Micale detalha sucesso no exterior e como Carille o ajuda em adaptação
Rogério Micale foi anunciado como técnico do time principal do Al-Hilal, da Arábia Saudita, em fevereiro passado. Em três jogos, obteve 100% de aproveitamento e conduziu a equipe à liderança da Primeira Liga Saudita. Em sua ascensão meteórica no clube asiático, contou com o auxílio de compatriotas que residem no país para se firmar. Fábio Carille, técnico do Al-Ittihad, e Péricles Chamusca, do Al-Faisaly, conversam frequentemente com o campeão olímpico pela seleção brasileira em 2016.
Em entrevista exclusiva ao UOL Esporte, Micale explicou o sucesso rápido com as cores do Al-Hilal e ainda apontou os seus objetivos à frente do novo clube.
"Sucesso e fracasso no futebol estão muito ligados à qualidade de elenco e atletas que você tem para trabalhar. Aqui, dentro do cenário asiático, nós temos um elenco muito forte, um elenco muito bom. Todo estímulo que você dá para jogadores de qualidade, é muito mais fácil para trabalhar. Não estavam acostumados com isso, é um clube que está acostumado só a vencer, e aqui tem que ganhar, não há outra forma. Quando você tem jogadores de qualidade, qualquer estímulo que você dá, a absorção é muito mais rápida. O Al-Hilal é muito tranquilo, assim como foi a seleção olímpica. O estímulo é muito rapidamente absorvido dentro do estilo de jogo que você quer. A gente espera continuar com essa ascensão. Temos desafios gigantes e esperamos sucesso", comentou.
"Eu sonho em ser campeão do campeonato saudita, seria um momento de alegria e satisfação e também sonho com o título da Champions Asiática. Temos um bom time na mão, grandes jogadores. É sonhar o mais alto possível, não é um sonho por sonhar. É um sonho com possibilidades reais. Meu sonho é chegar até junho com esses dois títulos, que seriam muito importantes para o Al-Hilal e para a minha carreira", acrescentou.
Micale apontou ainda a contribuição de seus colegas de profissão brasileiros que estão no país. O técnico admite que não consegue encontrá-los em meio ao calendário apertado por causa da pandemia do novo coronavírus. No entanto, conta que costumam conversar sobre a adaptação ao país.
"Há particularidades que só existem aqui. Culturalmente, é bem diferente do que estamos adaptados. Eu liguei para o Carille, a gente conversou muito, eu falo muito com o Chamusca, que tem um tempo maior aqui. Encontrar é um pouco difícil neste momento, porque os jogos acontecem a cada cinco dias. O próprio time do Carille joga a Copa, mas a gente está conversando e se ajudando, tem que ser dessa forma. A gente tem que conversar e, dentro do possível, ajudar um ao outro, sobretudo em relação à adaptação", completou.
Na primeira entrevista exclusiva concedida após a sua chegada ao Al-Hilal, Rogério Micale falou ainda sobre a vacinação contra a covid-19 na Arábia Saudita, contou sobre a tempestade de areia enfrentada durante o passeio em um shopping center e o que espera de sua passagem pelo Al-Hilal. Confira, abaixo, o bate-papo com o treinador:
INÍCIO NA ÁRABIA SAUDITA
"Eu tive algumas oportunidades de sair, mas eu queria muito realizar um trabalho no Brasil, o que infelizmente não consegui. Existia uma procura e algumas possibilidades. Acabou que, neste momento, o Al-Hilal estava com um projeto de sequência de trabalho no clube. Eu vim para dirigir a equipe B, mas dirigi dois jogos e tive a possibilidade de subir. A gente estava em uma situação mais difícil na competição, apesar de o time ter vários resultados positivos no ano passado. A gente conseguiu retomar a liderança no último compromisso, quando eu assumi a equipe, a gente estava em terceiro, quarto lugar. Conseguimos uma sequência de três vitórias, sendo duas fora de casa, e recuperamos a liderança. Dos três primeiros, dois são brasileiros".
HISTÓRIA DOS BRASILEIROS NO PAÍS
"Por incrível que pareça, o Al Hilal talvez seja um dos poucos times que não tenha um brasileiro. Não temos jogadores e nem membros da comissão técnica. É uma particularidade, porque sempre tivemos brasileiros no time. O time do Carille mesmo tem três, tem o Grohe, o Romarinho e o Bruno Henrique. Aqui, a gente é um dos poucos do país que não conta com brasileiro neste momento".
VACINAÇÃO CONTRA A COVID-19
"É uma questão de saúde pública, não é só do clube, é do país. Eu fiquei muito feliz quando recebi, tudo muito organizado, o controle é muito rígido, muito interessante. Gostaria que isso fosse feito no nosso país, a gente ouve falar as coisas do Brasil e fica chateado. Eu gostaria que o nosso país pudesse oportunizar a população algo que a Arábia Saudita permite aos seus habitantes. Estou feliz, mas preocupado ao mesmo tempo, porque a minha família está no Brasil, só minha esposa veio comigo para a Arábia Saudita. Feliz, mas com o sentimento triste por não conseguirmos isso no Brasil, ter esse controle. É uma pena, e a gente vê o nível de mortes muito alto aí. A gente se preocupa, a gente tem notícias de amigos nossos que estão em UTI, em momento grave. É uma mistura de sentimento. Você toma a vacina, apesar de eu já ter tido covid-19, mas por que a gente não se organizou melhor para evitar tantas mortes?".
TEMPESTADE DE AREIA
"Passei por uma tempestade de areia aqui. Parece aquela cena de filme, coisa de cinema. A gente vê aquela onda vindo e, de repente, não vê mais nada. Do nada, vem aquela nuvem. A gente estava avisado, todo mundo sabia que isso iria acontecer, mas é surreal, é muito diferente para a gente. Veio aquela poeira, a areia vindo e você não consegue enxergar mais nada. Eles são muito preparados para isso, mas a gente que é de fora não. A cultura aqui é diferente do que estamos acostumados, eles fazem oração cinco vezes ao dia. É tudo muito diferente do que a gente está acostumado. Na verdade, assim, tem toda a questão de viver dele. O hábito aqui é dormir muito tarde e acordar mais tarde também. O chamamento que eles têm aqui, você escuta o pessoal chamando para a oração deles. É uma cultura diferente da que a gente está acostumado, mas é interessante se inserir nisso e respeitar. A receptividade deles em relação ao brasileiro é uma coisa incrível. Moro em um condomínio internacional, com hábitos internacionais. A gente está vendo que muita coisa tem sido feita, é um país muito interessante".
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