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Paulista - 2021

Limitado pela covid, técnico perde emprego: "não há protocolo 100% seguro"

Paulo Roberto Santos durante partida entre Santo André e Santos no Canindé, em 28 de fevereiro, antes de pegar covid - Ettore Chiereguini/AGIF
Paulo Roberto Santos durante partida entre Santo André e Santos no Canindé, em 28 de fevereiro, antes de pegar covid Imagem: Ettore Chiereguini/AGIF

Gabriel Carneiro

Do UOL, em São Paulo

30/04/2021 04h00

O Santo André promoveu ontem (29) a estreia de Márcio Fernandes como seu novo técnico em jogo atrasado da sétima rodada do Campeonato Paulista. Dois dias antes, havia anunciado a saída de Paulo Roberto Santos do cargo alegando "impossibilidade clínica do exercício de suas funções". É que mesmo recuperado de covid-19 após mais de uma semana hospitalizado em março, o treinador ainda tem limitações e faz tratamento.

A doença fez Paulo Roberto perder muito peso e ter que passar por sessões de fisioterapia. Por isso, médicos não liberaram que ele trabalhasse à beira do campo ou mesmo dando treinos. Após quatro jogos sem vitória com seu auxiliar Alan Dotti no comando e ele só nas tribunas, perdeu o cargo. Segundo a nota do Santo André, "em comum acordo".

Ele começou com sintomas em 15 de março, se internou no dia 23 já com 50% de comprometimento de pulmões e precisou receber oxigênio ao longo de alguns dias. Teve alta hospitalar no dia 31, mas o quadro ainda inspirava cuidados. Pneumologistas orientaram o afastamento do trabalho por 20 dias e depois mais 15, além de uma série de exames para evitar novas sequelas.

"Eu dava uma assessoria nos treinamentos, mas sem assumir o trabalho. Fazíamos um planejamento pela internet e o Alan comandava. A gente percebia que pela situação do time tinha necessidade que eu ficasse no banco de reservas, mas eu estava impossibilitado. Relatei isso, trouxe para o clube os laudos médicos e coloquei na mão deles [dirigentes], deixando claro que eu cumpriria a recomendação médica para não ter problemas mais na frente. Depois de outra derrota concluímos que era o melhor para o clube trocar e o melhor para mim a dedicação integral à recuperação", detalha Paulo Roberto Santos, ao UOL Esporte.

Paulo Roberto - Reprodução/Facebook - Reprodução/Facebook
Paulo Roberto Santos após alta hospitalar, em 1º de abril, visivelmente mais magro
Imagem: Reprodução/Facebook

À frente do Santo André, Paulo Roberto liderou a primeira fase do Paulistão de 2020 até a paralisação pela pandemia do coronavírus. Na retomada, a equipe avançou na segunda posição B, mas acabou eliminada pelo campeão Palmeiras nas quartas de final. Neste ano a situação foi diferente: eram apenas seis pontos em oito jogos e a lanterna do Grupo A, com chances reais de rebaixamento.

Diante da tragédia da pandemia, que já bateu 400 mil mortos no Brasil, ele não poupa críticas aos governantes e também à falta de segurança da realização de jogos de futebol.

"Desde quando surgiu esse vírus, ano passado, nossos governantes preferiram fingir que não sabiam de nada até estourar a primeira onda. Depois que estourou houve um certo menosprezo e também omissões em relação a isso, aí entrou a politicagem", diz, antes de completar:

Com relação ao futebol, se falou muita coisa que não é verdade. Não existe protocolo 100% garantido, 100% seguro, em relação ao coronavírus no futebol. O contato que temos com as pessoas, cada uma de um lugar que você não sabe onde passou antes, é muito grande, principalmente quando viajamos e ficamos em hotel. Fomos jogar contra Ponte Preta e Red Bull Bragantino e nos hospedamos num hotel perto de 40 pessoas. Mas circulando no hotel, em restaurante e elevador, tinha umas 150 a 200 pessoas. Quem te garante que todos estão negativados? Houve uma pressa muito grande para se voltar o futebol."

Já fora do Santo André, Paulo Roberto fez novos exames ontem. Ele receberá os resultados na segunda-feira e espera ser liberado para atividades normais até o fim da semana que vem. Diz que a recuperação está boa, sem fraqueza, apesar de não estar fazendo as coisas "com a mesma intensidade de antes". Bem diferente do que foi no mês passado.

Santo André - Guilherme Videira - Guilherme Videira
Time do Santo André organizado antes de jogo contra o Novorizontino, em 20 de abril
Imagem: Guilherme Videira

"Eu fiquei realmente mal por dois dias no hospital. Foi preocupante meu estado, foram dias terríveis, mas, graças a Deus, segundo os médicos, reagi bem à medicação."

Ele quer voltar ao trabalho como treinador assim que receber o 'ok' dos médicos: "Semana passada surgiram duas propostas, mas não assumimos. A ideia é assim que aparecer algo interessante, em que eu vislumbre fazer um bom trabalho, retomar."