymar. Eu sei o quão é importante ganhar uma camisa, uma chuteira, uma cesta básica. Hoje, o pouco que consigo fazer, com camisetas, chuteiras e cestas, eu tento transformar tudo em cesta básica para as crianças carentes da minha comunidade. O pouco que consigo eu tento ajudar".

Relação entre Crespo e elenco

"O professor Crespo e toda a sua comissão, desde que chegaram, trouxeram uma forma de trabalho diferenciada. Essa parte da intensidade nos treinamentos que eles cobraram para a gente veio resultando nos jogos. A parte tática também, desde que ele chegou, falou que a equipe teria um padrão de jogo. Às vezes, ele troca dez jogadores, e a equipe mantém o padrão de jogo, a equipe sabe o que fazer. Ele fala que não há 11 titulares, são mais de 23. Se saírem dois, três, a equipe permanece do mesmo jeito. Ele se preocupa muito com a parte tática e vem dando certo".

Protagonismo com Crespo

"O Crespo e toda a sua comissão, desde que chegaram, falaram que o São Paulo tinha que voltar ao topo. Se não for campeão, teria que brigar pelo título. Uma equipe como o São Paulo, muito grande, tem que brigar por mais objetivos em todas as competições. O Paulista só abriu o caminho para outras coisas na temporada".

Casemiro é ídolo

Casemiro é ídolo de Luan, volante do São Paulo - Reprodução/Instagram - Reprodução/Instagram
Casemiro é ídolo de Luan, volante do São Paulo
Imagem: Reprodução/Instagram

"Meu ídolo na posição é o Casemiro, meu ídolo no futebol. É um cara que admiro e procuro aprender com ele dentro e fora de campo. Recentemente, ele deu entrevista e disse que o jogador não é apenas nas quatro linhas, mas fora de campo também. Eu costumo aprender com ele fora de campo também. Ele é um dos melhores do mundo".

Sonhos no futebol

"Meu sonho é chegar à seleção brasileira olímpica, acabei não sendo convocado. Se pintar a oportunidade de estar na lista final, vou aproveitar. Respeito a decisão do treinador".

São Paulo candidato aos títulos

"Com certeza, o São Paulo sempre foi e sempre será candidato a buscar as primeiras colocações nos campeonatos. O que faltava era conquistar um título. Ganhando esse Paulista, volta a confiança, a torcida volta a acreditar na gente. Isso abre caminho para a gente buscar títulos de outros campeonatos".

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