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Crespo terá ao menos cinco desafios ao assumir como técnico do São Paulo

Hernán Crespo, ex-treinador do Defensa y Justicia, será o novo treinador do São Paulo no mercado da bola - Alejandro Pagni - Pool/Getty Image
Hernán Crespo, ex-treinador do Defensa y Justicia, será o novo treinador do São Paulo no mercado da bola Imagem: Alejandro Pagni - Pool/Getty Image

Thiago Fernandes

Do UOL, em São Paulo

12/02/2021 04h00

Hernán Crespo e sua comissão técnica estão apalavrados com o São Paulo. Uma vez que o contrato seja assinado, os argentinos terão uma série de desafios pela frente para montar o time.

Com o clube em meio a uma crise — tanto financeira como técnica —, Crespo se tornou uma alternativa para recuperar a equipe depois de um ano que parecia promissor, mas tende a terminar com a extensão do jejum de títulos. Ao mesmo, ele não custaria tanto como outros profissionais europeus procurados pela diretoria.

O ex-centroavante terá ao menos cinco situações para resolver nos bastidores do Morumbi ao lado de outros membros do departamento de futebol a partir do início de seu trabalho, que ainda não tem data prevista.

O UOL Esporte faz uma lista com o que demandará a atenção do futuro comandante são-paulino e sua equipe, que contará com outros cinco membros durante a passagem pelo CT da Barra Funda. Confira, abaixo, o que o estrangeiro terá que resolver no cotidiano do Tricolor paulista:

Falta de confiança e falha de líderes

Tiago Volpi cometeu erro em empate por 1 a 1 contra o Ceará - Marcello Zambrana/AGIF - Marcello Zambrana/AGIF
Tiago Volpi cometeu erro em empate por 1 a 1 contra o Ceará
Imagem: Marcello Zambrana/AGIF

O São Paulo sofreu queda brusca de rendimento desde a eliminação na semifinal da Copa do Brasil 2020 para o Grêmio. Com a derrota para os gaúchos na soma dos placares, o time então comandado por Fernando Diniz perdeu confiança e sofreu um abalo emocional nos jogos do Campeonato Brasileiro.

Ainda sob a batuta do antigo treinador, em 21 de janeiro passado, Juanfran admitiu que o elenco se abateu com o tropeço diante dos gremistas na semifinal da Copa do Brasil.

"São momentos complicados. Foi um jogo muito ruim de tudo, a cabeça não está boa depois da eliminação para o Grêmio. É o mesmo que acontece quando você perde um familiar, tem um momento ruim na vida pessoal, na vida profissional, falo de coração", disse logo após a goleada por 5 a 1 para o Internacional.

Desde a queda no torneio de mata-mata, o São Paulo viu o rendimento despencar também no Brasileirão. O time chegou à sétima partida sem vencer com o empate por 1 a 1 diante do Ceará, na última quarta-feira (10). Ao todo, são quatro derrotas e três empates.

O rendimento abaixo no Brasileirão coincide também com as falhas de alguns principais líderes do elenco, como Daniel Alves e Tiago Volpi.

O veterano de 37 anos foi quem falhou nas derrotas para Red Bull Bragantino e Santos. No primeiro, ele deixou uma bola escapar na intermediária defensiva e viu o time adversário estufar a rede com Claudinho. No clássico, deu espaço para o setor de criação do visitante marcar com o volante Jobson.

Tiago Volpi cometeu erro na saída de bola diante do Ceará, na quarta-feira, e deixou Léo Chú em condições de conduzir na grande área para estufar a rede.

Elenco se tornou curto com Diniz

Recuperar o que está disponível é fundamental. Uma vez que, depois da chegada de Fernando Diniz ao Morumbi, uma de suas decisões foi encurtar o elenco. Depois de ter investido muito na temporada 2019, o clube só fez uma contratação durante a passagem do técnico: a chegada do atacante Luciano, trocado pelo meia Everton, em acordo com o Grêmio.

O movimento de saídas no mercado da bola foi maior. Antony e Brenner foram negociados para o futebol do exterior. O primeiro deixou o clube ao se acertar com o Ajax, da Holanda, enquanto o segundo foi recentemente vendido ao FC Cincinnati, dos Estados Unidos.

O atacante Helinho foi emprestado ao Red Bull Bragantino. Calazans, Shaylon, Júnior Tavares, Everton Felipe, Jean e Lucas Kal também foram emprestados. Alexandre Pato, Léo Natel, Anderson Martins e Bruno Rapanelli deixaram o clube de forma gratuita, rescindindo os seus contratos.

Com a decisão de promover algumas saídas no mercado da bola, o São Paulo passou a ter 31 atletas no elenco profissional. No entanto, a antiga comissão técnica costumava utilizar no máximo um grupo de 18 jogadores. Alguns nomes ficaram fora dos planos e tiveram poucas chances — casos dos goleiros Lucas Perri, Thiago Couto e Junior, o lateral Patryck, o zagueiro Rodrigo, o meio-campista Joao Rojas e os atacantes Gonzalo Carneiro e Tréllez.

Em sua chegada ao Morumbi, Crespo está ciente da situação do vestiário são-paulino.

Restrições orçamentárias e uso da base

A comissão técnica argentina vai precisar ter em mente que, diante do exposto acima, uma grande barreira a ser contornada em 2021 será a restrição orçamentária. Em contenção de despesas para se manter saneado, o clube prevê um gasto de R$ 115,2 milhões em aquisições, salários e intermediações. O valor é considerado tímido para a elite do futebol brasileiro.

O São Paulo, portanto, pretende utilizar ainda mais as divisões de base. Na atual temporada, alguns jogadores das categorias inferiores se tornaram peças fundamentais no elenco profissional. O zagueiro Diego Costa, o volante Luan, os meias Gabriel Sara e Igor Gomes e o atacante Brenner, recentemente negociado para o FC Cincinnati, foram constantemente acionados pela antiga comissão técnica. O volante Rodrigo Nestor e o atacante Jonas Toró também foram utilizados, mas com menos frequência que os demais.

Crespo contará com o apoio de membros do departamento de futebol — como o diretor Carlos Belmonte Sobrinho, o executivo Rui Costa, o coordenador Muricy Ramalho e o diretor de base Marcos Biasotto — para buscar jovens revelados em Cotia. Há uma expectativa da nova gestão para que essa integração realmente renda mais dividendos ao time e aos cofres num futuro breve.

Diretoria em transição

Pois é, nova gestão. Um dos desafios de Hernán Crespo no São Paulo será iniciar um trabalho ao lado de uma diretoria recém-eleita. Este é o primeiro ano do mandato de Julio Casares como presidente do clube. Ele até já esteve em antigas gestões, mas inicia o trabalho como oposição à antiga administração, de Carlos Augusto Barros e Silva, promovendo mudanças radicais no CT da Barra Funda, onde está situação a gestão do futebol.

O antigo executivo de futebol Raí e o ex-gerente da pasta Alexandre Pássaro deixaram o clube para a chegada de novos gestores. Carlos Belmonte Sobrinho assumiu como diretor de futebol, Muricy Ramalho voltou como coordenador técnico de futebol e Rui Costa se tornou executivo de futebol.

Pressão por uma conquista

São Paulo não vence um título desde 2012, quando faturou a Copa Sul-Americana - Adriano Vizoni/Folhapress - Adriano Vizoni/Folhapress
São Paulo não vence um título desde 2012, quando faturou a Copa Sul-Americana
Imagem: Adriano Vizoni/Folhapress

O São Paulo vive um longo jejum de títulos — já são mais de oito anos sem vencer nem um troféu sequer. A última celebração foi em 2012, quando venceu a Copa Sul-Americana. Antes disso, o time havia conquistado o Campeonato Brasileiro de 2008.

Nas últimas oito temporadas, a equipe não conquistou nem sequer um Campeonato Paulista. A ausência de títulos incomoda a torcida e, sobretudo, o ambiente interno do Morumbi. Os dois últimos mandatários — Carlos Miguel Aidar e Carlos Augusto Barros e Silva, o Leco — passaram em branco. O peso recai sobre as costas do atual presidente, Julio Casares.

Com o intuito de recolocar o São Paulo no caminho dos títulos, o dirigente aposta em um campeão da Copa Sul-Americana pelo Defensa y Justicia: Hernán Crespo. O argentino de 45 anos terá a incumbência de buscar um título pelo Tricolor paulista.

Em seu primeiro ano à frente do São Paulo, o elenco disputará ao menos quatro torneios: Libertadores, Copa do Brasil, Brasileirão e Campeonato Paulista.

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