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Quarentena, aplicativo e até prisão: regras rígidas no Qatar contra a covid

As esteiras do aeroporto internacional de Doha e o vazio em tempos de pandemia - Tiago Leme/UOL
As esteiras do aeroporto internacional de Doha e o vazio em tempos de pandemia Imagem: Tiago Leme/UOL

Tiago Leme

Colaboração para o UOL, em Doha (Qatar)

11/02/2021 04h00

Alguns países do mundo já relaxaram as medidas para conter a pandemia do coronavírus, outros endureceram novamente após um período de abertura. Enquanto isso, o Qatar mantém regras rígidas e com fiscalização severa para evitar qualquer desrespeito da população e o risco dos problemas de saúde aumentarem. Entre as exigências impostas pelo governo qatari, estão a quarentena obrigatória, testes PCR constantes e a instalação de um aplicativo de rastreio no celular, por exemplo. O descumprimento de algumas normas pode levar até à prisão.

A maneira firme como o Qatar trata a covid teve consequências diretas no Mundial de Clubes da Fifa, atrapalhou a presença de público e alterou práticas às quais os times estão acostumados. Mesmo assim, essa rigidez foi motivo de elogios por parte de atletas, treinadores e demais envolvidos no torneio.

Durante a entrevista coletiva desta quarta-feira — véspera da final entre Bayern de Munique e Tigres, que será disputa hoje (11), às 15h (horário de Brasília), e da disputa do terceiro lugar entre Palmeiras e Al Ahly, também hoje, às 12h —, o técnico palmeirense Abel Ferreira e o goleiro Weverton fizeram um balanço positivo do que observaram no Qatar nos últimos dias e compararam com o que acontece no Brasil.

Chegada - Arquivo pessoal/Silvio Arroyo Filho. - Arquivo pessoal/Silvio Arroyo Filho.
Sem aglomeração no desembarque do Palmeiras em Doha
Imagem: Arquivo pessoal/Silvio Arroyo Filho.

"Pelo que vi até agora quanto à organização, não estamos habituados com isso — nem eu como português nem agora nesta cultura brasileira —, não estamos habituados a cumprir as regras. Nós furamos muito as regras. Aqui, eu dou os parabéns, sejam consistentes nessas regras", afirmou o treinador português.

Weverton destacou o sentimento positivo que os cuidados provocam. "Falando pelo lado de atleta, nos sentimos muito seguros. Estamos em um momento de pandemia, uma doença invisível, e desde que a gente chegou temos sentido o máximo de segurança para treinar, para jogar, para conviver com os colegas e as pessoas do hotel. Tem sido algo que, realmente, a gente não está acostumado a viver no nosso dia a dia e tem que dar os parabéns", elogiou. "Eu ainda não peguei a covid e, no Brasil, toda viagem, todo jogo, é um medo de pegar. Aqui, a gente tem essa segurança: vive no hotel com pessoas que são testadas o tempo todo, só tem contato com pessoas que fazem parte da nossa convivência. Isso traz muita segurança e tranquilidade para o nosso trabalho", disse o goleiro alviverde.

Regras rígidas para todos

A delegação do Palmeiras e a de todos os clubes do Mundial estão isoladas em um hotel de luxo de onde só saem nos dias dos jogos, em uma espécie de "bolha" criada pela Fifa. Um exemplo da rigidez do protocolo foi o que aconteceu com dois jogadores do Al Ahly, do Egito. Mahmoud Kahraba e Hussein El-Shahat foram punidos e estão fora do Mundial por terem cumprimentado nas arquibancadas o ídolo egípcio Aboutrika, logo após a derrota na semifinal para o Bayern de Munique, tendo contato com alguém que não estava no isolamento.

O coronavírus também fez o Qatar proibir a entrada de turistas. Com isso, apenas os residentes no país podem ir aos estádios, que tiveram capacidade reduzida a 30%, e tendo sempre de apresentar um teste PCR negativo.

Refeição - Tiago Leme/UOL - Tiago Leme/UOL
Até as refeições são feitas no quarto do hotel em Doha
Imagem: Tiago Leme/UOL

Com as fronteiras fechadas, as pessoas que entram no Qatar são obrigadas a cumprir quarentena de sete dias em hotéis credenciados pelo governo, sem poder sair do quarto antes de receber autorização para circular nas ruas. Mesmo os moradores do país precisam seguir essa exigência quando retornam de viagem ao exterior. Quem não vive no país só pode entrar com uma Permissão de Entrada Excepcional (EEP - Excepcional Entry Permit) concedida em casos específicos, como para jornalistas credenciados pela Fifa para a cobertura do Mundial, caso da reportagem do UOL.

Depois da liberação para sair às ruas, é preciso instalar no celular um aplicativo de rastreio chamado Ehteraz. Ele exibe um código (QR code) que pode ter três cores: verde (para testou negativo para covid), amarelo (para quem está em quarentena) e vermelho (teste com resultado positivo). O acesso a lugares públicos como metrô, hotéis, alguns centro comerciais, restaurantes entre outros estabelecimentos é controlado por seguranças na porta e é preciso exibir o aplicativo com a cor verde para não ser barrado.

De multas até prisão

Descumprir as regras do governo do Qatar pode levar a punições severas, como multas altíssimas e até prisão. Para inibir o desrespeito, as autoridades divulgam os nomes de pessoas que não respeitam a quarentena e vão parar na cadeia. Usar máscara nas ruas é obrigatório, como na maioria dos países do mundo neste momento. Mas, no Qatar, quem for pego sem a proteção pode ser multado em 200 mil rials qataris (cerca de R$ 300 mil) ou ser preso.

Nas últimas semanas, aumentaram os casos de covid no Qatar, o que levou o governo a endurecer ainda mais algumas medidas, mas o número ainda é baixo comparado ao de outros países. Em um país com população de 2,8 milhões de habitantes, na terça-feira (9) foram registrados 477 casos e duas mortes, nesta quarta foram 451 casos e nenhuma morte.