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Torcedor do Corinthians preso deixou mulher grávida para brigar em clássico

Torcedores de Corinthians e Palmeiras entram em confronto na zona sul de São Paulo após Dérbi - Reprodução
Torcedores de Corinthians e Palmeiras entram em confronto na zona sul de São Paulo após Dérbi Imagem: Reprodução

Paulo Eduardo Dias

Colaboração para o UOL

08/03/2021 09h30

O torcedor alvinegro Francarlos das Neves da Silva, de 32 anos, preso sob a acusação de tentativa de homicídio, lesão corporal e tumulto após, segundo a polícia, ter participado da briga entre palmeirenses e corintianos na noite de quarta-feira (3), na Avenida Maria Coelho Aguiar, no Jardim São Luís, zona sul da capital paulista, deixou sua esposa grávida sozinha no momento do confronto.

Tal informação sobre a gestação da mulher dele consta no pedido apresentado por sua defesa na tentativa de aliviar o pedido de prisão preventiva. A Justiça e o Ministério Público não levaram em consideração a justificativa, o que o manteve detido. Em documento assinado na última sexta-feira (5), a então defensora do motorista, Jandisleia Gomes da Silva, escreveu que "a esposa do acusado está grávida, e por sinal, uma gestação de alto risco, e a mesma depende inteiramente do acusado para a sua subsistência, bem como seu apoio emocional".

De acordo com outro documento médico apresentado, a mulher está com aproximadamente 20 semanas de gestação. O atual defensor de Silva, o advogado criminalista Renan Bohus, sustentou que o nascimento do terceiro filho do corintiano está previsto para julho. Além da mulher com gestação de risco, a família do homem preso convive com o pai dele fazendo tratamento contra um câncer.

"Essa penalidade acaba se estendendo a toda família. Dão a conotação de criminoso por um crime que ele não cometeu". Para Bohus, Silva deveria ser enquadrado apenas por tumulto.

Segundo o boletim de ocorrência, Francarlos das Neves da Silva foi preso pelos policiais militares soldados Yasmin Vieira e Melchisedec da Silva, ambos da 3° Companhia do 1° Batalhão de Polícia Militar, na tarde de quinta-feira (4), na Ponte João Dias. Na versão dos PMs, o corintiano "se encontrava dirigindo o automóvel marca Chevrolet, modelo Montana, placas DWR7F42, o qual foi identificado como sendo o veículo suspeito de ser utilizado como instrumento (carregava barras de ferros) para a viabilizar a briga generalizada envolvendo as torcidas do Corinthians e Palmeiras".

O ponto da abordagem fica a poucos metros do confronto ocorrido na noite anterior, que teve como saldo cinco feridos, entre ele um baleado, que segue internado no Hospital do Campo Limpo, na zona sul da capital. Conduzido ao 47° DP (Capão Redondo), mesma unidade que havia elaborado o registro da briga, Silva confirmou que armazenou no automóvel as barras de ferro usadas pelos corintianos no confronto com os palmeirenses.

Silva afirmou que, após um dia de trabalho, pegou o carro da empresa e seguiu para encontrar outros torcedores do seu time para assistir ao clássico no Feirão do Jardim São Luís. Ainda segundo seu depoimento, "após o encerramento da partida, consentiu que os torcedores colocassem barras de ferro no automóvel, combinando de deixar o material no posto de combustível localizado na Avenida Maria Coelho de Aguiar". O homem apontou que "sabia que o material seria utilizado na briga a ser travada com a torcida do Palmeiras".

Ao UOL, Bohus contou que seu cliente estava "assistindo ao jogo e houve um burburinho que teria uma possível emboscada da torcida do Palmeiras, então eles se prepararam com pedaços de madeira [para uma possível defesa]. Como ele estava com uma Montana, o pessoal deixou esses pedaços de madeira no carro dele. A versão dele é que não participou diretamente da briga, apenas armazenou as madeiras no veículo dele".

No entanto, para a Polícia Civil, ele participou do confronto, sendo responsabilizado pela tentativa de homicídio contra Lucas Belisse, 32, baleado na barriga, e lesão corporal nos também palmeirenses Thiago Henrique Feliciano, 31, e Thiago Amorim de Melo, 36. Silva também foi indiciado por promover tumulto.

Lucas e Thiago Henrique seguem internados no Hospital do Campo Limpo, segundo a Secretaria Municipal da Saúde. O órgão informou que não tem autorização da família para fornecer o quadro clínico deles. Além deles, os corintianos Hugo Lima de Souza, 26, e Vagner Barros Silva, 30, também passaram pela unidade de saúde, mas já foram liberados.

"A prisão dá em decorrência do baleado, mas ele não é preso com arma, e sequer foi feito exame residuográfico nele. Estão capitulando nele o crime de tentativa de homicídio, mesmo ele sem arma. Se ele tem que responder, que responda pelo crime de tumulto, que é previsto no Estatuto do Torcedor, onde a conduta dele estava enquadrada", explicou Renan Bohus.

Segundo o advogado, ele vai ingressar ainda hoje com um pedido de reconsideração da prisão, além de que seja explicadas as circunstâncias da detenção, que em sua visão ainda não estão totalmente esclarecidas.