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Presidente do Cruzeiro acusa Palmeiras de 'imoralidade' no caso Messinho

Sérgio Santos Rodrigues demonstra mágoa com dirigentes do Palmeiras após saída de Messinho ao clube paulista - Igor Sales/Cruzeiro
Sérgio Santos Rodrigues demonstra mágoa com dirigentes do Palmeiras após saída de Messinho ao clube paulista Imagem: Igor Sales/Cruzeiro

Guilherme Piu

Do UOL. em Belo Horizonte

24/05/2021 16h57

A saída do promissor Estevão Willian das categorias de base do Cruzeiro, assunto adiantado pelo UOL Esporte, ainda ecoa nos bastidores do clube. E o presidente Sérgio Santos Rodrigues categorizou como "imoralidade" o que fez o Palmeiras na condução do convite ao jovem atleta.

Logo ao completar 14 anos — momento em que poderia amparado pela lei assinar seu primeiro contrato de formação —, "Messinho", como o menino ficou conhecido, deixou o Palestra mineiro e acertou com a equipe paulista.

"A gente sempre bateu na tecla, não de ilegalidade, porque não houve, mas de imoralidade, porque isso, com certeza absoluta [aconteceu]. Sempre tivemos ótima relação com o Palmeiras, principalmente com o diretor da base [João Paulo], eu pessoalmente tinha uma relação pessoal com ele, já o conhecia há muito antes de estar no Palmeiras. Então surpreende que ainda tem gente no futebol que aja desta forma. Poderia ter sido feita uma conversa amigável para que a coisa não desenrolasse para a forma que ela desenrolou", criticou o mandatário cruzeirense em entrevista à TV Globo.

No dia 6 de maio o UOL publicou a carta de despedida que o pai de Estevão Willian, o senhor Ivo Gonçalves, publicou como despedida ao torcedor do Cruzeiro. Neste documento o responsável legal pelo atleta disse que teve várias reuniões com a diretoria celeste e inúmeras promessas não cumpridas por parte da Raposa.

Conflito

O Cruzeiro emitiu nota na ocasião e refutou tais declarações do pai de Estevão, inclusive expondo uma lesão sofrida pelo menino no começo de março de 2021 — fratura no tubérculo anterior da tíbia —, cujo tratamento teve início nas dependências do Cruzeiro. Já no começo de maio o garoto, ainda de acordo com a atual diretoria da Raposa, não mais apareceu no clube.

"Provavelmente ele usou a nossa estrutura com contrato já assinado com outra equipe. Então, a gente fica muito chateado, e isso mostra algumas coisas que precisam mudar no rumo do futebol brasileiro - disse Sérgio Rodrigues no trecho da entrevista divulgada pelo GE.

Estevão Willian assinou contrato de três anos com o Palmeiras. Nos bastidores se falou numa negociação que teria garantido R$ 2 milhões como luvas aos pais do jogador, que chegou a negar tal valor.

A relação atletas e empresários também foi motivo e críticas por parte do presidente do Cruzeiro.

"Primeiro, acho que aos atletas tem que entender até que ponto a ascendência do empresário tem que ir na vida deles, ainda mais sendo menor de idade. Um pai teria que pensar nisso para um filho. E essa questão de você investir em uma formação e não ter garantia nenhuma de acordo com a lei brasileira. São coisas que nos fazem repensar, e até a forma da abordagem em cima dele. Não é uma forma que jamais a gente faria", opinou Rodrigues.

Outro lado

O UOL, anteriormente, havia procurado o Palmeiras para dar sua versão no caso. Em entrevista recente, o gestor da base palmeirense confirmou que o atleta foi oferecido ao clube por "estar livre".

"Eu estava na Argentina, na última quarta-feira, acompanhado a delegação do profissional [que jogava com o Defensa y Justicia, pela Libertadores], e recebi uma ligação oferecendo o garoto para mim. Me disseram que ele estava livre e que o pai dele preferia o Palmeiras porque o Palmeiras tem uma ótima estrutura, tem o maior número de jogadores nas seleções de base, não cortou salários dos funcionários durante a pandemia, por tudo isso, ele escolhia o Palmeiras", disse João Paulo Sampaio, em contato com o UOL no início de maio.

O departamento de futebol de base do Alviverde, sabendo que o atleta tinha enorme potencial, checou a situação jurídica de Estevão e viu que seria possível assinar o contrato não profissional, como já foi feito e registrado na CBF.

Ele [Estevão Willian), estava livre, qualquer clube poderia pegar. Sou profissional, tenho que pegar os melhores jogadores, e foi o que eu fiz", completou o dirigente.

Sobre o aliciamento, que o Cruzeiro chegou a cogitar no caso Messinho e Palmeiras, desde 2014, um movimento dos coordenadores das categorias de base dos clubes brasileiros tenta resolver questões de troca de clubes pelos jogadores, de uma maneira informal. João Paulo Sampaio, porém, citou ainda que o Cruzeiro não está em condições de pleitear essa ajuda.

"Nos protegemos os clubes nos casos de trocas de jogadores antes dos 14 anos. Mas para isso, o clube tem de estar em dia com o Certificado de Clube Formador, emitido pela CBF. O do Cruzeiro está vencido desde agosto", argumentou Sampaio. De fato, no site da CBF, o Cruzeiro não aparece entre os clubes com o Certificado de Clube Formador atualizado.